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40 mil pessoas em Sergipe têm hepatite

20/5/2009

O coordenador do Serviço de Hepatologia do Hospital Universitário, Dr. Alex Callado França, fala sobre o contágio da hepatite e como o tratamento é feito no Estado

A última terça-feira, 19, foi o Dia Mundial da Hepatite. Determinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o dia foi criado para conscientizar os dois bilhões de pessoas contagiadas pelo vírus da hepatite no mundo. Pela primeira vez em Sergipe, a campanha foi organizada pelo Hospital Universitário (HU), com a parceria da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o Ministério da Saúde (MS) e a Secretaria de Estado da Saúde (SES).

A campanha focaliza, principalmente, as hepatites B e C, de maior incidência no país. Ambas são hepatites de via parental – transmitidas pelo contato com o sangue infectado – e podem gerar cirroses e câncer de fígado. Para evitar, é preciso fazer o diagnóstico e tratamento precoce, através do exame de sangue específico.
O Doutor Alex Callado França é doutor em Gastroenterologia da USP/Universidade de Barcelona, especialista em Doenças do Fígado (Hepatologia) e Professor Adjunto da Universidade Federal de Sergipe. Além disso, ele coordena o Serviço de Hepatologia do Hospital Universitário. Em entrevista ao Portal Infonet, o médico fala sobre a hepatite: como ocorre o contágio, como é feito o tratamento e o que fazer quando a doença for diagnosticada.
Portal Infonet – Como é feito o diagnóstico das hepatites B e C?
Alex França – A hepatite não tem sintoma. Ela não chama a atenção do paciente. Conhecida como hepatite crônica, o diagnóstico é feito com um exame de sangue específico. Atualmente, já existem testes rápidos, que são muito sensíveis para o diagnóstico, porém ainda é necessário o exame para confirmar a doença.
As pessoas susceptíveis à doença, ou seja, o grupo de risco, é qualquer pessoa que entra em contato com o sangue, como usuários de drogas, profissionais do sexo, qualquer pessoa que já passou por transfusões de sangue ou que fez sexo sem proteção.
Tratamento contra hepatite é feito no Hospital Universitário
A hepatite B também pode ser passada por via vertical, ou seja, da mãe ao filho no momento do nascimento. Por isso, é importante fazer o pré-natal para identificar a doença. Existem Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) em Aracaju e nas principais cidades do Estado. O exame é grátis e nem todo mundo precisa passar por tratamento, porém, quem precisa, o tem de forma gratuita através do Ministério da Saúde. No Estado, o único Centro de Referência é o Hospital Universitário.
Infonet – Como é feito o tratamento da hepatite? Há vacinas específicas para cada tipo de hepatite?
AF – O tratamento só é feito com remédios. O uso deles vai de caso a caso. Há vacinas para os tipos A e B. A hepatite tipo C não tem vacina ainda por ser um vírus que se modifica muito.
Todas as pessoas com menos de 19 anos podem e devem ir ao Posto de Saúde para se vacinar. A hepatite A também tem vacina – que não é fornecida de forma gratuita pela União ainda – mas pode ser encontrada em hospitais particulares.
Infonet – Já que a hepatite é uma doença tão silenciosa, como descobrir se a pessoa está doente?
AF – Apenas com o exame específico. Mesmo que a pessoa faça inúmeros exames de sangue, a hepatite não será detectada, apenas se o exame for específico para a doença. Há, entretanto, o teste rápido, que dá em 20 minutos o resultado e só precisa de uma gota de sangue. O Hospital Universitário fornece esse exame durante todo o ano.
Infonet – Quais são as principais conseqüências da doença?
AF – De 20% a 30% dos infectados podem evoluir para a cirrose, que é o processo crônico de inflamação e fibrose do fígado. Desse número (20% a 30%), 5% dos pacientes evoluem para o quadro de câncer do fígado. Por essa razão, é importante procurar o médico mesmo que não haja nenhum sintoma.
"Apenas 5 mil pessoas fazem tratamento contra hepatite no Estado"
Infonet – Qual a situação atual dos portadores de hepatites em Sergipe?
AF – De 1% a 2% da população sergipana tem hepatite B ou C. Em números, isso equivale a 40 mil pessoas. Apenas 4 ou 5 mil dessas pessoas estão sendo vistas por médicos. O resto está transmitindo o vírus por aí, sem saber da sua existência por nunca ter feito o exame.
Infonet – A hepatite pode ser transferida por tatuagens ou piercings?
AF – Sim, tatuagens e piercings também podem transferir hepatite se o material estiver contaminado. È importante que a pessoa, quando for fazer uma tatuagem, confira que tudo foi trocado: a agulha, a tinta e a seringa.
Além disso, é importante destacar que não é só as drogas injetáveis que podem transferir o vírus. A cocaína, através do canudo que toca na mucosa nasal, pode transferir a doença.
Infonet – É verdade que o paciente perde a vontade de comer doces?
 AF - Não, não é verdade. Muita gente come doce para combater a hepatite, porém, não há tratamento específico por dietas para tratar a doença. A hepatite A deve ser tratada através da observação, hidratação e repouso do paciente. As hepatites tipo B e C, apenas com remédios fornecidos pelo Estado.
Infonet – A urina e as fezes podem transferir a doença?
AF – Apenas a hepatite tipo A pode ser transferida através das fezes. Em nenhum dos tipos, a transmissão pode ocorrer através da lágrima ou da saliva. Outro grupo de risco é o das manicures: se o material não for devidamente esterilizado, pode passar a doença.

Por Domingos Lessa e Raquel Almeida/INFONET