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Lula ofende aliados, afirma Virgílio

23/10/2009

No Brasil, Jesus se aliaria a Judas, disse presidente em entrevista

A afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que, se Jesus Cristo fosse governante do Brasil, teria de fazer coalizão com Judas, foi duramente criticada pela oposição. "A declaração de Lula é uma ofensa grave aos aliados", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Quem é Jesus? Ele? Não é demais ele se comparar a Cristo?"

A entrevista na qual Lula diz que Jesus teria de se aliar a Judas foi publicada ontem no jornal Folha de S. Paulo. "Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita deste país ou o maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer tem uma diferença do tamanho do Oceano Atlântico. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão", declarou Lula, ao defender suas atuais alianças.

A polêmica acontece dois dias após o jantar que selou a adesão do PMDB à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão presidencial. Maior aliado do governo, o partido tem as maiores bancadas da Câmara, com 92 deputados, e do Senado, com 17 parlamentares, além de presidir as duas Casas e comandar seis ministérios.

EM CAMPANHA

"Foi uma metáfora infeliz, pois Jesus já nos mostrou que a aliança com Judas, quando a gente já sabe que ele é Judas, não deve ser feita", reagiu a pré-candidata do PV à Presidência, senadora Marina Silva (AC). A ex-ministra do Meio Ambiente criticou a aliança entre PT e PMDB. "Consolida a visão de política que não se alinha de forma programática, mas pragmática."

O presidente do PPS, Roberto Freire, avalia que a alta popularidade de Lula, aferida em pesquisas, o fez "perder o senso de realidade", chegando ao "cúmulo de justificar suas alianças escusas colocando Jesus e Judas em conluio".

"Jesus se aliar a Judas para fazer política soa como uma blasfêmia", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, após evento sobre pré-sal no instituto que leva seu nome. "Não foi isso que a gente aprendeu na escola, nas aulas de religião."

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) declarou que "a empáfia do presidente está pior". "Ele mostra cada vez mais vocação autoritária. Despreza a questão ética e defende a promiscuidade que levou o partido dele a responder pelo mensalão. É pagar um preço muito elevado. Ele mostra, ao dizer isso, que não tem projeto de País, só projeto de poder."

"UMA AULA"

O vice-líder do governo no Senado, Gim Argello (PTB-DF), defendeu o presidente Lula, afirmando que ele "deu uma aula" sobre a política brasileira. "Lula falou o que é a realidade do País."

Argello, que também é líder do PTB, partido aliado ao governo, disse não ter se ofendido com a comparação do presidente usada para justificar suas alianças políticas. "O ideal é um presidente popular, bem avaliado, com credibilidade no Brasil e no mundo. Não sou PT, eu sou Lula - que é o animal político que mais conhece o sentimento do povo."

Provável candidato do PSDB à Presidência em 2010, o governador de São Paulo, José Serra, também repercutiu o fato. "Quem fala com Cristo pode perguntar a ele", ironizou, sobre a declaração do presidente.

"A entrevista mostra bem, de ponta a ponta, o que é o Lula na forma e no conteúdo. Nesse sentido é uma entrevista bem interessante", afirmou o tucano, sem explicar a quais características do presidente estava fazendo referência.

COLABORARAM SILVIA AMORIM, ROBERTO ALMEIDA e ANDREA VIALLI

O Estado de São Paulo - Carol Pires, BRASÍLIA