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Leia a entrevista do governador Aécio Neves na chegada a Aracaju

24/8/2009


Assuntos: candidatura presidencial, pesquisas eleitorais, privatizações, aparelhamento do estado pelo PT, Bolsa Família, PSDB e aliados, estados bem administrados e CPMF

 

 Candidatura

Uma candidatura presidencial não é um projeto individual de quem quer que seja. Na verdade o que nós buscamos hoje é construir o projeto de um novo PSDB, projeto pós-Lula. Porque eu tenho dito por onde tenha andado é que o Brasil não quer mais essa disputa radicalizada, essa disputa pela paternidade desse ou daquele programa. O que nós temos que apresentar ao Brasil é um projeto do que ficou por fazer, uma nova agenda para o Brasil. E se as bases do partido decidiram de que eu deva conduzir essa proposta, farei isso com todo o entusiasmo. Mas o que eu tenho proposto é uma candidatura pessoal, é uma nova convergência. O Brasil precisa de uma nova construção política, ética, séria, com propostas absolutamente claras, porque na verdade o governo do PT não tem mais um projeto de país. Tem muito mais hoje um projeto de poder e que tem levado o partido, na verdade, a contradizer de forma muito forte o seu passado.


 Sobre pesquisas eleitorais

Na verdade as pesquisas nacionais me dão mais de 20%, como a Vox Populi, a DataFolha, o que é um número muito expressivo para quem jamais disputou uma eleição nacionalmente. Eu reconheço que no Nordeste, principalmente, o fato de eu não ter ainda disputado uma eleição presidencial, me coloca em desvantagem. Mas isso não me preocupa. Na campanha eleitoral o número mais importante não é a largada, mas o mais importante na verdade é a chegada. Mais do que a definição do candidato, o PSDB tem que mostrar com muita clareza o que o diferencia do projeto que ta aí. Nós temos que falar de gestão pública de qualidade, temos de falar de projetos de desenvolvimento regional que inclua definitivamente o Nordeste no processo de crescimento do país. Nós temos que falar de uma revolução na educação, que nunca aconteceu no Brasil e não tem acontecido no Brasil atual. Portanto, eu tô muito feliz com a recepção que eu tive em todas as partes do país por onde tenho viajado e acredito que no momento em que a nossa obra de governo em Minas Gerais, e o governo de Minas é o mais bem avaliado do Brasil nos últimos seis anos, for melhor conhecida e essa nova convergência política puder ser construída, eu acho que isso se refletirá também nas pesquisas eleitorais, mas essa não é a nossa preocupação no momento.

 O tema desenvolvimento humano e social é o tema que será abordado aqui em Aracaju nesse seminário. É isso que o sr. pretendo trazer para o Nordeste se for candidato a presidente da República?

Eu acho que sim, até porque onde o PSDB governou o Brasil foi bem. E não se pode falar da inclusão social sem a boa aplicação do recurso público. No Brasil de hoje houve um aumento excessivo nos gastos com o Estado e gastos muito pouco expressivos com infra-estrutura, gastos poucos expressivos na área social. O PSDB quer mostrar que o setor público pode ser eficiente e essa eficiência pode ter como conseqüência a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Eu não tenho dúvidas de que nós podemos apresentar ao Brasil um modelo de estado mais moderno, mais ágil e mais eficiente. Como eu disse, e tenho dito, nós não temos que fazer um discurso anti-Lula. Nosso discurso é pós-Lula. O que nós temos que identificar é a agenda que ficou por fazer, nos concentrarmos nela e mostrarmos que nós temos melhores condições de levar mais desenvolvimento e mais bem estar para as pessoas do que a candidatura que representa o governo.

 Na eleição passada o PSDB foi tachado como partido privatista. Essa marca ficou e caso venha a chegar ao governo, a Petrobras e o Banco do Brasil está na linha da privatização do partido?

