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BB compra 50% do Votorantim e quer o BANESE

10/1/2009

O Globo

Estatal aumenta carteira de crédito e terá mais participação no setor de veículos, mas não supera Itaú Unibanco 

BRASÍLIA. No momento em que o governo quer fortalecer o mercado de crédito, sobretudo no setor de veículos, o Banco do Brasil (BB) finalmente concretizou ontem a parceria com o Banco Votorantim, um dos líderes nesse tipo de financiamento e controlado pela família Ermírio de Moraes. A operação, avaliada em R$4,95 bilhões, ajudará o maior banco estatal do país a se fortalecer no mercado de carros, estratégia adotada há alguns anos e que, na prática, ainda não havia decolado de vez. O negócio, porém, não foi suficiente para levar o Banco do Brasil de volta ao topo entre as maiores instituições financeiras do país, que continua com o Itaú Unibanco. Apesar de ter comprado outras instituições, como o Nossa Caixa, o BB se mantém em segundo lugar.

O negócio afetou a Bolsa de São Paulo. As ações do BB tiveram destaque na sessão de ontem e fecharam em alta de 3,12%, entre as maiores valorizações do dia. A expectativa do mercado era de que o BB iria pagar caro no acordo com o Votorantim, o que não se confirmou. Em relatório assinado pela analista Mônica Araújo, a corretora Ativa considerou o negócio positivo para o BB.

"Acreditamos que a operação está em linha com a estratégia do BB em fortalecer sua atuação no financiamento da veículos, mercado em que o Banco Votorantim atua com destacada especialização, o que potencializa oportunidades e complementaridades, diante da sólida estrutura de funding (caixa) e capilaridade do BB", escreveu a analista.

Controle do Votorantim vai continuar sendo privado

No mercado, a avaliação é que o BB não está satisfeito e continua comprador. Os alvos mais prováveis são outros bancos estaduais, como o Banpará (Pará), o Banese (Sergipe), o Banestes (Espírito Santo) e o Banrisul (Rio Grande do Sul). Com a medida provisória 443, editada no fim de 2008, o BB ganhou liberdade para comprar instituições privadas sem autorização prévia e, aí, pode existir outro foco de oportunidades, como a compra de ativos de bancos estrangeiros que atuam no Brasil - como chegou-se a falar no mercado, o Citibank. O banco americano, no país, tem ativos de quase R$40 bilhões.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou ontem o negócio e disse que a operação ajudará a recuperar o mercado de crédito para a compra de carros, fortemente afetado pela crise internacional:

- (A compra de parte do Votorantim pelo BB) é importante neste momento em que queremos recuperar o mercado (de financiamento) de veículos, sobretudo de usados.

A operação, que demorou três meses para ser concluída, prevê que o BB pagará R$4,2 bilhões para ter 50% do capital total do Votorantim, sendo que, do capital votante, apenas 49,99%. Ou seja, o controle do banco continuará sendo privado. Mantega argumentou que esse modelo era o mais adequado para ambos, mas sabe-se nos bastidores que o governo não queria dar munição aos críticos, que apontam uma eventual "estatização" do Votorantim. Nem a família Ermírio de Moraes queria perder o controle, que era o desejo do BB.

Outros R$750 milhões que também fazem parte da operação serão movimentados dentro do próprio grupo Votorantim. A gestão será compartilhada e, por enquanto, o atual presidente do BB, Antonio Lima Neto, assume o conselho do Votorantim. José Ermírio de Moraes Neto fica na vice-presidência. Cada banco terá três membros no conselho, e o presidente-executivo será Wilson Masao, que faz parte do quadro do Votorantim.

Acordo ainda precisará de sinal verde do Banco Central

A compra de metade do Votorantim elevará o ativo do BB para R$553,3 bilhões, ainda abaixo dos R$575 bilhões do Itaú Unibanco. O banco federal ainda negocia a compra do Banco de Brasília (BRB), controlado pelo Distrito Federal (DF) e com ativos de pouco mais de R$5 bilhões. Lima Neto disse que em breve começarão de fato as negociações com o governo do DF.

- Não estamos em busca de uma liderança desenfreadamente - disse Lima Neto.

A parceria dará aos dois bancos 16% do mercado de financiamento de veículos: 12% do Votorantim e 4% do BB. Segundo Lima Neto, não haverá demissões, mas uma nova marca poderá ser criada:

- Demos a nós mesmos 120 dias para resolver isso.

O presidente do Banco Votorantim, José Ermírio de Moraes Neto, negou que a sua instituição estivesse com problemas de liquidez, mas reconheceu que a crise limitou o acesso a capitais do fim do ano para cá.

- Temos uma máquina com muito mais capacidade de gerar negócios - disse ele.

A operação entre o BB e o Votorantim ainda precisa da aprovação do Banco Central.

COLABOROU Juliana Rangel

oglobo.com.br/economia

Patrícia Duarte e
Henrique Gomes Batista