Caderno Artigo
Conta um lenda que certa vez dois ladrões foram presos e levados a presença de um sultão. Pelas leis do Islã o roubo é punido com amputações ou com a morte. No caso dos dois a pena seria capital. Antes o sultão perguntou qual seria o último desejo. O primeiro ladrão pediu uma refeição de rei com tudo que teria direito. Foi atendido. O segundo pediu ao sultão que não o matasse agora pois ele poderia fazer seu cavalo voar. Todo mundo sabe que os árabes são apaixonados por cavalos e o sultão não fugia a regra. Curioso, o sultão perguntou ao homem quanto tempo ele precisaria pra isso. O homem disse que seria necessário um ano. Após isso poderia matá-lo.
O sultão pôs-se a pensar. Enquanto o sultão pensava o primeiro ladrão ficou curioso e disse:
- “você está louco? Você sabe que cavalos não voam!”
- “Você está certo...” Completou o segundo ladrão. “Mas você esqueceu que ainda tenho três ou quatro chances de sair vivo e você morre amanhã bem cedo. Retrucou o segundo ladrão.”
- “Mas que chances são essas?” Perguntou o primeiro.
- “Simples: em um ano pode acontecer muita coisa. O sultão pode morrer, o cavalo pode morrer ou eu posso ser o primeiro na história a conseguir fazer o cavalo voar.” Finaliza o segundo ladrão.
O sultão aceitou o desafio e ainda disse que se ele ou o cavalo morressem antes de um ano o segundo ladrão estaria livre, pois o acordo estaria sendo feito entre eles dois e o segundo ladrão não deveria ser punido duas vezes pelo mesmo crime.
No dia seguinte o primeiro ladrão foi executado e o segundo ladrão começava o seu trabalho.
Onze meses depois numa viagem a negócios o sultão fere-se gravemente ao cair do cavalo e poucos dias depois morre. Seu cavalo é sacrificado, pois havia quebrado a perna.
O segundo ladrão foi libertado e nunca mais se ouviu falar dele.
É triste perceber que existem pessoas que se entregam facilmente a derrota e deixam de lutar. Aceitam um “bom almoço” enquanto passivamente esperam a morte que, condenados ou não, um dia nos alcançará.
Já outras buscam novas formas de fazer. O segundo ladrão conhecia bem o sultão e a cultura do lugar. Como tinha o objetivo de ficar vivo e sabia que ainda tinha uma chance, pôs-se a pensar no quê fazer para ficar vivo.
O segundo ladrão fez dois questionamentos que as pessoas deveriam aprender a fazer o tempo todo:
Onde quero chegar? Qual o melhor caminho para chegar?
Primeiro o ladrão sabia que o que ele queria fazer era ficar vivo mais tempo. E depois tentar salvar-se da condenação. Ele já sabia aonde chegar.
Para ganhar tempo ele chegou a conclusão que o melhor caminho era fazer com que o sultão acreditasse que ele poderia fazer seu cavalo voar. E em seguida o segundo ladrão começou a pensar em como se livrar da condenação. Uma das formas seria torcer para que o cavalo morresse antes do prazo dado pelo sultão; outra seria que o sultão morresse ou que, na mais inacreditável hipótese, ele descobrisse como fazer um cavalo voar.
Pena que tão poucas pessoas são como o segundo ladrão. Na maioria esmagadora das vezes as pessoas desistem facilmente logo nas primeiras dificuldades. A história está cheia de pessoas que fizeram a diferença por mudar a várias vezes as formas de fazer as coisas para chegar a um objetivo. Pessoas persistentes. A diferença entre persistência e teimosia é que na teimosia você tenta sempre da mesma forma atingir algo que acaba dando o mesmo resultado. Já na persistência se não der certo assim, tenta-se de outra forma, porém, sempre de olho no objetivo.
Alexandre o Grande, tinha essa característica. Era persistente e nunca teimoso. Antes de desistir diante do que parecia impossível, ele buscava encontrar caminhos para chegar onde queria. Onde qualquer outro general recuaria, ele encontrava caminhos que outros não tinham se dado ao trabalho de procurar.
Acompanhem essa narrativa de uma das batalhas vividas por Alexandre e percebam que, no ponto onde qualquer um teria desistido, Alexandre percebeu que havia um caminho bem mais simples e que outros não tinham percebido:
“É noite. Alexandre, O Grande, está a algumas horas de uma das mais difíceis batalhas da sua vida. Como de hábito reúne-se com seu conselho de chefes para receber as informações do dia. As notícias não são nada animadoras. Alexandre descobre que tem um grave problema pela frente. Seus inimigos estão na vantagem de cinco para 1 e são muito fortes e bem armados. Neste cenário é impossível vencer lutando diretamente. Se resolvesse esperar reforços poderia ser atacado. Alexandre consulta seus generais e pergunta sobre quem comanda o exército inimigo. A liderança não era uma unanimidade; ele mantinha as várias tribos juntas por acordos e interesses. O líder inimigo era a única pessoa capaz de manter os exércitos unidos e sem ele dispersariam. Alexandre sabia disso e pôs-se a discutir com o grupo.
Ao final da reunião chegaram à conclusão que só conseguiriam vencer se matassem o líder. Mas como seria possível? Tinham cinco vezes mais força que o exército de Alexandre! Imediatamente Alexandre montou sua estratégia. Informou aos generais que deveriam concentrar todo o exército para matar o líder inimigo. Aquele que conseguisse ganharia uma condecoração. Seria matar o líder e recuar. Depois aguardariam a ordem de atacar de novo.
Amanhece e todos os guerreiros de Alexandre e os inimigos estão a postos. Todos sabem o que fazer. Utilizando o elemento surpresa, Alexandre ordena o ataque. Imediatamente todo o exército corre em direção ao líder inimigo desprezando o combate generalizado. Em pouco tempo o líder está morto. O exército de Alexandre recua. A confusão toma conta do lado inimigo. Ninguém sabe o que fazer e nem a quem obedecer. Percebendo o resultado e antes que os inimigos se organizem Alexandre envia seus exércitos em massa e no meio da confusão derrota o inimigo sem piedade. Ao final da batalha, Alexandre já possuía uma legião de prisioneiros e poucas baixas.”
Seja o General da sua vida! Uma guerra se vence primeiramente em si mesmo. Acredite que sempre há um caminho. Que não existem impossíveis para alguém que quer chegar no “seu lugar”!
Luz na mente e paz no coração!
* Lacrau é o pseudônimo de Davison Viana no grupo Fraternidade Literária Divina Comédia.
Davison Viana é astrólogo, membro de várias ordens iniciáticas e acredita que um bom bate-papo com Deus resolve qualquer problema.
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