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Chefes do PMDB preferem calar diante dos ataques do senador Jarbas Vasconcelos

16/2/2009

O silêncio dos caciques

Chico de Gois, Mônica Tavares e Regina Alvarez

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) fez tremer e ao mesmo tempo calar seu partido, ao abrir o verbo em entrevista à revista "Veja" desta semana. Ele acusa a legenda, que ajudou a fundar há 43 anos, de ter se especializado em corrupção - sem citar, porém, casos concretos. Caciques do partido - como Michel Temer (SP), presidente da sigla e da Câmara; José Sarney (AP), presidente do Senado; e o senador Renan Calheiros (AL), líder - que deveriam se defender ou contestar as declarações, preferiram ficar em silêncio.

Já os peemedebistas que reagiram desqualificaram o acusador, considerando-o desagregador, e usaram o discurso de que cabe ao incomodado se mudar. Mas, por enquanto, ainda não se fala abertamente em expulsão de Jarbas.

Na entrevista, o senador pernambucano disse que o PMDB só quer cargos para "fazer negócios, ganhar comissões" e destacou que "a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral". Para ele, "a corrupção está impregnada em todos os partidos" e "boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção".

Jarbas cita nominalmente Renan e Sarney. Sobre o primeiro, é contundente: "Ele não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido". Do segundo, afirmou ter havido um "retrocesso" em sua eleição para presidir o Senado.

- Não li a entrevista e não vou comentar - limitou-se a dizer Renan ao GLOBO.

Sarney, de quem Renan foi um dos principais cabos eleitorais, mandou dizer que não falaria do assunto. Temer não retornou a pedidos de entrevista. O GLOBO deixou recados em seu celular e no de seu assessor, mas não teve resposta. O mesmo se deu com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (BA).

Ministro Hélio Costa reage, da Espanha

Neste cenário de ausências, coube ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, que está na Espanha, defender o partido e os colegas:

- Foi uma coisa (a entrevista) que ofende a todos nós do partido, me sinto particularmente ofendido, me solidarizo com todos os colegas. Quem não está satisfeito devia sair. Ele é uma pessoa isolada, não consegue conviver, não participa da ação. E é desagregador.

Para ele, o PMDB precisa responder:

- O partido devia tomar uma posição firme e providências urgentes. Se ele sabe de alguma coisa, tem que ter provas. Se tem esses documentos, tem que apresentar ao PMDB.

Jarbas Vasconcelos disse ao GLOBO que o que tinha para falar, já disse. E que tem clara noção do estrago que fez.

- Para dar a entrevista, tenho de estar seguro do que estou dizendo. Tenho ciência da repercussão. Não me cabe acrescentar mais nada. Não quero ser a palmatória nem o dono da verdade - disse.

O senador afirmou que ontem recebeu telefonemas de apoio do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e de Cristovam Buarque (PDT-DF). Do PMDB, só Orestes Quércia, presidente do diretório regional de São Paulo, lhe foi solidário.

Na fileira de reações, o mais contundente foi o senador Wellington Salgado (MG), que fez referência à afirmação de Jarbas, de que trabalhará pela candidatura de José Serra à Presidência:

- É um ingrato. Ele sempre foi uma espécie de espião do tucanato no PMDB. O Michel (Temer) terá de tomar uma postura. Ele comparou o PMDB a um sindicato de ladrões, do qual faz parte.

Líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) disse ter respeito pela história de Jarbas, mas se disse "chocado e decepcionado":

- Não é o que pensa o povo, que consagrou o PMDB como maior partido do Brasil. O PMDB está muito bem com a vida, mais unido, mais forte, respeitado, muito bem no governo.

Para ele, Jarbas fala sozinho e a atitude indica que ele pretende deixar o partido:

- É incoerência achar tudo isso e ficar no partido. Ele já declarou seu apoio ao José Serra. É uma atitude preparatória para buscar outros caminhos.

Presidente da Comissão de Orçamento, o deputado Mendes Ribeiro Filho (RS) também atacou o senador pernambucano:

- O PMDB tem seus problemas, mas todos os partidos têm. Se ele prefere ver o espaço no governo como caminho da corrupção, paciência. Para mim é o caminho da maioria, o jogo da democracia.

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, não foi localizado. A assessoria do Palácio do Planalto informou que o governo não iria se manifestar sobre a entrevista.

 

oglobo.com.br/pais