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Lula nasceu pelas mãos de uma parteira

6/11/2009

Parteira quilombola sergipana emociona Lula
“Sou parteira há 51 anos. Não sei ler nem escrever...Josefa recebeu palmas o tempo todo...

Josefa da Guia, 65 anos, foi tão ou mais aplaudida que o presidente da República. A parteira tradicional, neta de escrava, quilombola, rezadeira, natural e residente em Poço Redondo, Sertão de Sergipe, conquistou a plateia de cientistas e militantes da saúde pública na noite de ontem no Teatro Guararapes, na cerimônia onde a estrela era o pernambucano pobre, que fugiu da seca no pau-de-arara, tornou-se metalúrgico e sindicalista em São Paulo, depois presidente do Brasil e conseguiu colocar na agenda política do País a mesma fome que Josué de Castro expôs à ciência no século passado.

Convidada por um diretor do Ministério da Saúde para compor a mesa da conferência de Lula, junto com ministros, governador, prefeitos e pesquisadores, Josefa recebeu palmas o tempo todo. “Sou parteira há 51 anos. Não sei ler nem escrever... Aí eu quero perguntar a Lula: tenho cinco mil partos e não posso resgatar nada?”, discursou. Pediu ao presidente que garantisse as terras do quilombo e depois o elogiou por estar “enchendo a barriga dos pobres”.

Lula retribuiu o elogio, dizendo que nasceu pelas mãos de uma parteira. “Fiquei muito feliz. Foi uma surpresa estar ali”, confessou depois Josefa, que de batismo é Josefa Maria da Silva Santos. Ela pediu a garantia das terras, onde vivem 200 famílias, porque já houve o reconhecimento do quilombo, mas o governo ainda não teria pago a indenização dos fazendeiros, que continuam no local. Josefa também gostaria de ter apoio financeiro do governo, pois faz partos na comunidade. “Semana passada fiz quatro”, contou. Ela é mãe de 23 filhos (cinco paridos por ela e 18 por outras). Além de terra e ajuda financeira – sobrevive com a aposentadoria de agricultora – precisa de água encanada e melhor moradia. Diz que na comunidade (Serra da Guia, em Sergipe) há posto de saúde, mas que a assistência nessa área precisa melhorar para todos, pois há fila e falta respeito aos usuários. Antes de dividir a cena com o presidente, Josefa foi destaque na roda de conversa da Tenda Paulo Freire, espaço do movimento popular no Congresso de Saúde Pública.