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Sarney ‘blindado’ entre os líderes partidários da Casa

25/6/2009

...– Isso que está acontecendo são práticas antigas que estouraram agora no colo do presidente Sarney, deve se dar um crédito para as medidas anunciadas e procurar agir com rigor diante das irregularidades – acrescenta o líder do PSB, Antonio Carlos Valadares (SE).

BRASÍLIA - Raphael Bruno - Jornal do Brasil

Acuado pela série de denúncias envolvendo a edição de 663 atos secretos pela Mesa Diretora do Senado nos últimos 14 anos, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), está bem resguardado no cargo, ao menos por enquanto, se depender dos líderes partidários do Senado. Se, no Plenário da Casa, a lista de parlamentares que sugerem ao peemedebista para que se afaste temporariamente das atribuições como presidente da instituição não para de engrossar – ontem foi a vez de o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Demóstenes Torres (DEM-GO), se juntar a senadores como Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF) nos apelos para que Sarney permita a outro parlamentar a condução da Casa enquanto durarem as investigações –, entre os líderes um intrincado jogo de interesses garante que apenas o senador José Nery (PA), integrante solitário da bancada do PSOL, entenda que o momento de Sarney deixar a presidência da Casa chegou.

– Esse assunto (o afastamento de Sarney) não está em pauta – garante o líder do DEM, José Agripino (RN). – Na medida em que as sugestões dos líderes para lidar com a crise foram acatadas pelo senador Sarney, ele se torna um intérprete do pensamento da Casa.

Sarney buscou neutralizar o avanço das opiniões favoráveis ao seu afastamento no DEM permitindo ao partido escolher o nome de Haroldo Tajra, figura próxima do primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI), para suceder Alexandre Gazineo na diretoria-geral do Senado. O peemedebista preferia indicar para o cargo seu chefe de gabinete, Sérgio Penna, mas, com a escolha de Tajra, não só mantém alguma distância em relação à indicação como inibe ainda mais o DEM, partido que fez da primeira-secretaria seu reduto ao longo dos últimos anos.

– Isso que está acontecendo são práticas antigas que estouraram agora no colo do presidente Sarney, deve se dar um crédito para as medidas anunciadas e procurar agir com rigor diante das irregularidades – acrescenta o líder do PSB, Antonio Carlos Valadares (SE). – Não estou notando nenhuma espécie de acobertamento, o presidente Sarney está atento às cobranças dos senadores. Se houvesse algum deslize do ponto de vista das providências que estão sendo tomadas, poderia se falar em afastamento, mas não é o caso. Ele está acatando a sugestão dos líderes.

– O presidente Sarney está buscando atender as medidas solicitadas pelos senadores para ordenar a administração da Casa – completa o líder do PP, Francisco Dornelles (RJ). – Sarney foi eleito, e a Constituição estabelece o mandato de dois anos que só pode ser inviabilizado em casos específicos através de procedimentos específicos.

Nem todos os líderes, contudo, estão satisfeitos com as medidas anunciadas até o momento pelo presidente do Senado. Na reunião que Sarney realizou com os líderes para discutir a crise, Aloizio Mercadante (PT-SP), juntamente com Arthur Virgílio (PSDB-AM), defendeu as exonerações imediatas do ex-diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, e do ex-diretor de Recursos Humanos da Casa, João Carlos Zoghbi, mas prevaleceu a tese de Sarney e de outros líderes de que tal medida precisaria ser respaldada num processo administrativo. Sarney preferiu uma solução intermediária, prometendo aos senadores orientar informalmente Agaciel e Zoghbi a não comparecerem ao Senado enquanto a crise dos atos secretos continuar.

A base aliada, no entanto, já entendeu o recado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que por diversas criticou publicamente o que entende como excesso de "denuncismo" na crise, e mostra pouca disposição para avançar com a tese de afastamento de Sarney. A leitura é a de que não é aconselhável acirrar os ânimos com o PMDB, principalmente tendo em vista que o partido, por meio de Renan Calheiros (AL), é fundamental para manter sob controle a Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras. Além disso, o primeiro vice-presidente do Senado e provável substituto de Sarney no caso de afastamento do peemedebista, é o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), um parlamentar visto como pouco confiável pelo Palácio do Planalto: em 2005, o tucano relatou ao Conselho de Ética da Câmara ter alertado o presidente Lula sobre a existência do mensalão.