No interior do Estado as chuvas de ontem causaram mais estragos. Em Riachão do Dantas, três casas desabaram durante a madrugada e outras seis pessoas ficaram desabrigadas no município de Estância, o mais afetado até agora. Em Simão Dias, moradores do bairro Bonfim de Baixo (área inundada pela chuva) fizeram uma manifestação e interromperam a pista que dá acesso ao município de Poço Verde. Policiais militares e patrulheiros da CPRV tiveram que interferir no protesto. A situação se agravou também em Maruim e a prefeitura local pede novas providências por conta dos transtornos causados pela chuva. Todo o interior está em alerta.
Segundo o coordenador da Defesa Civil de Maruim, Osvaldo Teles, até agora ninguém ficou desabrigado ou desalojado na cidade, mesmo com a intensidade da chuva desta quarta-feira. “Este ano, provavelmente não teremos a enchente que foi registrada em 2008, já que a prefeitura, em parceria com o governo do Estado e o governo federal, está executando a obra de dragagem do rio Ganhamoroba e fazendo a limpeza de canais que passam próximos às ruas mais baixas”, destacou Teles.
Esta semana, o prefeito de Maruim, Gilberto Maynart, encaminhou nota pública ao governador Marcelo Déda informando a situação e solicitando mais auxílio na tentativa de amenizar o sofrimento das vítimas das chuvas. Na nota consta o sofrimento das famílias que tiveram seus bens tragados pelas águas do rio Ganhamoroba. “Muitas das vítimas perderam os móveis comprados à prestação após a enchente do ano passado sem ainda ter quitado a dívida”, diz a nota.
“Na enchente do dia 10 deste mês, às 3 horas quatro caminhões e canoeiros, também voluntários, ocuparam as seis áreas afetadas, demonstrando o espírito de solidariedade do nosso povo”, disse o prefeito de Maruim, Gilberto Maynart.
Para Maynart, a solução para acabar com o problema causado pelas chuvas passa por um conjunto de medidas. “É necessária a dragagem de todo o estuário do rio Ganhamoroba, desde a ponte da BR-101 até o seu encontro com as águas do rio Sergipe. Necessárias se fazem também as obras de abertura e reabertura de canais que contornam as áreas mais propensas a inundação. Valetas a céu aberto precisam ser construídas conjugadas com redes de drenagem de águas pluviais em alguns pontos da nossa cidade. Precisamos demolir as pontes do bairro Coelho e do bairro Lachez, que por possuírem vãos inferiores à largura do rio se transformam em barragens retentoras das águas, que por não terem como prosseguir seu caminho natural invadem as regiões adjacentes”, lista Maynart, na nota enviada ao governo.
De acordo com matéria publicada na agência do governo, na última quarta-feira, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, assegurou ao governador Marcelo Déda a liberação imediata de recursos para a reconstrução dos locais afetados pelas enchentes em Sergipe, sobretudo as cidades de Maruim e Estância. Em audiência nesta quarta-feira, em Brasília, o governador obteve ainda a garantia do empenho do ministro na alocação de recursos para obras de prevenção de cheias no Estado. Segundo a matéria, o ministro mostrou-se solícito com as reivindicações de Sergipe e garantiu a tramitação rápida naquilo que fosse destinado à reconstrução. Já as obras de prevenção dependerão, por exemplo, de licitações, resumiu o governador. Na audiência, Déda cobrou ainda os recursos prometidos a Maruim e Laranjeiras, castigados pelas chuvas em 2008, que ainda não foram repassados ao Estado.
Zona de expansão sob a água
A forte chuva acompanhada de rajadas de ventos que caiu sobre Aracaju nesta quarta-feira e continuou durante toda a madrugada de ontem agravou ainda mais a situação das pessoas que moram na zona de expansão de Aracaju. Sem ter para onde escoar por conta da falta de infraestrutura, a água invadiu as casas dos condomínios Costa do Sol e Beira Mar, ambos localizados na avenida Melício Machado. Dentro das casas tudo estava submerso. Na tarde de ontem, moradores dos dois conjuntos estiveram reunidos com a procuradora do Ministério Público Federal, Lívia Nascimento Tinoco, para discutir o problema; a imprensa não pôde acompanhar a audiência.
