
De olho em 2010, o partido obedece o presidente Lula, esquece a ética e salva Sarney. Mas foi para isso que ele chegou ao poder?

NOVOS TEMPOS O PT, que antes promovia manifestações pela ética, agora é alvo de atos contra Sarney
Era mais do que sabido que as 11 representações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AC), acabariam em pizza. O que, de fato, ocorreu graças ao apoio decisivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O partido que nasceu em 1980 empunhando a bandeira da ética mais uma vez se apequenou diante dos contra cheques do governo federal e do presidente que empurrou pela goela dos senadores petistas a decisão de votar pelo arquivamento. Por 9 votos a 6, o Conselho de Ética salvou a pele de Sarney. E foram decisivos os três votos da bancada petista. Desta vez, porém, não houve festa. O PT entrou em conflito de identidade e mergulhou em profunda crise.
O partido que sobreviveu ao Mensalão tenta agora juntar os cacos, mas ninguém se atreve a dizer se o custo pela pizza para Sarney já foi totalmente pago. No mesmo dia em que as denúncias contra o presidente do Senado rumaram para o arquivo, o PT assistiu à senadora acreana Marina Silva se desfiliar da legenda. Em seguida, o senador Flávio Arns (PR) também anunciou que estava deixando o partido. "O PT jogou a ética no lixo. Posso dizer que me envergonho de estar hoje no PT", disse Arns, minutos após a votação. "A cúpula do PT resolveu ignorar a militância em prol da candidatura de Dilma e da aliança com o PMDB." Abalado, o senador Eduardo Suplicy (SP) lamentou a situação do partido e disse que se a divisão se aprofundar ele também poderá deixá-lo. Com olhos marejados e a voz embargada, o senador explicou que seria um passo dramático "porque as dores da separação são terríveis".
"Existe tropa de choque, sim. Mas para enfrentar os trombadinhas do poder", afirmou, sem qualquer pudor, o senador Almeida Lima (PMDB-SE), na terçafeira 18. Político de 55 anos, que já foi prefeito de Aracaju, ele lidera o grupo de parlamentares que defendem com unhas e dentes as ordens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Conselho de Ética, a tropa de choque não negou fogo e votou em bloco a favor do senador José Sarney (PMDB-AP). "Faço parte da base do governo porque sou do PMDB. Um partido que tem seis ministérios deve ter responsabilidade para com esse governo. A oposição tenta debochar com essa história de tropa de choque. Mas eu aceito", explicou Almeida Lima.
A tropa é formada por gente com disposição para bater e também dar a cara à tapa. "Quando eu acordo de manhã e me olho no espelho, me vejo do alto do meu 1,95 m, com 130 quilos, cabeludo e penso: 'Eu tenho mesmo cara de tropa de choque'", diz às gargalhadas o senador Wellington Salgado (PMDB-MG). Mas o que move Salgado é a condição de suplente do ministro Hélio Costa.
"Eu tenho um ministro e, por isso, apoio o presidente Lula. Não faz nenhum sentido ir contra as determinações do presidente se ele tem uma aprovação tão alta", explica.
Cada um tem seu motivo para rezar pela cartilha palaciana. O senador Gilvam Borges (PMDB-AP) assumiu o cargo depois que João Capiberibe foi cassado. E o senador cassado acusa Sarney de estar por trás de sua cassação. O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) segue a linha justa do seu partido, que cobra disciplina dos filiados e ocupa no governo o Ministério do Esporte e a direção da Agência Nacional do Petróleo.
Outro ícone da tropa de choque é o senador Gim Argello (PTB-DF), que assumiu após a renúncia do senador Joaquim Roriz e tem apadrinhados na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Argello, que responde a processos no STF, orgulha-se de ser "um homem do Palácio". Ex-integrante da oposição, Romeu Tuma (PTB-SP) também votou a favor de Sarney. Seu filho Romeu Tuma Jr. é secretário nacional de Justiça. Na presidência do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDBRJ) encaminhou o processo como quis. Saiu-se muito bem no papel de segundo suplente do governador Sergio Cabral, que mantém relação de unha e carne com Lula. Vitoriosa, a tropa de choque anuncia que está preparada para novos embates. "A oposição quer tomar o poder na marra e não no voto. Não tem espírito patriótico. Sempre que botar a cabeça de fora, estaremos ali para dar uma paulada", afirma Almeida Lima.


Octávio Costa e Adriana Nicacio - Revista IstoÉ