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Falta bom senso no Transporte Coletivo

28/10/2009

Usuários devem respeitar os direitos dos portadores de necessidades especiais

Após constantes reclamações sobre as péssimas condições do transporte coletivo da Grande Aracaju e falta de segurança, o prefeito Edvaldo Nogueira anunciou a renovação da frota de ônibus garantindo qualidade, respeito e inclusão social. Até o fim deste ano, 100 novos veículos serão entregues à população. Atualmente mais de 500 ônibus fazem parte do Sistema Integrado de Transporte e do Sistema Integrado Metropolitano. A frota atende a população da capital e dos municípios da região metropolitana - Barra dos Coqueiros, São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro.

Até o início do mês de outubro, a previsão é que cerca de 111 veículos sejam entregues, em um investimento da ordem de R$ 30 milhões. Os usuários do transporte coletivo já estão sentindo as melhorias da renovação da frota que já entregou 62 novos veículos. “Ter que acordar cedo e enfrentar um ônibus velho e superlotado para chegar até a universidade era um sacrifício grande. Agora nossa qualidade melhorou. Os novos veículos são confortáveis e organizados, além disso, aumentou o número de veículos nas linhas, desta forma, diminuiu a quantidade de passageiros”, vibra a universitária Jamile Garcia, que mora no Conjunto Augusto Franco e depende de três ônibus para chegar a Universidade Federal de Sergipe.

A maioria dos veículos já dispõe de GPS e câmeras de segurança. Segundo dados da SMTT, entre os meses de janeiro a julho deste ano foi registrada uma diminuição de 51,67% no número de assaltos a ônibus em Aracaju, em relação ao mesmo período do ano passado.

Uma das prioridades da Prefeitura de Aracaju, é oferecer um transporte de qualidade para os usuários portadores de necessidades especiais. Já são beneficiados com a isenção do pagamento da tarifa em todas as linhas urbanas de ônibus: idosos (homens a partir de 65 anos e mulheres a partir de 60 anos), deficientes físicos (com direito a acompanhante) e crianças. Além disso, os veículos oferecem lugares sentados, reservados as gestantes, mulheres portando bebês ou crianças de colo, usuários que apresentam dificuldades de locomoção, idosos e deficientes físicos.

Mas para que os benefícios sejam disponibilizados é necessário bom senso e espírito de união. Muitos usuários que têm direito de atendimento preferencial estão reclamando o descaso. “Os ônibus estão equipados com o elevador que facilita a locomoção do cadeirante, mas as pessoas não têm paciência. Enquanto a ferramenta é preparada para ser utilizada, os passageiros gritam o motorista pedindo para ser mais rápido. O processo é concluído em torno de 10 minutos. Já passei por diversas situações de humilhação em público, após esperar por 3h a chegada de um ônibus adaptado, recebi vaias dos usuários que estavam com pressa de chegar a praia”, lamenta Cláudio Brito, que é paraplégico e necessita de utilizar o transporte público para estudar e praticar exercícios físicos. “É muito complicado, um treino do grupo de basquete cadeirado já foi cancelado devido a esta falta de solidariedade, este problema afeta meus amigos também”, completa.

De acordo com a Lei nº 4.491/2005, o transporte coletivo deve reservar 10% dos assentos para idosos com avisos expostos no local, mas nem sempre as leis são respeitadas no seu dia-a-dia. A frota de ônibus da Grande Aracaju possui placas explicativas no interior dos veículos, separando as poltronas para os idosos, gestantes e deficientes físicos, mas no corre-corre, o que vem valendo é o bom senso dos usuários.

"Os jovens não têm sensibilidade. Deixar vaga para os idosos é uma questão de educação. Todos conhecem a lei, mas poucos respeitam. É mais comum uma pessoa mais velha se levantar para oferecer a poltrona. Quando entra um deficiente, idoso ou gestante é notável a insatisfação das pessoas, alguns cedem por obrigação e não por solidariedade, esquecem que a terceira idade chega para todos”, conta a professora aposentada Maria Tereza Alves, 78 anos.

As gestantes também compartilham com a falta de respeito. “Fiquei em pé dentro do ônibus mais de meia hora, cheguei em casa sentindo dores fortes nos pés. Durante o percurso, senti enjôo e tontura, mas ninguém percebeu”, desabafa a empregada doméstica Marinalva Santos, que entrou no oitavo mês de gestação.

Para o psicólogo Edvaldo Negrão, a vida agitada da modernidade prejudica os relacionamentos humanos. “As pessoas estão cada vez com mais pressa e não se preocupam em ajudar o próximo, todos correm contra o tempo em busca de seus objetivos, mas é necessário ter sensibilidade e olhar sempre para quem necessita de apoio. A conscientização é muito importante, além disso, o ser humano precisa entender que nada é mais importante do que a saúde e bem estar. Gestos pequenos trazem grandes benefícios para quem é ajudado e para quem estende a mão”, explica.

Além do bom senso, o estudante de Serviço Social, Júlio Almeida, acredita que é necessário preparo e campanha educativa de cidadania e respeito, para que a sociedade e os trabalhadores do sistema de transporte público saibam receber a pessoa com deficiência de locomoção, mas que tem o mesmo direito de ir e vir. “Já morei em algumas cidades e cito Fortaleza como um bom exemplo, naquela cidade os moradores respeitam os portadores de necessidades especiais, a conscientização começou de dentro. Os profissionais do transporte receberam treinamento para se qualificar e saber como orientar os usuários rebeldes. Além disso, os empresários e autoridades investiram em campanhas de conscientização. Mudar a cultura de um povo não é fácil, mas acredito que é possível aos poucos, em breve esta situação será resolvida aqui”, vibra.

Fonte: SN1 - Fredson Navarro


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