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Dos rios de Sergipe ao ouro mundial, Nivalter quer mais: a medalha olímpica

23/6/2009

Dono dos melhores resultados da história da canoagem no país, atleta diz não ficar satisfeito enquanto não conquistar seu objetivo principal

GLOBO ESPORTE - Guilherme Marques - Rio de Janeiro

Um certo menino de sobrenome Santos, filho de uma Dona Maria, acompanha a mãe na aventura de sair do Nordeste para tentar a vida em São Paulo. Apesar de comum a muitos brasileiros, a história de Nivalter Santos surpreende pelas particularidades. A começar pela posse da melhor marca brasileira na canoagem, conquistada na Copa do Mundo de Velocidade na modalidade C1 (canoa individual) 200m, na Hungria, em junho.

Mesmo assim, o atleta não fica satisfeito. Morador do bairro de Esplanada dos Barreiros, em São Vicente-SP, Nivalter completa, este ano, o Ensino Médio. Ele ainda não sabe o que quer seguir na faculdade, mas sabe qual a peça que falta para completar o seu quebra-cabeça.

- Ainda não me sinto realizado. Eu sonho e quero a medalha olímpica, se for de ouro melhor ainda. Mas só vou ficar satisfeito quando eu conseguir isso. Sou um cara que fico feliz quando cruzo a linha de chegada, mas sempre termino querendo mais - afirmou.

 


Das braçadas nos rios de Sergipe ao ouro mundial na canoagem

Desconhecido para a maioria, o esporte é o que sustenta a vida do jovem de 21 anos. Apesar do corpo musculoso, típico de um atleta de uma modalidade que exige força, a cara de garoto não deixa mentir pela sinceridade de quem fala de forma humilde.

Nivalter começou na canoagem por acaso. Na cidade de Capela, no Sergipe, ele “matava aula para nadar com os amigos no rio”, como contou ao GLOBOESPORTE.COM. Ao chegar no litoral de São Paulo, com 17 anos, conheceu Fabiano. E foi por causa do amigo que entrou no esporte.

- Ele (Fabiano) me chamou, eu comecei um tempo, mas logo tive que parar, porque não tinha R$ 20 para pagar as aulas. Aí ele me ajudou com R$ 10. Mesmo assim ainda não dava. Minha irmã (Isis, caixa de supermercado) começou então a bancar. Foi aí que apareceu o Pedro (Sena), que era professor e disse que eu não precisava mais pagar – contou.


Não precisava mais pagar por conta de uma lição de solidariedade, fruto de um sonho de Pedro Sena, hoje treinador de Nivalter. Formado em Educação Física, Sena se encarregou de assumir os custos dos meninos que treinavam com ele, abatendo as quantias direto de seu salário. Mas a causa nobre tem explicação.

 

- Eu sei das dificuldades que esses esportes vivem no Brasil. Então, logo que me formei, tinha o sonho de ter um projeto social. Incluímos garotos como o Nivalter no projeto, e hoje ele é como que um espelho para os mais novos. Dá vontade de chorar de tanta emoção ao ver que o esforço vale a pena – declarou o treinador, com lágrimas nos olhos.

Entre as conquistas de Nivalter está a medalha de bronze no C1 500m nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Na mesma categoria, no mundial da Hungria, este ano, ele ficou com o quinto lugar entre os nove melhores canoístas do mundo, além do ouro nos 200m.


Para chegar lá, a carga horária de treinamentos é sempre intensa. Nivalter se prepara para o Pan-americano de Canoagem no Rio, entre os dias 3 e 5 de julho. Ele chega a ficar cerca de 2h30m na água, além de mais 2h na sala de musculação. Ainda que a preparação seja grande, a estrutura para isso é bem deficitária, como na maioria dos esportes olímpicos no país.

- É muito ruim. Lá onde eu treino, o máximo de peso que tem são 100kg, enquanto eu pego 140kg. Sei que eu poderia fazer muito mais se tivesse apoio, investimento, patrocínio – reclamou.