Brasília - A semana começa ruim para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Ele será alvo de duas representações por quebra de decoro parlamentar, por conta das inúmeras edições de atos secretos e pela participação do neto José Adriano Cordeiro Sarney na intermediação de empréstimos com desconto na folha de pagamento dos servidores do Senado.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, a primeira representação contra Sarney será apresentada nesta segunda-feira (29) pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM); a segunda, do PSOL, será formalizada na quarta ou quinta-feira.
Arthur Virgílio anunciou também para esta segunda "um duro discurso", no qual pedirá a moralização da Casa e atacará novamente o ex-diretor-geral Agaciel Maia, acusado de ser o mentor dos atos secretos e que se afastou por 90 dias, mas com direito a receber os salários.
Embora Arthur Virgílio seja o líder tucano, ele explicou que sua iniciativa é particular e não envolve o partido. O PSDB ainda não tem uma posição oficial sobre o futuro de Sarney. De Estocolmo, capital da Suécia, onde está em viagem oficial, o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), disse que ainda vai reunir seus colegas para decidir o que fazer em relação ao presidente do Senado.
Incertezas
Embora politicamente as duas representações contra Sarney tenham peso, pois pedem que o presidente da Casa seja investigado, o futuro delas é incerto. O Senado não tem um Conselho de Ética formalizado, pois o mandato dos antigos conselheiros terminou em maio. E os novos ainda não puderam tomar posse porque o PMDB e o PSDB não indicaram seus seis titulares e igual número de suplentes. Além do mais, a representação tem de ser acatada primeiro pela Mesa Diretora e quem a dirige é justamente José Sarney, o alvo.
Nessa confusão regimental e política, os partidos já se movimentam para tomar uma posição quanto a tudo o que envolve o senador José Sarney. O PT começa nesta segunda uma série de conversas - que envolverá também o Palácio do Planalto - para decidir como se comportar.
A tendência é que fique do lado de Sarney, porque um pedido de afastamento do senador teria implicações gigantescas quanto ao futuro da aliança que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende formar em torno da candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência no ano que vem. A aliança com o PMDB de Sarney é justamente o partido mais cobiçado pelo presidente Lula.
O DEM faz nesta terça-feira a reunião em que decidirá como se comportar. Para o líder do partido, José Agripino Maia (RN), Sarney terá de explicar direitinho a situação do neto José Adriano e provar que suas atividades não eram iguais às de João Carlos Zoghbi, ex-diretor de Recursos Humanos, investigado pela Polícia Federal por supostamente ter montado empresas fantasmas para a intermediação do empréstimo consignado.
"Não dá para ter dois pesos e duas medidas. É preciso provar que o neto não tinha atividades ilegais. Nós já pedimos a cabeça do Zoghbi", disse Agripino. O mais provável é que o DEM peça o afastamento de Sarney não da presidência do Senado, mas da sindicância administrativa que será aberta hoje contra o ex-diretor Agaciel Maia.
A sindicância que vai apurar as responsabilidades de Agaciel na orquestração dos atos secretos que criaram privilégios para parentes e apaniguados de senadores baseia-se no Regime Jurídico Único do servidor público. A representação do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) contra o ex-diretor pede que Agaciel seja demitido a bem do serviço público.
ABC POLÍTICO