'Eu vendia cobra, galinha e trabalhava com lápide', conta Bell
Há cerca de 30 anos, a banda Chiclete com Banana participa do cenário musical de Salvador. Com sucessos como Diga que Valeu ou Voa Voa, o grupo deixa a cada verão uma trilha sonora que fica na memória dos axezeiros que não perdem um carnaval, evento que 'mudou completamente' após o surgimento da banda, segundo depoimento do cantor Bell Marques em entrevista exclusiva ao site do CORREIO. Existia um ‘carnaval antes do Chiclete e depois do Chiclete’, afirma.
O vocalista, que na adolescência vendia cobras, galinhas e trabalhava com lápides, conta que as mudanças que o Chiclete trouxe para o carnaval baiano no decorrer dessas três décadas poderão ser vistas pelos fãs, a partir das 17h de quarta-feira (29), no lançamento da biografia 'Chiclete com Banana - uma paixão', que traz histórias e fotos inusitadas, além de depoimentos de artistas baianos.

O lançamento da biografia, escrita pela jornalista Cláudia Giudice, será no Restaurante Farid do Shopping Iguatemi, onde haverá uma coletiva para a imprensa. Já a partir das 19h, na Praça do Piano, no 3º piso do mesmo shopping, a banda vai conversar com o público, além de dar autógrafos e posar para fotos.
Para saber como o cantor ficou em ‘êxtase’ e decidiu ‘entrar nesse mundo’, confira:
CORREIO - Como surgiu a idéia de produzir a biografia do Chiclete com Banana?
Bell Marques - Foi idéia da jornalista Cláudia Giudice. Ela já estava participando do carnaval de Salvador e tinha feito muitas ações com a Editora Abril. Ela acabou ‘enxergando o Chiclete com Banana’ e quando alguém enxerga já começa a ser chicleteiro (risos).
CORREIO - E como foi isso? Ela acompanhou o grupo durante os shows?
BM - Sim, ela começou a acompanhar nos shows, colher informações e conviver com os fãs. Então, ela achou que nossa história era muito bonita e interessante. Claudia sentou com a gente pra conversar, e começamos a falar da história da banda, ela sugeriu então que fizessemos uma biografia, como se fosse um álbum de colecionador, com muitas fotos antigas, de uma forma muito alegre e divertida. Realmente ela conseguiu fazer isso.
CORREIO - Como foi o processo de produção? Vocês participaram? Escolheram as fotos, leram os textos?
BM - Foi muito rápido. A equipe de produção foi realmente muito eficiente, e de uma forma simples nos agradou 100%. Nós mandamos todas as fotos e depois ela mandou uma triagem, mas eles ficaram responsáveis por 95% do resultado.
CORREIO - Conte uma das curiosidades e histórias inusitadas que vocês registraram na biografia, tirando a da vontade de Wadinho ser cafetão... (risos)
BM - Tirando a do cafetão (risos), tem muitas curiosidades minhas em particular. Na minha adolescência, eu vendia cobra, galinha e trabalhava com lápide, e isso são coisas que acabam marcando sua vida. Mas tem uma muito legal, de quando enxerguei a subida no trio elétrico e de como nasceu a história ...
CORREIO - E que momento foi esse? Como foi isso?
BM - Eu fazia música, mas não tinha nenhuma ligação com o palco, e em um momento o ‘start’ foi dado. Foi exatamente no carnaval, quando eu ainda não era casado e não conhecia a Ana e fazia um som rock’n roll e eu estava ali no Mauá, na avenida Sete, quando o trio elétrico Dodô e Osmar dobrou na Casa D’Itália [o antigo percurso], cantando Moraes Moreira. Eu fiquei em êxtase. Pensei, ‘que coisa linda isso’, e fiquei arrepiado, emocionado, completamente emocionado. E então eu disse, ‘rapaz, isso é muito legal’, entrar nesse mundo... ‘É isso que eu quero!’

CORREIO - E após o ‘start’, o que você fez?
BM - Eu saí dali, peguei a minha banda, olhei para pessoal e falei, ‘ó gente, nós vamos a partir de agora, ser uma banda de carnaval’. E aí a galera perguntou 'como é que é?’. Aí eu disse, você vai sair na guitarra, você na bateria, você vai sair do baixo e tocar outra coisa, vamos reestruturar esse negocio aqui. E eu que tocava teclado, passei a cantar em cima de um trio elétrico, foi daí que nasceu o Chiclete com Banana.
CORREIO - E como foi a transformação, passar de Scorpions para o Chiclete com Banana?
BM - Na verdade, quando ingressamos na banda (Scorpions), que já existia, tudo era ‘meio americanizado’, e para funcionar, uma banda tinha que se chamar Scorpions. Aí já foi uma outra coisa, tirar esse ‘americanizado’ e entrar com o Chiclete com Banana, uma coisa bem diferente, uma mistura esquisita. Foi outro passo bem ousado nosso.
CORREIO - A biografia pode ser considerada parte da história da música baiana...
BM - Sem a menor dúvida... essa biografia faz parte da cultura da Bahia e da cultura do carnaval. Queira ou não queira, existe um carnaval antes do Chiclete e depois do Chiclete, pois a banda mudou o carnaval de Salvador, mudou a sonoridade, mudou a linha musical do carnaval. Antigamente o som era feito em cima de frevos, caixas de som, e nós modificamos e transformamos em galopes.
CORREIO - O livro conta com declarações de artistas baianos que tiveram a banda como inspiração?
BM - Sim. Nós temos depoimento de todas pessoas que participaram do carnaval, de Daniela Mercury, até os mais recentes, como o Adelmo Cazé, falando do Chiclete com Banana. Todos deram depoimentos de forma emocionantes.
CORREIO - Vocês estão satisfeitos com o resultado da biografia?
BM - Nós estamos muito, muito, muito satisfeitos. Essa biografia vai atrair o fã que é realmente parceiro do da banda, e a gente tem poucos momentos, pouca possibilidade de nos oferecermos assim desse jeito. Vale a pena todos lerem, é um projeto de vida, além da parte musical, da parte histórica é um projeto de vida muito positivo, as pessoas podem ter aquilo, como inspiração.
CORREIO - Qual a mensagem que você deixa para as pessoas que se inspiraram no Chiclete?
BM - As pessoas vão começando a vida achando que não são capazes, mas elas podem conquistar tranquilamente tudo, porque nós [a banda] conquistamos, e chegamos onde chegamos. Só basta ter uma trajetória de vida boa, mudar seu pensamento, tem que ter em mente.
Daniel Barbosa e Midiã Santana | Redação CORREIO | Fotos: Robson Mendes