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Opinião: Pressa na mudança do Enem aumenta a insegurança dos vestibulandos

2/5/2009

Há dúvidas se a prova com 200 questões em dois dias é produtiva.
Quem prestará vestibular pegou a transição, que é o momento mais difícil.

Ana Cássia Maturano
Especial para o G1

A proposta do ministro da Educação , Fernando Haddad, para modificar o Enem e o ingresso nas universidades federais do país, tem causado muita polêmica entre alunos, professores de cursinho e até do ex-ministro da Educação, Paulo Renato de Souza. Um dos questionamentos é de como estudantes e cursos pré-vestibulares irão se preparar para esse modelo de prova.

O novo sempre traz um certo desconforto. Embora as mudanças às vezes sejam necessárias, geram insegurança por estarem na ordem do pouco conhecido. A transição de um modo de se vivenciar algo para outro é sempre bastante delicada.

A dúvida para os cursos preparatórios reside no conteúdo da prova. Ela é aparentemente estranha visto que o conteúdo será baseado nos Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino médio. Que é o que, ao menos se supõe, orienta as escolas de todo o país. Bem, aqui já tem um problema: segundo consta, há diferenças regionais nesses parâmetros e a prova será unificada. Quanto ao estilo das questões, é algo que não os preocupa.
Em como serão feitas as questões tem angustiado os alunos do ensino médio.

Um deles, em entrevista ao G1, disse que vinha sendo “moldados” para um tipo de prova que não esse, sentindo-se desrespeitado por essa mudança de uma hora para outra. Outros consideraram que teriam que mudar a regra pela qual vinham estudando.

Recursos intelectuais

Num primeiro momento, uma prova que considera mais o raciocínio do aluno, que é o pretendido por esse novo formato, parece ser mais fácil (não sabemos como isso ocorrerá na prática). O aluno poderá contar mais com seus recursos intelectuais e se preocupar menos em saber tudo o que está nos livros.

As colocações feitas pelos estudantes remetem a um tipo de aluno que se pretende combater: aquele que decora literalmente a matéria. Estudantes com um perfil assim, não conseguem um bom desempenho caso uma vírgula daquilo que estudou/decorou seja mudado. No caso, o enfoque do processo de aprendizagem está no professor e na transmissão do conhecimento, não no aluno e em seu desenvolvimento. No caso, a preocupação do aluno é que se mudar o jeito da prova, não saberá mais como fazê-la.

Para quem estuda e compreende a matéria oferecida na escola, não importa o modo como o conhecimento será solicitado. Com certeza, o estudante terá condições de responder de acordo com o necessário.

Há muita fantasia em torno desse assunto. Os alunos querem conhecer o novo modelo para poderem se moldar. Ora, suponhamos que isso seja verdade. É algo extremamente preocupante, pois tantos anos de escola não teriam servido para nada. Os aprendentes seriam meros repetidores de um conhecimento. Ambos, conhecimento e alunos, estariam paralisados, sem espaço para a transformação.
O que isso deixa claro é que não confiam em usar suas próprias ferramentas de pensar. Não confiam em si, em seu próprio talento.

Pressa

No entanto, um fator que provavelmente esteja assustando a todos e contribuído para tanta polêmica é a pressa com que estão querendo fazer essa mudança. Ainda não deu tempo para assimilá-la. Em abril, a idéia foi lançada e, em outubro, serão os exames. Sendo que não se sabe direito quais federais irão aderir. Sem contar a extensão da prova (200 questões em dois dias!!). Será que esse formato realmente é produtivo?! Como se chegou a esse número de questões?

Ir devagar é sempre um caminho mais proveitoso. Ainda mais levando em conta o que se pretende fazer. Não basta ter uma boa idéia. É preciso saber como executá-la de modo que ela seja realmente boa.

Quanto à insegurança dos alunos, não adianta se afobar. Quem está para prestar o vestibular pegou a transição, que é o momento mais difícil. Porém, para aquele que realmente estudou e não perdeu seu tempo com “decoreba”, com certeza não haverá grandes problemas. Basta confiar em sua capacidade de resolver problemas. Para os outros, as chances são as mesmas que no estilo de prova de vestibular já conhecido. Que, apesar das críticas, não exigia só conteúdo.

(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

Fonte: G1