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Faça com que sua ausência seja sentida

26/7/2009

No mundo da política estar presente é a regra. O político, o líder, a autoridade, adquire uma profunda convicção de que precisa estar sempre ocupando os espaços.

Estar presente e fazer-se ausente são procedimentos adotados no dia a dia de nossas vidas, tanto na esfera familiar, social, afetiva, profissional, e também, como é óbvio, na política. Qualquer um de nós já se lamentou por estar ausente numa oportunidade em que deveria ter estado presente, assim como, se arrependeu de estar presente numa ocasião em que melhor teria sido não ir.

A decisão de estar presente ou fazer-se ausente pode provar ter sido uma escolha acertada ou errada. Em qualquer hipótese sabe-se a posteriori. É, portanto, uma decisão que pode acarretar riscos.

Estas observações valem para todas as situações antes citadas. Numa relação afetiva, de conquista e sedução, por exemplo, fazer sentir a sua ausência às vezes é incomparavelmente mais eficiente do que estar mais uma vez presente.

No mundo da política estar presente é a regra.

O político, o líder, a autoridade, adquire uma profunda convicção de que precisa estar sempre ocupando os espaços, sob pena de um adversário vir a ocupá-los em seu lugar. Por isso, busca sempre estar presente às ocasiões que se lhe oferecem.

Também o fato de ser uma autoridade pública, (ou pretender sê-lo) concorre para aumentar esta convicção da necessidade de estar presente, sempre que possível. Afinal, uma autoridade pública somente “sente-se autoridade” em público. Além disso, sua presença é sempre requisitada, ou, pelo menos, esperada.

Não é errada esta percepção do político e do líder.

A questão da visibilidade, e, como é óbvio, da presença, precisa ser encarada de uma maneira mais detida. A presença da autoridade e a visibilidade que ela deve desejar, obedecem a uma das leis do Circo:

“O artista não muda o seu numero, ele muda é o público”.
É por esta razão que o circo é sempre itinerante, fazendo temporadas curtas em cada cidade que se instala. Enquanto o líder político estiver mudando seu público, então, não há restrição nenhuma a se fazer presente às oportunidades, e produzir a sua visibilidade.

Os problemas relativos à presença/ausência, ocorrem quando o público é o mesmo. Nestas situações, chega um momento em que de maneira inevitável, o excesso de presença produz o efeito contrário: quanto mais você é visto e comentado, mais o seu valor se degrada.

Você se transforma num hábito, numa certeza, numa óbvia presença. Você torna-se totalmente previsível. Para quem o percebe desta forma, você passa a ser menos importante, deixa de ser uma atração e arrisca-se a ficar no limite da banalidade. Demasiada exposição (às mesmas pessoas) reduz o valor da pessoa, estimula a familiaridade e cria oportunidade para a ocorrência de situações inconvenientes.

Nesta situação não importa o quanto você tenta mostrar-se diferente e “variar o seu número”. Não adianta, você já foi decodificado. De maneira silenciosa e sutil, sem que você perceba a razão, as pessoas o admiram e respeitam cada vez menos. Cada vez menos lhe dão a atenção que você estava acostumado a receber.

Como dizia Ninon de Lenclos, célebre cortesã francesa do século XVII:

“O amor nunca morre de fome, mas costuma morrer de indigestão.”

O fato é que, removidos o mistério e a imprevisibilidade, perde-se a admiração, a autoridade, e a estima. Trata-se de uma dinâmica cruel. As pessoas, diante de uma autoridade, buscam de todas as formas dela se aproximar, com ela conviver, chegar a conhecê-la, e, se possível, tornarem-se íntimas. Da parte da autoridade, sobretudo numa democracia, onde a posição é obtida pelo voto, o impulso é ceder a esta solicitação. Afinal, assim se conquistam os apoios e o entusiasmo dos eleitores.

Na realidade não funciona assim. Há em curso, uma dinâmica antropofágica. Na medida em que você se permite ser tratado como os outros, tornar-se familiar, próximo e previsível, você está sendo “engolido e digerido”. Uma vez “digerido” você não é mais necessário, não tem mais atrativos.

Para evitar esta dinâmica, é preciso aprender a administrar as suas ausências, para valorizar-se, manter a distância e o respeito, preservar a sua capacidade de surpreender e proteger seu “mistério”.

Você precisa se persuadir de que será necessário controlar aquele impulso de proximidade, e fazer com que as pessoas sintam a sua ausência. É necessário que elas tenham sempre “fome” da sua presença. Imponha o seu respeito, também, pela sutil ameaça de que podem perdê-lo.

Por vezes, uma calculada e completa ausência por algum tempo maior, pode ter um grande efeito, que somente se percebe na devida medida, quando se reaparece. Não esqueça que muito mais importante do que sua presença ser percebida, é a sua ausência não ser sentida.

Por estas razões administre, com inteligência e sutileza, o seu padrão de presenças e ausências. Nada é pior para um líder, uma autoridade ou um político do que o sentimento de que ele “está gasto”, que seu tempo já passou, que ele já devia ter dado seu lugar a outros.

Evite este sentimento a todo o custo. Fazer com que sua ausência seja sentida é o melhor remédio para evitá-lo.


Francisco Ferraz