Apesar de amanhã ser feriado de Corpus Christi, as repartições públicas, lojas e indústrias funcionarão normalmente em diversos Estados do Nordeste. Isso, porém, nada tem a ver com falta de religiosidade. Tampouco quer significar repúdio às folgas. A explicação é mais simples: os nordestinos preferem trocar a celebração da Eucaristia pelos festejos do católico São João, dia 24 de junho, uma substituição que exige um certo jogo de cintura de empresas.

Como Corpus Christi não está incluído na lista oficial de feriados nacionais, os pernambucanos, por exemplo, preferem trocar o ponto facultativo pela tradição das festas juninas, que lotam cidades como Caruaru (PE) na noite do dia 23 de junho. Por isso amanhã, do governo ao shopping center, tudo abre em Pernambuco. Na Paraíba, na Bahia e em Sergipe, os funcionários públicos vão ficar em casa no Corpus Christi, mas o comércio funciona.

Os bancos fecham em todo o país amanhã, mas no dia de São João a abertura vai depender dos costumes locais. Onde houver leis estaduais ou municipais decretando o feriado, os bancários não vão trabalhar. No Ceará, por exemplo, o dia de São João não é celebrado.

Em meio a tantas especificidades locais, as empresas tentam se adequar. "Seguimos o calendário regional, mas o dia do Corpus Christi acaba sendo pouco produtivo, porque quase todo o país está parado. E, no São João, acontece o contrário", diz José Emílio Calado, sócio-diretor da auditoria Deloitte , no Recife.

Para complicar, nem todas as empresas acabam adotando os costumes locais. A Petrobras, com atuação nacional, discutia ainda ontem o esquema que seguiria. Para alegria dos funcionários festeiros que trabalham na construção da refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE), venceu a folga no São João.

A Schin também optou por manter o feriado local e trabalhar amanhã. "Não dá para privar os nordestinos de uma festa tão importante para eles", explica Marcel Sacco, diretor de marketing da Schin, com duas fábricas em Pernambuco. O executivo não tem, porém, do que se queixar da festa. "Tirando o período de verão, o São João é a época em que mais vendemos bebidas", afirma. O mês de junho concentra cerca de 15% da comercialização anual do Nordeste. A Câmara dos Dirigentes Lojistas do Recife também estima que, depois de dezembro, junho é o mês mais importante para as vendas.

Em companhias nas quais a tradição junina está mais arraigada, os funcionários são presenteados. Se no Natal, eles ganham panetone e peru, no São João é comum receber uma mão de milho, medida equivalente a 50 espigas em Pernambuco. O ingrediente é a base da maioria dos pratos feitos no dia de São João, como mungunzá (conhecida como canjica no Sudeste), pamonha e bolo.

VALOR - Carolina Mandl, do Recife