CORREIO DE SERGIPE: O que a vitória do senador José Sarney representa, politicamente falando, para o Estado de Sergipe?
JOÃO ALVES FILHO: Em primeiro lugar, quem ganhou foi o Brasil. Sarney foi um presidente da República com grande capacidade de harmonizar. Foi ele quem intermediou a passagem do governo militar para o regime da democracia. Ele foi muito habilidoso naquele momento, eu estava ao seu lado e vi que ele passou por momentos dramáticos, mas conseguiu a transmissão pacífica, deixando transparecer a sua vasta capacidade de diálogo. Sobre o nosso Estado, eu resumo a vitória de Sarney dizendo que ele foi o maior presidente da República para Sergipe. Foi com ele que nós conseguimos viabilizar o sonho de Ignácio Barbosa que foi a transferência da capital para Aracaju. Consegui fazer o porto graças a ele. Nós tínhamos dois ministros, eu (Interior) e Luis Carlos Alencar (STJ) e o presidente do Banco do Brasil (Camilo Calazans), que tinha capacidade de emissão e um poder imenso. É citando todos estes exemplos que eu acredito que sua vitória no Congresso foi positiva para Sergipe.
CS: E por que o voto da senadora Maria do Carmo foi tão importante?
JAF: Tanto eu quanto Maria temos o maior carinho e respeito pelo presidente Sarney. Mas o voto dela também interessava aos Democratas. No Senado o DEM estava empatado com o PSDB em 13 votos. Por isso que a entrada de Maria foi importante porque, com a segunda bancada da Casa, nosso partido conseguiu uma posição importante na Mesa Diretora que foi o cargo de 1º secretário, o segundo mais importante do Congresso, e conseguimos o comando da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Nosso partido também decidiu a vitória para Sarney, porque foi o único partido no Senado que votou fechado nele e o apoio chegou a um momento muito complexo para o novo presidente. No DEM não existem dissidências. O ato de Maria é nobre, mas já rotineiro naquela Casa. O ex-senador Antônio Carlos Magalhães (DEM/BA), um grande líder político e a maior amizade que fiz fora de Sergipe, saiu da UTI Semi-intensiva, mesmo contra a orientação médica, para participar de uma votação na Casa. Costumo dizer que existe a Bahia antes e depois de ACM. O senador Ronaldo Cunha Lima, ainda se recuperando de um derrame, participou de uma votação de cadeira de rodas.
CS: Mas qual é o real estado de Saúde de Maria do Carmo?
JAF: Quero ressaltar que, para dar este voto em Sarney, Maria teve a completa autorização da equipe médica que a acompanha há alguns meses. Agora, tanto eu quanto os meus filhos, defendíamos que ela tinha que se afastar novamente do Senado e só retornar quando estivesse 100% recuperada da cirurgia. Mas ela é uma mulher de muita fibra e, após um ano afastada, ela gostou de voltar a trabalhar, de voltar ao Senado. Isso é realmente muito bom porque é um sinal de vitalidade. Ela surpreendeu a todos dizendo que ia ficar de vez. O dinamismo dela me lembra muito meu pai. Um homem trabalhador e que, certa vez, ficou sem poder andar. Submetido a uma cirurgia no Rio de Janeiro, os médicos me comunicaram que ele tinha poucos dias de vida. E eu o comuniquei com muita dificuldade porque meu pai foi a minha escola de vida em termos de trabalho. Quando ele soube, retrucou logo dizendo que não iria morrer, voltou para Sergipe, passou a trabalhar normalmente e acabou vivendo mais 25 anos. É importante a pessoa se sentir útil. Mas, pelas manhãs, Maria do Carmo vai continuar fazer sua fisioterapia no Hospital Sara Kubitschek. Agora, às tardes, ela vai para o Senado tranquilamente.
CS: E quanto ao pastor Virgínio de Carvalho (PSC)? Como o senhor avalia a atuação dele neste período em que substituiu Maria do Carmo no Senado?
JAF: O Pastor Virgínio é o melhor suplente que Maria poderia ter tido. É um homem de elevada compostura ética, moral, séria e leal. Ele nunca falhou conosco e se comportou de tal maneira que conseguiu conquistar o respeito da Casa. É um poliglota, um homem que fala vários idiomas, inclusive, dialetos africanos. O voto de Maria foi imprescindível porque, apesar do Pastor ser um homem extremamente correto, ele não é filiado ao DEM, mas ao PSC. E o voto de Maria para o nosso partido era fundamental.
CS: O senhor não acha que o crescimento da candidatura de José Serra para a presidência da República tem incomodado alguns de seus adversários políticos em Sergipe?
JAF: Sempre que ocupei cargos públicos em minha vida eu sempre deixei minha carteira arrumada para sair a qualquer momento. Sempre fui defensor da transitoriedade dos cargos. Eu costumo dizer que, na política, uma noite no meio de dois dias faz uma diferença enorme. Existe uma realidade hoje onde Serra atingiu aquele ponto de consolidação. É um crescimento constante e com substância. Eu o conheço há muitos, mesmo sem ser do PSDB, e participamos juntos da Constituinte. Sempre nos respeitamos. Ele tem uma coisa que é muito importante: a questão da experiência vivenciada. Foi um dos maiores ministros da Saúde de todos os tempos, assim como Alcenir Guerra (DEM/PR), que foi um dos mais injustiçados. Serra ajudou o Brasil a avançar na prevenção do vírus da AIDS. Eu confesso que sempre fui muito mais amigo de Aécio Neves (PSDB/MG), até pela amizade que tinha com Tancredo Neves. Mas essa minha passagem por São Paulo me fez acompanhar de perto o sucesso que é a administração dele. E a Folha do São Paulo fez um levantamento recente comparando o governo Lula com o de Serra. E o programa tucano, semelhante ao PAC de Lula, já realizou em São Paulo mais obras que o governo Lula nos 27 Estados brasileiros. E não se trata de uma obra de marketing.
Fonte: Correio de Sergipe