“Agora o prejuízo é de 100%. Não há mais como habitar as casas. Estou desesperado, não sei o que fazer mais. Estou vendo meu patrimônio indo embora com a água. São 25 anos em que moro aqui e as coisas só pioram. Não sei mais para quem apelar. O pior é que existe um projeto há oito anos engavetado na Emurb porque eles dizem que a Prefeitura de Aracaju não tem dinheiro para construir o canal e acabar com nosso problema”, desabafa o administrador Paulo Roberto, um dos moradores do Residencial Costa do Sol.
Nos condomínios de luxo da Melício Machado a imagem é mais que desoladora. Revela a falta de infraestrutura local e de políticas públicas. Como o município pôde ter autorizado a construção de casas em locais sem infraestrutura, contrariando a legislação? Quem vai pagar pelos prejuízos causados pela falta de políticas públicas? Enquanto não há solução para os problemas causados pela falta de responsabilidade e pelo descaso das autoridades, moradores da zona de expansão estão saindo de suas casas por causa da água que invadiu tudo.
“As pessoas estão indo para a casa de parentes, porque não há mais condição de morar aqui. Estamos sendo obrigados a abandonar nossos lares com tudo dentro: móveis e eletrodomésticos. Quem tem seguro liga e o carro é guinchado, quem não tem paga R$ 120 para ser guinchado com a família no carro”, diz indignado Paulo Roberto.
Segundo a Assessoria de Comunicação da Emurb, a situação na zona de expansão piorou devido às chuvas que caíram na madrugada de ontem e se agravou mais com as lagoas de estabilização da Petrobras que estão cheias, jogando água para a Melício Machado.
Emurb
De acordo com a Ascom da Emurb, há um projeto aguardando há três ou quatro anos recursos para construção de dois canais. Um para o Residencial Costa do Sol outro para o Condomínio Beira Mar. No entanto, segundo a Ascom, o município não dispõe de recursos próprios e há dois anos tenta viabilizar o projeto através de recursos do governo federal, sem êxito até agora.
Ainda de acordo com a Emurb, o projeto do Costa do Sol custa R$ 6 milhões, enquanto a construção do canal para resolver o problema do condomínio Beira Mar está orçado em R$ 19 milhões. A Ascom alega que a autorização para a construção do Residencial Costa do Sol foi dada pelo município porque na época as condições eram adequadas no entorno do conjunto, ou seja, havia infraestrutura, segundo o órgão municipal, e que no ano passado foi negada a autorização para duas construções naquela região justamente pela falta de infraestrutura existente hoje.
Alagamentos e cheias até junho
O resultado da análise das condições climáticas para o setor leste do Nordeste brasileiro para o trimestral de junho a agosto de 2009 revela que haverá volume de precipitação de chuvas superior ao da média histórica, com distribuição de probabilidade de 40% acima, 35% normal e 25% abaixo da média. O prognóstico divulgado ontem, no auditório da Aease, fruto da VI Reunião de Análise e Previsão Climática que ocorreu em Sergipe e apoiada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), foi elaborado por meteorologistas e técnicos dos Centros Estaduais de Meteorologia do Nordeste.
Os estudos revelaram a região litorânea de Sergipe como uma das mais tendenciosas a altos índices pluviométricos, por ocorrência de anomalias atmosféricas, a exemplo da presença da Zona de Convergência Intertropical do Atlântico Sul (Zcitas). De acordo com o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Raimundo Jaildo, disse que Sergipe, por estar localizado na região litorânea, deve ser acometido pela perturbação de leste, sistema que aglomera nuvens no oceano atlântico e que quando encontram água quentes são empurradas por ventos alísios que atuaram também na costa sergipana.
“Nesse período, de maio a junho, ocorrem chuvas acima de 60mm por dia, trazendo conseqüências diversas, como alagamentos, enchentes e diversos transtornos para o cotidiano. Sergipe, Maceió, Recife, João Pessoa e Natal são Estados a receber a perturbação de leste”, explica o meteorologista. Já quanto à região do semi-árido sergipano, distante da costa, as chuvas serão ocorrentes da própria previsão climática sazonal, mantendo-se na previsão acima da média a normal.
Presente na divulgação do boletim de previsão climática, o secretário da Semarh, Márcio Macedo, manifestou o empenho que o governo do Estado vem ofertando para toda a sociedade sergipana com relação à segurança de informações relativas às condições climáticas do Estado.
Texto: Andréa Vaz
Fonte: Jornal da Cidade