...sobraram os governadores Jaques Wagner, Marcelo Déda e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, para ficar em três, mas ninguém assim, pronto para concorrer...
O PSB decidiu deixar Ciro livre para escolher entre uma “inseminação artificial”, a transferência para São Paulo, ou a manutenção no Ceará, um parto considerado mais natural
A pesquisa CNI/Ibope divulgada há dois dias continua a provocar ondas como se fosse uma pedrinha no mar da política. O comando do PSB, por exemplo, arremeteu o boeing Ciro Gomes que preparava decolar do Ceará e aterrissar em São Paulo, esta semana. Deixou a decisão nas mãos de Ciro. Primeiro, a avaliação da cúpula partidária é a de que São Paulo é um poço de candidatos e de confusões para que os socialistas levem um reticente Ciro a mudar de domicílio eleitoral.
Segundo, tem uma parcela convencida de que Ciro é hoje o único que chegará à disputa presidencial como o nome do Nordeste, embora nascido em território paulista — uma tese que perderia força se, na hora de votar, o candidato, em vez de Fortaleza ou Crato, estivesse na avenida paulista. E, se for para ser candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff — hipótese não totalmente descartada a nove meses da largada da campanha presidencial —, Ciro tem mais apelo no Ceará do que em São Paulo, berço do PT.
Por último, no campo da política, assim como na vida, a história mostra que tudo o que é imposto ou forçado dá problema lá na frente. Não foram poucos os políticos que terminaram perdendo o rumo da própria história quando estavam no auge de suas carreiras. Na eleições de 1989, por exemplo, o então governador da Bahia, Waldir Pires, forçou sua entrada como vice na chapa de Ulysses Guimarães à Presidência da República. Saiu crente que seu prestígio pessoal perante o eleitorado e a sua história eram suficientes para levar Ulysses ao segundo turno. Anos depois, diria a amigos que a manobra foi forçada, não natural.
O mesmo caso está hoje a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a outra onda, embora em sentido inverso, da pesquisa. Dentro do PMDB e do PSB há incômodos ao perceber que ela tem algum potencial, mas não deslanchou como seus torcedores desejavam. E, por isso, voltou a crescer dentro dos aliados a história de que a candidatura de Dilma é antinatural. Ela está cada vez mais candidata, imposta pelo presidente Lula.
Dilma não era o nome dos sonhos do PT, que viu ruir todas as suas apostas ao longo dos oito anos de governo — José Dirceu, Antonio Palocci, Aloizio Mercadante, para citar apenas alguns. Sobraram os governadores Jaques Wagner, Marcelo Déda e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, para ficar em três, mas ninguém assim, pronto para concorrer. O ministro da Justiça, Tarso Genro, não conseguiu um vôo nacional, assim como o do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, comandante do programa mais visível do governo, não decolou nacionalmente como “o cara” para a sucessão presidencial.
Diante do deserto, com os nomes mais promissores ainda longe da projeção que iriam precisar, restou Dilma, que apresentou fôlego com o PAC, as viagens governamentais e a imagem de boa gestora. Todos acham que ela pode crescer ao longo da campanha no ano que vem puxada pelo mito Lula. Gilberto Kassab (DEM) começou a campanha para a prefeitura paulistana com 8% e venceu.
Mas ninguém consegue enxergar hoje, a um ano da eleição, Dilma vestindo a faixa presidencial em 2010 e estão todos inseguros em relação à possibilidade de Lula transferir seu prestígio e caminhão de votos para a candidata petista. Por isso, a ordem é deixar que Ciro escolha e siga o seu caminho.
Até porque — me perdoe o leitor, mas vou voltar ao microcosmo eleitoral paulista — Lula, no ano passado, ficou rouco de tanto pedir voto para Marta Suplicy em São Paulo e o eleitor fez cara de paisagem a seus apelos. Nada impede que isso se repita na sucessão presidencial, uma vez que Dilma não é Lula.
Por isso, o PSB decidiu deixar Ciro livre para escolher entre uma inseminação artificial, a transferência para São Paulo, ou a manutenção no Ceará, um parto considerado mais natural em junho, época das convenções partidárias. Da parte do PMDB, no entanto, há quem diga que Michel Temer e Henrique Eduardo Alves estão forçando a barra para a decisão da chapa agora. Essa história não foi combinada com os estados. A campanha presidencial, reza a lenda, está como uma gravidez no início: fica todo mundo ansioso, mas é hora de muito cuidado e sem movimentos forçados.
O tempo de Lula
A decisão do presidente de deixar o debate dos royalties do pré-sal para 2011 tem um viés eleitoral do tamanho da picanha azul, faixa de mar onde está o petróleo do pré-sal. É que, quando todos brigam por dinheiro, a culpa de tudo sempre acaba no governo. E o presidente não quer mais esse imbróglio atrapalhando a sua candidata.
Nas Entrelinhas :: Denise Rothenburg
Correio Braziliense