Caderno Artigos
Estava estes dias pensando sobre educação. Sou pai de uma linda gatinha serelepe e de um adolescente poeta, romântico e que começa a dar os primeiros passos em formar aquilo que, futuramente, será sua vida. Seu trabalho, sua relação com os amigos, com o sexo e tudo o mais.
Como qualquer pai, por vezes acho que ele esta tomando decisões erradas e que, na minha neurose típica de pai, penso que o levara a um desfiladeiro de infelicidade.
Minha primeira intenção, claro, é reprimi-lo. É tirar dele o poder de decisão e traçar todos os rumos e caminhos que EU acho que seja a receita de bolo da felicidade.
Felizmente sempre me detenho por dois motivos:
Primeiro é que, apesar de eu ter esta receita de bolo, sempre questiono-me se fiz da minha vida tudo que devia ser feito para que eu fosse plenamente feliz.
Se sou feliz? Sim sou. Como aposto que o leitor também é. Mas...plenamente feliz? Não. Não posso dizer que o seja e duvido que alguém honestamente o possa.
Então, se eu não sou plenamente feliz, como posso querer impor ao meu filho o meu ideal de vida feliz?
Segundo é que me lembro da história dos elefantes no circo.
Você já observou elefante no circo? Durante o espetáculo, o enorme animal faz demonstrações de força descomunais. Mas, antes de entrar em cena, permanece preso, quieto, contido somente por uma corrente que aprisiona uma de suas patas a uma pequena estaca cravada no solo.
A estaca é só um pequeno pedaço de madeira. E, ainda que a corrente fosse grossa, parece óbvio que ele, capaz de derrubar uma árvore com sua própria força, poderia, com facilidade, arrancá-la do solo e fugir.
Que mistério! Por que o elefante não foge?
Há alguns anos descobri que, por sorte minha e dos meus filhos, alguém havia sido bastante sábio para encontrar a resposta: o elefante do circo não escapa porque foi preso à estaca ainda muito pequeno. Fechei os olhos e imaginei o pequeno recém-nascido preso: naquele momento, o elefantinho puxou, forçou, tentando se soltar. E, apesar de todo o esforço, não pôde sair. A estaca era muito pesada para ele. E o elefantinho tentava, tentava e nada. Até que um dia, cansado, aceitou o seu destino: ficar amarrado na estaca, balançando o corpo de lá para cá, eternamente, esperando a hora de entrar no espetáculo.
Então, aquele elefante enorme não se solta porque acredita que não pode. Para que ele consiga quebrar os grilhões e se ver livre é necessário que ocorra algo fora do comum, como um incêndio por exemplo. O medo do fogo faria com que o elefante em desespero quebrasse a corrente e fugisse.
Muitas vezes, na nossa ânsia de estabelecer os caminhos da “felicidade” para os nossos filhos estamos cometendo vários erros. Na maior parte das vezes o que estamos tentando garantir na verdade é o nosso bem estar e não deles.
Na maior parte das vezes queremos apenas evitar que os filhos nos tragam “problemas” com os quais não sabemos lidar.
E também, acabamos por reprimi-los tanto que, quando chegarem a idade adulta, terão perdido completamente a capacidade de tomar um decisão.
Então reclamamos que os filhos crescem e não saem das “barras da nossa calça”
O problema é que, inconscientemente, fazemos das barras das nossas calças a estaca que prende o “elefante”.
Conheço adultos em idade já avançada, que se sentem menos livres e, pior, incapazes, de tomar decisões sobre suas vidas do que a minha filha que tem hoje 10 anos.
A isso ainda soma-se o fato, que ninguém será plenamente feliz se não escolher seus caminhos. Até mesmo se os caminhos que escolhemos para os nossos filhos resultarem em uma “boa vida” e, quem sabe, até serem os caminhos que o Grande Arquiteto do Universo destinou a eles, ainda assim, eles não serão felizes.
Porque sempre estará a espreita-los a mais cruel das torturas: a dúvida.
A dúvida será sempre a sombra torpe que embotara a vida daqueles que não tiveram o livre arbítrio de escolher os caminhos da sua vida.
Agradeço ao G:.A:.D:.U :. por nunca deixar-me esquecer que eu crio filhos meus e Dele, filhos dotados de livre arbítrio e capacidade de escolherem seus próprios caminhos.
Agradeço ao G:.A:.D:.U :. por sempre me mostrar que eu crio gente e não elefantes.
Luz na mente e paz no coração!
* Lacrau é o pseudônimo de Davison Viana no grupo Fraternidade Literária Divina Comédia.
Davison Viana é astrólogo, membro de várias ordens iniciáticas e acredita que um bom bate-papo com Deus resolve qualquer problema.
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