Atendendo a um pedido do Ronaldo Ramos, que tem sangue de Santa Rosa de Lima, Siriri e Dores, mas foi criado em Glória (coisas de ciganos), eu me comprometi em escrever um artigo para o site que ele está inaugurando neste primeiro mês de 2009. Aperreado, contudo, com um monte de coisas, tive a idéia (agora é sem acento, mas o computador, automaticamente, continua colocando o “agudo”, e eu deixo) de escrever para um compadre meu de grande consideração, sujeito letrado – pouco pela escola e muito mais por conta da vida –, morador no sertão e que gosta de lorotar. Pedi- lhe uma sugestão, mas, se ele assim entendesse que enviasse um artigo pronto. Como ele não é homem de “caô caô”, mandou- me uma carta loroteira, da qual me sirvo para inaugurar o site do Ronaldo (que, evidentemente, não tem nada a ver com o atual jogador do Corinthians Paulista, recém saído da Segundona). Aliás, por falar em Ronaldo, o Fenômeno, ele precisa ter muito cuidado em São Paulo. Afinal, se ele se “enganou” no Rio, imagine na perdição da noite paulistana... Mas, deixe isso para lá. Sorte para ele e para o Coringão! Ambos merecem, pois ambos são grandes.
Eis, enfim, a transcrição da carta do meu compadre:
Estimado compadre,
Saudações da sua comadre, que está ficando velha e, pior, ranzinza, e da sua afilhada, que já vai para a Faculdade. A danada passou no vestibular da UFS, sem fazer cursinho. Modéstia à parte, ela teve bem a quem puxar. Vai fazer Contábeis. Estou vingado: eu sempre quis ser guarda livros, mas não deu. A vida me levou por outros caminhos. Agora, a minha caçula foi além. Peço uma bênção especial para ela. Mas vamos ao que mais interessa, por ora, atendendo ao seu pedido.
Quando se quer dizer que alguém é sabido demais, ladino, astuto, manhoso feito cavalo gordo solto no pasto, que dá trabalho para botar o cabresto, etc., se diz que o(a) sujeito(a) é cobra criada. Muitas são as pessoas que merecem, pois, essa designação. Na vida política partidária brasileira são vários os políticos que a merecem. Às vezes, contudo, há exageros. Acabam juntando cobra com cobra, de verdade. Por exemplo: numa cidade do interior baiano o prefeito empossado no último dia 1° deparou-se com uma cobra coral venenosa embaixo da cadeira do gabinete. Segundo ele, o réptil não é comum por aquelas bandas. Logo, teria sido ali colocado por alguém. A pessoa que teve o trabalho de deslocar a serpente do seu habitat natural para o gabinete da Prefeitura é, sem dúvida, cobra criada. E, mais ainda, cobra maldosa, venenosa – tanto ou mais do que a própria coral. Imagine o prefeito recém empossado tombar picado por uma cobra, no primeiro dia de trabalho, se é que ele já começaria o dia 1° no “batente”. Difícil...! A coral seria aliada do ex-prefeito ou do atual vice-prefeito? Depende. Poderia até não ser aliada de nenhum deles. Quem sabe, um servidor que não vai com a cara do novo chefe? Pode ser. Quem sabe a amante do prefeito, que fora preterida para assumir um cargo? Nesse caso, nomear a amante configura nepotismo? Faço um parêntese para lembrar um caso que sucedeu no sertão sergipano em que o prefeito nomeara para o cargo de “faz de tudo” (porta voz, chefe do segundo gabinete, segura “naquilo”, etc.) exatamente a tia da rapariga que ele mantinha num povoado (morena faceira, peituda, carnuda por trás e lá se vai...). Esses atributos eram da rapariga, e não da tia, claro. Igualzinho ao que ocorria, na mesma época, noutra cidade sertaneja em que a autoridade policial ad hoc, na ausência do delegado de polícia, que era um sargento da Briosa, era a tia da rapariga do cabo do destacamento. Pois é isso mesmo: houve um tempo em as tias das raparigas tinham o poder! Louvadas sejam elas! E, mais ainda, louvadas sejam as suas sobrinhas! E ninguém venha dizer que eu sou depravado, ou coisa que o valha. Não, não e não! Eu apenas constato o que ocorre e disso faço a mais respeitosa divulgação.
Mas, o certo, meu compadre, é que há, também, muitas cobras criadas na política sergipana. Aliás, sempre houve. E sempre haverá. Porém, contudo, todavia, nos dias de hoje, parece haver muito mais. Apenas parece, porque há muito rabo de rato que se faz passar por cobra (?) e há muita cobra cega que pretende ser sucuri. Ainda bem que sucuri não tem veneno. Mas um “abraço” dela é mortal. Disso todo mundo sabe. Resta ao povo separar o joio do trigo, ou melhor, separar cobra venenosa de cobra sem veneno. E separar cobra do que nem chega a ser minhoca. Hum, que palavreado mais besta esse meu: cobra e minhoca. Há tudo quanto é tipo de cobra e minhoca. E há até quem goste de certos tipos de cobras e minhocas. Coisas da vida moderna, que ninguém tem nada a ver com isso. Cada um cuide de sua vida. Cada um faça dela o que quiser. Com cobra ou sem cobra, a política segue adiante. E como diz D. Zefa de Tonho Olho Gordo, cunhada da minha sogra, “o reisado muda, mas as figuras são as mesmas”, per omnia saeculum saeculorum, amém.
Meu compadre, eu hoje amanheci e “entardeci” sem muito assunto na cachola. Não foi um dia bom para lançar a mão na caneta e botar coisas no papel (o senhor há de lembrar que eu ainda teimo em não ceder ao computador; continuo na caneta, que é bicha mais certeira, não tem engancho nem nada). Quando eu estiver em melhor dia, poderei lhe mandar coisa melhor.
Do seu compadre e amigo de grande consideração,
José Parente Peixoto, o Peixotinho do Umbuzeiro.
Aí está a fala do meu compadre. Prometo ao Ronaldo que, no próximo mês, eu mesmo farei o artigo. Isto é, se o meu compadre não tomar gosto.
José Lima Santana