Dezoito dias. Este foi o tempo de estada do urubu albino, da espécie Coragyps Atratus, no Parque dos Falcões, localizado aos pés da Serra de Itabaiana, a 45 quilômetros da capital sergipana. O urubu branco, de nome Michael – em homenagem a Michael Jackson –, e mais duas aves raras, o falcão de coleira e um gavião relógio, foram furtados do centro de conservação das aves de rapina, na manhã do domingo, dia 9. Segundo José Percílio Costa, criador e treinador de falcões e mantenedor do parque, o urubu albino é o único da espécie existente no Brasil, o que justifica o valor da ave e a cobiça dos ladrões.
O urubu albino tem cerca de quatro meses de idade e foi encontrado por agricultores em um pasto da zona rural de Itabaiana, no agreste do Estado, há cerca de 15 dias antes do furto. “Ele estava muito debilitado e ferido. Quase não podia andar. Os urubus pretos, racistas, deram muita surra nele. Acho que estranhavam a sua diferença”, constata José Percílio Costa. Ainda de acordo com o criador, o urubu estava muito sujo e isto dificultava a percepção de que se tratava de uma espécie branca.
Assim que foi levado ao Parque dos Falcões pela Polícia Ambiental, a ave passou a receber todos os cuidados para se recuperar fisicamente, além de amor e carinho dos criadores. “Ele já estava bem melhor. Quando me via pulava, batia as asas, pedia carinho. Eu tinha ganhado mais um filho. E agora perdi três”, lamenta Percílio. O adestrador se refere às outras duas aves que foram levadas do parque: um falcão de coleira e um gavião relógio.
Este último é um falconídeo florestal, que canta ao clarear ou ao escurecer, e por isso é mais escutado do que visto. O gavião relógio tem nome científico de Micrastur Semitorquatus e possui grande valor comercial. O falcão de coleira é também chamado de falcão aplomado e sua característica mais marcante é a uma listra superciliar branca que se prolonga até a nuca e é específica da espécie. O falcão coleira, assim como o gavião relógio e, principalmente o urubu albino, têm grande valor comercial o que, certamente, chamou a atenção dos ladrões.
José Percílio afirma que para os colecionadores as aves são preciosidades. “Durante dez anos de existência do parque nunca sumiu uma pena. Mas nós confiamos em Deus e na polícia que eles irão voltar. As aves são todas nossas filhas”, diz. Logo que tomou conhecimento do sumiço das aves, o tratador Percílio confirmou à mídia sergipana a existência de três pessoas suspeitas vindas do Ceará, com idades de 15, 16 e 20 anos. Eles teriam chegado ao Estado após entrar em contato com funcionários do parque, informando ser criadores clandestinos de falcão. Ao jornal CINFORM, ele não disse isto e optou por não emitir nenhum tipo de comentário, alegando que poderia atrapalhar o andamento das investigações. O delegado de Itabaiana, Osvaldo Rezende, que está à frente do caso, informa que o inquérito do urubu albino Michael é primordial para a sua equipe. “Do elenco de casos do setor de roubos, este é prioridade”, ressalta, também sem fornecer mais informações.
O PARQUE
Conhecido por muitos turistas, estudantes, biólogos e pesquisadores brasileiros e estrangeiros, o Parque dos Falcões é um dos únicos locais do país com autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – Ibama – para a criação de aves de rapina em cativeiro. Por isso, é conhecido mundialmente. O trabalho desenvolvido pelo centro de conservação de aves de rapina já foi tema de diversos programas da mídia nacional e mundial. O local também já foi cenário para gravação de filme e é visitado diariamente por muitas pessoas.
Devido ao trabalho sério e responsável que o Parque dos Falcões desenvolve, o roubo das aves teve grande visibilidade e provocou uma comoção mundial. “Recebemos telefonemas de gente de toda parte. De Sergipe, de outros Estados e até de outros países. O pessoal da França e da Alemanha ligou para nós assim que soube do fato. Isso nos deixou muito contentes”, observa José Percílio Costa, um dos idealizadores do Parque.
Cinform OnLine