No último dia 04, o americano James Harrison descobriu que sua mulher estava em uma loja com o amante. A traição foi desmascarada graças ao GPS instalado no celular da esposa, que se conectava ao aparelho de uma das filhas do casal.
Foi a gota d'água para o fim da família. Harrison não suportou o abandono e matou a tiros e estrangulamento seus cinco filhos e depois suicidou-se.
Casos de traição reais descobertos com a ajuda da tecnologia, seja pelo e-mail, comunicadores instantâneos, redes sociais, celulares e outros gadgets, acontecem com frenquência no cotidiano da maioria dos que estão conectados —inclusive entre os 24 milhões de brasileiros que acessam a internet mensalmente.
Por sorte, a maioria não termina tragicamente, como o descrito acima.
"O celular e a internet facilitaram a vida daqueles que querem trair. Primeiro, porque hoje é muito mais fácil encontrar outros parceiros (em qualquer lugar e em qualquer hora, do dia ou da noite). Segundo, porque é mais fácil ocultar a traição. Antes, para você falar com o amante, era necessário sair de casa, ligar do orelhão", exemplifica Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da UFRJ e autora do livro "Infiel".
Para a antropóloga, é mais fácil esconder do que descobrir. "A não ser o que o traidor não tenha o mínino cuidado e deixe as pistas no computador e no celular, ele pode esconder muito bem a traição".
A psiquiatra Carmita Abdo, da USP, explica que a tecnologia permite criar e deixar registrado "uma série de situações que antes nem se imaginava", como encontrar o nome do parceiro citado no blog da amante ou flagrar conversas picantes no MSN.
Um estudo realizado pela médica em 2006, com 8.237 pessoas em 10 capitais do país, constatou que 42% das mulheres confessaram já ter traído o parceiro, contra 68% dos homens.
Quando o assunto vai para a Justiça
Já que praticamente metade da população trai —e a tecnologia está metida nisso —a Justiça vem se adaptando para provar que o que acontece no mundo real pode ser constatado também no virtual.
"Um juíz pode conceder liminar para quebra do sigilo telemático —revelar e-mails, conversas em comunicadores instantâneos, ligações e SMS em celulares— se verificar que a pessoa traída sofreu assédio moral por parte do parceiro", explica Coriolano Almeida Camargo, vice-presidente da Comissão do Direito na Sociedade da Informação da OAB-SP.
Luiz, Três Pontas, MG
A tecnologia te ajudou a descobrir traição? Conheça casos e comente
Mas antes de ir correndo para o primeiro advogado, lembre-se de que é necessário ter provas reais de que você está 'sofrendo' com a situação antes de começar o processo. Vale atestado médico, testemunho de parentes e amigos e até faturas do cartão de crédito. Conversas pelo MSN e e-mails obtidos ilegalmente não podem ser usados como prova.
Depois de comprovada a traição, é possível pedir indenização por danos morais e separação de corpos. Mas vale ficar atento: traição, em si, não é mais crime no Brasil.
Pronto para a descoberta?
Antes de começar toda a via sacra, esteja preparado. Segundo Abdo, as pessoas, normalmente, têm três reações quando descobrem uma traição. Existem aquelas que querem saber tudo e vão atrás —a típica pessoa que vive fuçando em e-mail, Orkut e celular. "Nesse caso, é preciso estar pronto para agir. Já que foi atrás, tem que saber o que fazer com a informação", aconselha.
Há também aquelas que acabam descobrindo sem querer. "A pessoa quando 'tromba' com o fato fica em um impasse, não sabe o que fazer pois ela não estava mobilizada para a descoberta".
O último perfil é a pessoa que "tampa o sol com a peneira". A traição está óbvia, mas ignorar é uma forma de se defender de algo que ela não está preparada para encarar".
CINTIA BAIO e LILIAN FERREIRA
Do UOL Tecnologia