Certamente isso não ocorrerá. Privatizamos setores que precisavam ser privatizados e temos que assumir esse discurso. Telefonia, por exemplo, cada um de vocês que me ouvem agora e que tem um telefone celular na mão, e sabe como ele é importante, precisa agradecer a ousadia do PSDB que fez a privatização do setor de telecomunicações contra a posição, por exemplo, do PT. Setor siderúrgico nacional, que sangrava os cofres públicos a cada ano, hoje é privatizado e esses recursos vão para as áreas como a saúde e como educação. Agora, o Banco do Brasil e Petrobras são instrumentos do desenvolvimento nacional e deve continuar controlados pelo governo, mas de forma diferente, sem o aparelhamento que ocorreu hoje, sem a sindicalizações dessas instituições que são patrimônio do povo brasileiro. O PSDB no governo, permitirá que essas instituições voltem a ser administradas com profissionalismo e essa é uma marca que nos diferencia do atual governo.

  Aparelhamento do governo pelo PT

Um aparelhamento da máquina pelo Partido dos Trabalhadores, um grande aparelhamento da máquina pública, acompanhado por grande ineficiência dessa máquina. Nós temos no Brasil hoje, e isso não se justifica, quase 40 ministérios. Enquanto a economia nesse últimos anos, o PIB – Produto Interno Bruto – brasileiro cresceu em torno de 26 a 27%, os gastos com o governo, com a própria máquina, cresceram cerca de 80%. Essa é uma conta que não fecha. E o PSDB tem que demonstrar que a discussão hoje não é mais com estado macro ou estado mínimo. E sim o estado eficiente que nós temos demonstrado saber fazer, saber dirigir nos nossos estados, como São Paulo, como Minas Gerais, entre vários outros.

 Agora quando o sr. mesmo diz que não é fazer uma política anti-Lula, porque até mesmo ele tem uma grande aprovação na população. Se fosse ele até o candidato, possivelmente fosse até reeleito mais uma vez. Em que vocês vão, então, buscar para, de repente, mudar isso, o que pensa a população?

Na verdade, eu acho que o período que se inicia com Fernando Henrique e termina com Lula será avaliado no futuro como um só período de continuidade da vida pública e econômica do Brasil, que começa com a estabilidade, passa pela modernização de nossa economia, com a privatização de determinados setores, pela construção dos reguladores macroeconômicos, como metas de inflação, câmbio flutuante, superávit primário. E inicia o processo de distribuição de renda, os programas de distribuição de renda, o bolsa alimentação, bolsa escola, vale gás. Vem o governo do presidente Lula mantém esses mesmos reguladores macroeconômicos, contrariando ao seu discurso, mas responsavelmente os mantém, amplia os programas sociais – nós temos que reconhecer isso porque seria não dizer a verdade, esses programas sociais, como bolsa família, se ampliam. Agora a grande questão é o que ficou por fazer. Então, mais do que ficar negando o que esse governo fez, nós temos que apontar o dedo na direção daquilo que ficou pelo caminho. A reforma política talvez seja o primeiro desses desafios para ordenar as discussões no Congresso Nacional, que hoje caminharam a fisiologismo puro. O novo projeto de desenvolvimento regional, que inclua definitivamente o Nordeste no processo de desenvolvimento do país; a reforma do estado brasileiro, a descentralização, hoje nós estamos caminhando para viver num estado quase que unitário. Cerca de 70% de tudo o que se arrecada no Brasil está concentrado nas mãos da União, em detrimento de estados e municípios. Sergipe sofre com isso, os municípios do estado sofrem com isso. Então acho que o PSDB tem que olhar pra frente, reconhecer os avanços que cada governo fez em seu tempo, mas fazer aquilo que outros não tiveram a coragem política e as condições pra fazer. É isso que nós estamos nos propondo a fazer.

 Governador, qual a sua posição sobre Bolsa Família?

