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‘Não estou preocupada com a imagem que farão do Brasil’, diz Andréa Beltrão

20/9/2009

'Salve geral', protagonizado pela atriz, pode representar país no Oscar.
Longa é inspirado nos ataques criminosos que paralisaram SP em 2006.

Geralmente lembrada por papéis cômicos, como a Marilda da “A grande família”, a atriz Andréa Beltrão aparece no filme “Salve geral”, de Sergio Rezende, como uma personagem nada alegre. Ela vive Lúcia, uma professora de piano sofrida e endividada, que tenta proteger o filho a todo custo, mesmo que para isso tenha de se envolver com uma organização criminosa.

A história culmina nos ataques que paralisaram São Paulo em maio de 2006, comandados por uma organização criminosa contra policiais nas ruas e dentro do sistema penitenciário. “Ela se oferece ao sacrifício pela cria, é uma situação trágica”, diz Andréa em entrevista ao G1.

Assista ao trailer do filme 'Salve Geral' ('Salve Geral')

 

 

O filme foi escolhido nesta sexta-feira (18) como o longa-metragem brasileiro que irá disputar uma das cinco vagas na categoria melhor filme de língua estrangeira do Oscar 2010, que acontece em 7 de março, em Los Angeles. “Recebi a notícia com muita alegria; essas coisas são melhores ainda quando a gente não espera”, conta a atriz. A lista final dos indicados será divulgada em 2 de fevereiro.

Andréa afirma que foi surpreendida pela escolha de “Salve geral” como representante brasileiro na premiação de Hollywood, mas não acredita que a temática violenta da produção possa ser negativa para a imagem do país lá fora. “Não estou preocupada com a imagem que vão fazer do Brasil. Eu conheço meu país, o que esta ou aquela pessoa pensa não importa. Embora o assunto seja perturbador, o que importa é a qualidade cinematográfica do filme. Estamos fazendo cinema de gente grande, temos que nos orgulhar.”

Leia a seguir trechos da entrevista com Andrea Beltrão sobre “Salve geral”.

G1 – Como você recebeu o anúncio de que “Salve geral” vai representar o Brasil rumo ao Oscar?
Andréa Beltrão - Recebi a notícia com muita alegria; essas coisas são melhores ainda quando a gente não espera. Fiquei surpresa, porque o filme nem estreou nos cinemas [a data prevista é 2 de outubro] e já tem uma honraria dessas. Mas ainda falta muito para o Oscar, estou com minhas barbas de molho.

G1 – Você acredita que o longa, por sua temática de violência, possa ser negativo para a imagem do Brasil lá fora?
Beltrão – Não acho nada disso. Não estou preocupada com a imagem que vão fazer do Brasil. Eu conheço meu país, o que esta ou aquela pessoa pensa não importa. Embora o assunto seja perturbador, o que importa é a qualidade cinematográfica do filme. É uma excelente história. Estamos fazendo cinema de gente grande, temos que nos orgulhar.

G1 – O filme lembra os ataques criminosos de maio de 2006, que pararam São Paulo. Esse retrato da realidade contribuiu para te atrair para esse projeto?
Beltrão – Naquele dia, São Paulo parou, teve pânico e caos. É um episódio da nossa história recente muito bem escolhido como gênese do filme. É como se tivesse fechado um zoom, no meio daqueles acontecimentos terríveis, focando naquelas duas vidas, da minha personagem e do filho. O bacana é mostrar essa utopia: todo mundo quer viver com paz, justiça e liberdade. O Sérgio (Rezende) levanta essa discussão, mas não vejo o filme tomando partido.

G1 – Como você definiria a sua personagem? Como você se preparou para o papel?
Beltrão – Ela é uma grande mulher comum, de temperamento controlado, discreta e de grande inteligência no comportamento. Ela age de maneira quase matemática para que nada prejudique seu objetivo de proteger o filho depois que ele vai para a prisão. Ela se oferece ao sacrifício pela cria, é uma situação trágica. Não fiz laboratório para essa personagem, o roteiro já era tão potente, eletrizante, que se bastava.

G1 – Como foram as filmagens?
Beltrão – Foram quase quatro meses de trabalho. Foi muito divertido, um enorme prazer, até nas cenas mais difíceis. Mesmo quando o papel é pesado, não levo para casa carga emocional nenhuma. É muito importante não confundir esses dois universos, trabalho e realidade. O corpo pode ficar exausto, mas a cabeça fica leve.

G1 – Você ficou conhecida, principalmente na televisão, por papéis cômicos. Como é encarar um papel tão dramático na tela grande?
Beltrão – Não foi uma novidade, já tinha feito “Verônica” (de Maurício Farias, lançado no início do ano) e algumas peças dramáticas. Fico feliz por ser mais um papel maravilhoso que caiu na minha mão. Mas carrego no peito o orgulho de ser comediante. É realmente um título de nobreza. Um comediante pode fazer muito bem um papel dramático, mas nem todo ator dramático pode fazer comédia. Por isso, quero ser chamada de comediante a vida toda.


Carla Meneghini Do G1, no Rio