Falta de substância para exame prejudica pacientes no Brasil
14/9/2009
Países que exportaram o molibdênio para o exame tiveram problemas em seus reatores nucleares.
Muita gente que sofre de doenças graves como o câncer ou que tem problemas cardíacos não está podendo fazer um exame importante. É um exame de imagens: a cintilografia. Está faltando, em hospitais e laboratórios, uma substância que o Brasil não produz e é obrigado a importar de outros países.
O aposentado Sigismundo Borges tem cinco pontes de safena. Anualmente, ele tem que fazer a cintilografia para saber como estão as artérias do coração. Para fazer o exame, é preciso injetar em Sigismundo um contraste radioativo feito a partir de uma substância chamada molibdênio. Sem essa substância, não há cintilografia.
“O exame que revelaria seria o cateterismo. O inconveniente que ele tem para quem não tem plano de saúde é o custo, pois é muito mais caro do que a cintilografia”, diz o aposentado Sigismundo Borges.
No Brasil, são feitas 3,5 milhões de cintilografias por ano. São exames que detectam doenças no coração, ossos, rins e pulmões, casos de câncer e Mal de Alzheimer, entre outras aplicações. Mas uma série de problemas provocou a falta da substância em todo o país.
O molibdênio, usado para os exames, era importado do Canadá. O reator nuclear que produzia o medicamento quebrou. O Brasil passou a importar da Holanda e da Argentina, mas os reatores dos dois países também tiveram problemas. Além desses, outros três países produzem molibdênio no mundo.
Por enquanto o país está importando uma substância similar, que não serve para todos os exames de cintilografia.
“Estão sendo buscados materiais radioativos como o tálio em outros países como África do Sul, Israel. Para outros exames, para a cintilografia óssea, cerebral, de diversos outros tipos de ossos, a gente não tem alternativa e os pacientes vão ter que ficar aguardando”, revela o médico Cláudio Tinoco Mesquita.
Não é a primeira vez que o Brasil enfrenta crise no abastecimento dessas substâncias. Isso acontece porque o país depende inteiramente do mercado externo e não existe aqui um reator capaz de produzir esse tipo de medicamento. Um reator custa US$ 500 milhões, algo em torno de R$ 1 bilhão.
O Brasil, que passou 15 anos sem investir no programa nuclear, retomou os investimentos em 2007. Entre os projetos, está a construção de um reator para produzir essas substâncias.
“Nós estamos trabalhando em um projeto de reator de pesquisa vai nos daria a independência completa, além da possibilidade de exportar o produto”, diz o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear Odair Dias Gonçalves