O senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu nesta quinta-feira (25) que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se afaste do cargo. "Se afaste", pediu o senador no plenário.
Simon é um dos senadores mais antigos da Casa, estando em seu terceiro mandato. Sarney não está presente na sessão desta tarde. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também pediu o afastamento de Sarney, em discurso na segunda-feira (22).
No início da tarde, antes do pronunciamento de Simon, Sarney divulgou nota afirmando existir "uma campanha midiática" para o atingir devido ao seu apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" desta quinta diz que um neto de Sarney teria sido favorecido em sua empresa que trata empréstimos consignados no Senado.
José Adriano Sarney negou em nota qualquer favorecimento. Seu pai, deputado Sarney Filho (PV-MA), também disse acreditar existir uma campanha contra seu pai por seu apoio ao presidente Lula. Sarney Filho disse lamentar que José Adriano tivesse sido envolvido na “disputa política."
Simon afirmou em seu discurso em plenário que o presidente do Senado não pode ficar no cargo para responder as denúncias que envolvem sua família, como o mordomo que seria contratado pela filha, Roseana Sarney, ou os negócios do neto.
Para Simon, a crise da Casa impõe o afastamento do presidente do Senado. “No início já disse isso, não na tribuna, não para a imprensa. Mas, o presidente Sarney deve se afastar deste processo para o bem dele, da família dele, da sua história e desse Senado”.
O senador afirmou que a sensação de que Sarney teria de deixar o cargo o acompanha há um mês. Na visão de Simon, o afastamento não seria a aceitação de culpa.
“Não que a saída dele significa aceitar que ele é o responsável. (...) Há um mês eu dizia que era melhor ele sair antes que seja obrigado a sair. Hoje eu repito, é bom que o presidente Sarney largue a Presidência do Senado antes que sua situação fique insustentável”, disse Simon.
Ele lembrou que foi Sarney quem indicou Agaciel Maia para a diretoria-geral em 1995. Agaciel foi afastado do cargo após denúncias de que ele tinha uma mansão de R$ 5 milhões não declarada à Receita Federal.
Simon afirmou que a nomeação do novo diretor-geral da Casa, Haroldo Tajra, é uma prova de que Sarney já está a caminho de se afastar. A nomeação foi feita pelo primeiro secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI).
“Entro porque sinto na minha intimidade obrigação de fazer isso. Sinto das bases, dos amigos que me acompanham ato de profunda mágoa. O Simon, onde você esta? As coisas estão acontecendo e você não está falando? Por isso eu agora falo”, afirmou Simon.
Em aparte a Simon, Heráclito defendeu o presidente do Senado. “Se ele (Sarney) quis errar, nem tempo teve. Alguns fatos estão vindo a público por causa de medidas tomadas pela atual Mesa”. Ele citou como exemplo a comissão de sindicância que apurou os atos secretos.
Heráclito destacou a nova regra para a concessão de crédito consignado na Casa, que reduziu os juros nestes empréstimos, para defender Sarney da denúncia de que um neto seu teria sido favorecido na intermediação de contratos. “Quando vejo a matéria eu fico pensando: o avô ajudou ou prejudicou? Ao jogar o limite do crédito ele acabou com carreira do neto se ele era candidato a banqueiro porque muitos bancos desistiram porque acabou-se com a agiotagem aqui”.
O senador do DEM lembrou ainda que Simon recusou ser candidato a presidente do Senado. Segundo Heráclito, um documento com 36 assinaturas de senadores de diversos partidos foi apresentado a Simon pedindo que fosse candidato. O peemedebista consultou sua bancada. O PMDB vetou a candidatura e ele acatou. “Tudo isso é culpa de Vossa Excelência, que não quis ser candidato”, disse Heráclito.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez coro ao pedido para que Sarney se afaste da Presidência do Senado. Suplicy afirmou que o afastamento seria “saudável”. Ele defendeu ainda que um acordo mantenha o PMDB com a presidência da Casa durante o afastamento de Sarney. Assim como Simon, Suplicy é um dos senadores com mais tempo de Casa.
“Seria melhor que o presidente Sarney deixasse a presidência por até uns dois meses, até que tudo seja esclarecido. Poderia, inclusive, o PMDB eleger um novo presidente para este período”, disse o petista.
Eduardo Bresciani - Do G1, em Brasília