Grupo de Renan elege Paulo Duque e Oposição anuncia que poderá sempre recorrer ao plenário
O Conselho de Ética do Senado será presidido por um suplente de senador. Paulo Duque, do PMDB, foi eleito em reunião realizada ontem à tarde por dez votos favoráveis, quatro em branco e uma abstenção e substituiu Antônio Carlos Valadares, do PSB, apresentado na véspera. A manobra é atribuída ao senador Renan Calheiros que identificou nele maior fidelidade. Sua escolha foi criticada pela oposição, identificando nela o propósito governista de "tratorar” o colegiado para blindar o presidente do Senado, José Sarney, alvo de denúncias. E isso porque, agora, bastaria a aceitação de uma denúncia contra Sarney para que ele tenha que se afastar da Presidência até as conclusões. Por isso a blindagem. A primeira reunião será daqui a 20 dias...
No plenário
Diante da surpresa na presidência da CPI, a Oposição ameaça levar as discussões sobre as denúncias contra Sarney para o plenário do Senado, onde a relação de força com os governistas é mais equilibrada. O senador Demóstenes Torres protestou contra a manobra do PMDB que rompeu o acordo com outros partidos e afastou a candidatura do senador Antonio Carlos Valadares que contava com o aval dos oposicionistas. Para o senador Demóstenes Torres, se o processo contra Sarney não for levado adiante, a oposição poderá recorrer até mesmo ao Supremo Tribunal Federal. "Se o Paulo Duque vier como tropa de choque do governo, desrespeitando a Casa, isso lhe criará problemas", avisou.
Mercadante estranha
Enquanto isso o próprio líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, fez questão de deixar claro que a decisão do PMDB de indicar o senador Paulo Duque para comandar o Conselho de Ética foi isolada e que o PMDB deve assumir as consequências de ter tomado esta escolha. "A responsabilidade pelo desdobramento quanto à presidência do Conselho de Ética, no que se refere à base, passa a ser inteiramente da bancada do PMDB", esclareceu.
O líder do PT encaminhou carta a Valadares afirmando que defendia sua candidatura para comandar o colegiado porque ele poderia, à frente do Conselho, "contribuir com o equilíbrio necessário a uma tarefa tão difícil quanto a de presidir um Conselho que julga outros senadores".
Segurança a Sarney
Para aliados mais próximos de Sarney, a indicação de Paulo Duque para o comando do colegiado garante maior controle das medidas do Conselho sobre as denúncias contra o Presidente do Senado. Antes da eleição do Conselho, porém, Renan minimizou a divisão ocorrida na base aliada. "O PMDB não quer partidarizar o Conselho. Todos os nomes são bons. O Valadares era um nome bom..." disse ele.
Estratégia
O líder tucano Arthur Virgílio, no entanto, garante que a oposição "está preparada" para contestar "eventuais decisões que não agrade" tomadas pelo Conselho de Ética. "Estamos preparados burocrática e politicamente”, afirmou.
O Conselho de Ética do Senado estava desativado desde o início deste ano, porque os líderes partidários não tinham indicado seus integrantes. A crise no Senado, especialmente as denúncias envolvendo seu presidente, José Sarney, forçaram a sua reativação. A sua primeira reunião está marcada para o dia 5 de agosto, quando será eleito o novo vice-presidente e serão discutidas as representações e denúncias envolvendo os senadores José Sarney e Renan Calheiros.
Carlos Fehlberg