Bolsa Família é hoje um instrumento absolutamente enraizado na vida econômica do país, em especial no Nordeste. Apenas no Nordeste brasileiro, 35% dos domicílios recebem o Bolsa Família. Ele deve ser mantido, mas com uma visão diferente da atual. Mesmo nessa semana eu li nos jornais que o ministro Patrus Ananias pretende colocar mais 1 milhão de famílias dentro do programa Bolsa Família. Eu acho que o Bolsa Família é muito importante, mas nós temos no Brasil que começar a comemorar quando nós tivermos 1 milhão, 2 milhões de famílias fora do Bolsa Família, porque se reintegraram no mercado produtivo, porque buscaram e se qualificaram pra uma outra atividade. Então o Bolsa Família como instrumento transitório de transferência de renda é importante e será mantido pelo PSDB. Mas nós queremos qualificar essas pessoas em função da potencialidade econômica de cada uma das regiões onde elas vivem, para que elas possam, após o Bolsa Família, se reenquadrar no mercado de trabalho, treinadas pelo estado, em parceria com órgãos como o Senai, o Senac, o Sesc, do nosso sistema produtivo, e acho que o Brasil será um país muito mais vigoroso quando nós deixarmos um ou dois milhões de famílias por ano recebendo esse benefício, e comemorarmos 1 ou 2 milhões de famílias deixando de precisar desse benefício porque estão vivendo com mais dignidade, estão produzindo, estão empregadas.

 Como está o entendimento entre o DEM e o PSDB aqui em Sergipe. O sr. tem acompanhado esse entendimento?

Na verdade eu sigo aqui a liderança do meu amigo, querido governador, senador, deputado Albano Franco. Ele certamente saberá conduzir, ao lado dos DEM, também do meu amigo João Alves, um entendimento que construa aqui um grande palanque para que essas idéias do PSDB possam progredir, possam se aprofundar. Eu defendo no Brasil, na verdade, uma nova convergência política, até mais ampla do que essa. O Brasil tá cansado desse radicalismo que coloca o PSDB no canto do ringue com os seus aliados, e o PT no outro canto do ringue. Quando chega o momento de governar, ambos os partidos, independente de qual seja o vencedor, é obrigado a se aliar muitas vezes com forças políticas com as quais não tem qualquer identidade. Eu acho que o Brasil está maduro para uma nova convergência política, em torno de uma agenda que não é desse ou daquele governo, é do Brasil. Essa agenda das reformas das quais eu me refiro, a reforma do estado, a modernização do estado, instrumento de desenvolvimento regional claros e definitivos, são problema que o Brasil precisa enfrentar com generosidade. Nós não podemos fazer da ação política um instrumento apenas de disputa e busca do poder. Essa é a nova proposta que o PSDB, a meu ver, deve encarnar. E acho até que setores políticos que hoje estão sob o guarda chuva do presidente Lula, apoiando seu governo, não necessariamente estarão no apoio da candidatura do PT. Podem muito bem, se nós apresentarmos com clareza a nossa proposta, se aliar a nós para a construção do novo Brasil. O Brasil que olha pra frente, com otimismo, com energia e volte a emocionar as pessoas.

  Estado por resultados

O PSDB prima pela qualidade, pelo mérito no momento da ocupação dos cargos públicos e não transforma o governo em instrumento para acomodar os companheiros. Nós jamais aparelhamos qualquer programa social do governo na época do presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, onde se iniciaram os programas sociais. Eu acho que o partido político deve trabalhar a serviço do país, e não como ocorre hoje. Assistimos o país a serviço de um partido político. Acho que o PSDB demonstrou tanto no plano Federal, como nos governos estaduais, que tem responsabilidade de governar com profissionalismo, capacidade de modernizar o estado, de apresentar resultados. O nosso modelo de administração em Minas Gerais – e eu tenho a honra de, por sete anos consecutivos, ser indicado como o governador mais aprovado do Brasil – foi incorporado pelo Banco Mundial como o modelo de governança a ser seguido por estados federados de outros países. É o que chamamos de “Estados por resultados”. O Estado tem que apresentar resultados, o servidor público tem que ocupar o cargo por mérito, conhecer aquilo que faz. Portanto, eu acho que os bons exemplos e os bons resultados que colhemos em Minas Gerais, são bons exemplos do que pode ser feito no Brasil, até porque nós temos o nosso Nordeste em Minas Gerais, os Vales do Jequitinhonha, Mucuri, o Norte de Minas tem indicadores de desenvolvimento humano muito parecidos com os do Nordeste. Nós desenvolvemos muito essa região, aplicando, por exemplo, o dobro que se aplica no resto do estado em educação e em saúde. Acho que temos boas experiências e ótimos resultados para compartilhar principalmente com o nordeste brasileiro.

 CPMF, o senhor é favor ou contra governador?

Essa discussão já passou e acabou e o PSDB não estará apoiando.