Outra declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - de que o jornalismo não deve fiscalizar, mas só informar -, causou indignação de entidades brasileiras ligadas à imprensa, que a classificaram como "infelicidade" e "equívoco". A afirmação foi feita na mesma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ), que congrega os veículos de comunicação impressos, reagiu à fala. "O presidente Lula está equivocado. Além de informar, que é uma de suas funções, a imprensa tem o clássico papel de investigar e presta excelentes serviços em todos os países em que exerce também esta função", afirmou o diretor executivo da entidade, Ricardo Pedreira. "Pobre da nação em que não há investigações de jornais e jornalistas."
"Ele mesmo já se beneficiou como cidadão, político e sindicalista desse papel fiscalizador dos jornalistas", sublinhou Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
De acordo com Andrade, a situação brasileira, que envolve pobreza e corrupção, não permite que a imprensa se ocupe apenas de informar. Segundo ele, é preciso fiscalizar o Estado e até mesmo substituir autoridades policiais e judiciais na investigação. "Sempre tenho dito que, enquanto os representantes políticos reclamarem da imprensa, estamos fazendo nosso papel - e eles o deles. Mas, quando há muitos elogios, algum problema há", ressaltou.
A visão de Andrade é corroborada pelo diretor da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Jesus Chediak. Para ele, a liberdade de imprensa e o direito à informação estão essencialmente unidos por uma demanda da sociedade. "O jornalismo investigativo é fundamental e os grandes repórteres também. São pessoas importantíssimas dentro da sociedade", afirmou o diretor da ABI.
A fiscalização e a investigação jornalística, segundo Chediak, são as maiores "armas da sociedade". "O jornalista não é uma carta fora da sociedade. Ele deve atender o direito à informação em todos os níveis", alertou. "É importante esclarecer que em uma reportagem investigativa o jornalista chega a correr riscos."
Tanto Andrade como Chediak reconhecem, no entanto, a possibilidade de abusos na profissão. "De fato, às vezes acontece, mas são exceções que não justificariam abrir mão dessa função que nós exercemos com bastante competência", alertou o presidente da Fenaj.
O Estado de São Paulo - Roberto Almeida e Moacir Assunção