Mercado de tecnologia se recupera na bolsa de valores
11/8/2009
Pessimismo acaba e empresas listadas na Bovespa registram fortes altas no ano. Momento é bom para quem atua no mercado doméstico.
As empresas de tecnologia estão conseguindo virar o jogo na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No início deste ano, os investidores não se mostravam muito animados com o setor e as companhias listadas amargaram perdas consideráveis.
Com a melhoria nas perspectivas de crescimento do País, especialmente por conta dos pacotes de incentivos do governo, a situação agora é favorável para o segmento, que já conseguiu recuperar boa parte das perdas registradas durante o ápice da crise econômica.
Para o gerente de análise da empresa gestora de fundos de ações Modal Asset, Eduardo Roche, os papéis das empresas de tecnologia não apresentavam valores compatíveis com os fundamentos das companhias e do próprio mercado. “A queda se deu, em boa parte, por conta do fluxo de capital”, afirma. As companhias do segmento, explica Roche, atraíram muitos investidores estrangeiros, que detinham, em média, 70% dos papéis. Pressionados por conta da situação dos mercados mundiais, eles retiraram boa parte do capital que mantinham no Brasil.
A saída de capital estrangeiro ultrapassou 25 bilhões de reais durante a crise. Com isso, empresas como a fabricante de computadores Positivo, que perdeu mais de 80% do seu valor de mercado em 2008, e a fornecedora de sistemas de gestão (ERP) Totvs, amargaram perdas severas.
Passado o furacão e com o mercado enxergando que a situação não será tão ruim como prevista, essas empresas se tornaram atrativas, não só pelo baixo preço dos papéis, mas também por conta das perspectivas de crescimento. O investimento estrangeiro, além disso, começa a voltar. Somente no primeiro semestre do ano, mais de 12 bilhões de reais, quase a metade do que saiu, foram aportados na Bovespa vindos do exterior.
Segundo o analista chefe da corretora XP Investimentos, Rossano Oltramari, a bolsa de valores funciona, de certo modo, como um termômetro da economia. “Durante a crise, o investidor enxergava o pior cenário possível e isso fez o preço das ações despencarem”, afirma. A expectativa para os próximos seis meses é de crescimento, e é isso que está puxando a retomada da Bovespa.
Até o momento, a bolsa conseguiu recuperar mais de 60% das perdas relacionadas à crise econômica. O principal índice da bolsa de São Paulo, IBovespa, está na casa dos 55 mil pontos, ainda longe do recorde histórico de 70 mil pontos, alcançado antes dos problemas. Mas o resultado está bem acima dos 30 mil pontos obtidos no ápice do colapso do sistema financeiro mundial, que se deu a partir de setembro de 2008.
Oltramari ressalta que a situação deve ficar ainda melhor para as empresas com atuação no mercado de consumo familiar, caso da Positivo. Setores como construção, varejo e financeiro tendem a crescer ainda mais. Para Roche, do Modal Asset, companhias como Vale e Petrobras, que costumam liderar as altas na Bovespa, ainda enfrentam problemas relacionados ao cenário externo, abrindo caminho para quem atua, preferencialmente, no mercado doméstico.
A maior dificuldade para as empresas de tecnologia é a liquidez dos papéis. “Nem todos os investidores estão em condições de assumir o risco”, diz Roche. Mas, para os analistas, as companhias do setor apresentam resultados consistentes e estão bem posicionadas no mercado.
Cautela
Que o momento é bom para as empresas listadas na Bovespa ninguém questiona. Mas, para o consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Luiz Jurandir Simões, é preciso ter atenção aos fundamentos da economia. “Se durante a crise o mercado esperava o pior cenário possível, agora está prevendo a melhor situação, mas o crescimento não vem só porque o mercado quer”, afirma o consultor.
Segundo Simões, o crescimento econômico só ocorrerá com o crescimento da renda da população. E isso depende de uma série de fatores, como reformulação do sistema tributário, queda dos juros e capacitação de profissionais.
Em relação ao setor de tecnologia, o consultor chama a atenção para a falta de profissionais capacitados, problema antigo no mercado brasileiro. De acordo com Simões, a questão pode ser um entrave para o desenvolvimento dos negócios e prejudicar os resultados das empresas. De qualquer forma, pelo menos nos próximos meses, céu de brigadeiro para a tecnologia na Bovespa.