Lula vê interesse político em furto
Segundo o presidente, as provas podem ter sido vazadas com o intuito de prejudicar o governo. Prova disso seria o fato de terem sido oferecidas à imprensa
BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou ontem que o governo trabalha com a possibilidade de que o roubo das provas do Exame Nacional do Ensino Médico (enem) não tenha sido um crime comum, mas uma encomenda de pessoas interessadas no seu fracasso. Segundo o presidente, um indício muito forte disso é o fato de que as provas foram oferecidas à imprensa.
“Antigamente se levava para vender aos cursinhos. Eu não sei se tinha alguém que se sentia prejudicado pelo enem e resolveu fazer com que o enem não desse certo este ano”, afirmou.
O exame, que ocorreria nos dias 3 e 4 deste mês, foi suspenso e remarcado para os dias 5 e 6 de dezembro, após o furto de exemplares das provas e posterior vazamento do conteúdo.
O presidente não deu detalhes sobre alguma possível linha de investigação em curso pelo governo federal, mas em seguida reforçou a suspeita. “A gente não pode afirmar a serviço de quem isso aconteceu. Eu não sei quem se sente prejudicado com o enem”, declarou. Dirigindo-se à jornalista que fez a pergunta sobre o enem, pediu ajuda da imprensa para esclarecer o caso. “Você poderia me ajudar nisso, fazer uma investigação de quem se sentia prejudicado com o enem, porque pode ter a ver com quem roubou a prova”, pontuou.
Segundo ele, a pessoa que roubou a prova foi irresponsável. “Eu sinceramente não posso acreditar que, no momento que está vivendo o Brasil, alguém tivesse a intenção de roubar uma prova e levar para a imprensa”, disse. Se o alvo foi o governo, como sugere o presidente, o tiro não surtiu efeito. “Se a pessoa pensou que estava prejudicando o governo, a pessoa na verdade foi um irresponsável que prejudicou a tentativa de milhões de jovens, através do enem, de entrar numa universidade. Retardou pelo menos a pretensão desses jovens”, afirmou.
Também ontem, a Polícia Federal interrogou o diretor de comunicação do pré-vestibular CPV, Alexandre Chumer, que revelou ao jornal Folha de S.Paulo que uma pessoa ofereceu, no último dia 28, o exame furtado para a editora do cursinho. Segundo ele, a instituição não aceitou a oferta.
O Ministério da Educação (MEC) vai lançar uma campanha publicitária sobre o enem, após o vazamento de provas e o adiamento do exame. Para estrelar comerciais de rádio e TV, deve ser contratado o ator Wagner Moura. A campanha publicitária deve ir ao ar nas próximas semanas e terá caráter informativo.
Jornal do Comércio