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Considerações sobre a coincidência

11/2/2009

É muito comum atribuir-se à coincidência a ocorrência de fatos não previstos e surpreendentes. Na vida privada, então, a todo o momento as pessoas se referem à coincidência para justificar o que lhes foge à lógica. Na política, a visão deve ser outra

Atribuir algo à coincidência tem o poder de estancar dúvidas e indagações. "Foi uma coincidência" equivale a dizer "não há o que explicar, não há porque suspeitar, não há razões para investigar causas". A coincidência, assim, é uma forma de manifestação do acaso, seja ele favorável ou não. Coincidência feliz é o acaso sob a forma de sorte. Coincidência infeliz é a casualidade travestida de azar.

 

Na política também, não poucas vezes, os fatos são atribuídos à coincidência, possuindo as mesmas características daqueles para os quais não há motivos para esclarecimentos. Sua ocorrência é auto-explicativa. É bom se acostumar, desde logo, com dois princípios que no mundo real são quase leis:

 

  • Não há coincidência na política

  • Os atos e fatos políticos são provocados por interesses

 


Coincidência feliz é o acaso sob a forma de sorte

É até possível que haja coincidências (o sorteio do número com o qual o candidato vai concorrer deve-se a uma decisão aleatória, por exemplo), mas é mais aconselhável pensar e trabalhar com a convicção de que elas nada mais são do que fatos para os quais ainda não encontramos motivos que os expliquem. Diante da aparente coincidência deve-se, em vez de repousar o espírito e conformar-se com a ocorrência, investigar suas razões. Você verá que, se dedicar algum tempo para tentar entender a coincidência, começarão a surgir fatos ou declarações que a precederam e que apontavam para aquela direção.

Não se trata de tornar-se um paranóico com a situação. Se o ocorrido é irrelevante ou encerra importância mínima, talvez não valha a pena preocupar-se em explicá-lo. O tempo se encarregará disto. Entretanto, se o fato concebido como coincidência se sobressai e pode ter conseqüências, então merece uma detalhada investigação. Aceitar a coincidência como um fato acabado pode, na maioria das vezes, encaminhar o governante para o rumo do pensamento mágico - e, portanto, ingênuo - levando-o a subestimar o que deveria ser valorizado.

Se, por outro lado, o fato em questão resistir às tentativas de explicação por informações objetivas e não tiver outros desdobramentos, então sim, era uma coincidência. Adotando uma postura cética em relação ao acaso, você descobrirá que por trás das aparências existem encontráveis interesses,

jogadas

e lances com autores definidos, bem como beneficiados e prejudicados identificáveis.


Francisco Ferraz