Vereadora fala sobre caso de racismo no aeroporto: “Esse ato é uma mancha para Aracaju”
Militante do Movimento Negro de Sergipe, a vereadora Rosângela Santana, PT, está acompanhando de perto o desenrolar do caso da médica Ana Flávia Silva Pinto, acusada de discriminar o funcionário da empresa aérea Gol, Diego José Gonzaga dos Santos, no último dia 26.
Em entrevista ao Cinformonline, Rosângela afirma que o fato, cuja repercussão foi nacional, é uma “mancha para Aracaju, considerada uma cidade de excelente qualidade de vida”. Além disso, ela destaca a omissão de outros casos de discriminação em Sergipe e afirma que o ocorrido alimenta ainda mais a força dos militantes e simpatizantes no Movimento Negro. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Cinformonline – Vereadora, como a senhora avalia esse acontecimento do último dia 26?
Rosângela Santana – Foi um ato grotesco, desrespeitoso, preconceituoso e criminoso. Uma vergonha para o povo de Aracaju, considerado por visitantes como um povo educado e hospitaleiro. Uma mancha para nossa Aracaju, considerada uma cidade de excelente qualidade de vida, uma das melhores do país.
Cinformonline - A senhora acredita ser esse apenas um entre muitos outros casos que não tomam tais proporções na mídia?
RS - Casos idênticos se repetem, porém sem as devidas provas e sem a denúncia dos agredidos, pois quando se dirigem às delegacias são ignorados, como também o foi, inicialmente, o rapaz agredido pela médica. Lamentavelmente ainda vamos lutar muito para tipificar o crime de racismo, luta semelhante a das mulheres para chegar à lei Maria da Penha. Durante muitos anos mulheres foram duplamente agredidas nas delegacias desse país pelos companheiros agressores e pelo aparelho de Segurança ao não recebê-las com as suas feridas. Assim vivem os negros: humilhados, agredidos, violentados em sua integridade física e moral, desassistidos pelos órgãos de Segurança Pública.
Cinformonline - Diante da posição tomada pelo delegado Washington Okada em não efetuar o flagrante, a senhora acredita ser a prova de que Sergipe não está preparado para lidar com tal crime? Ou a senhora acredita ter sido apenas despreparo do citado delegado?
RS - Talvez este conteúdo não conste nos currículos desses profissionais.
Cinformonline - Segundo a médica Ana Flávia, a situação foi decorrente de um surto pós-traumático e que não teve a intenção de discriminar ninguém. Como a senhora avalia tal justificativa?
RS – Pessoas que surtam precisam de tratamento médico, não podem andar às soltas agredindo outras. Não nos interessa as intenções dela. Interessa-nos o que ela fez. Além disso, nunca soube que estresse desencadeasse características preconceituosas nos seres humanos. O estresse pode causar certo descontrole emocional sim, mas fazer surgirem preconceitos, não.
Cinformonline - Estamos a poucos dias do Dia da Consciência Negra, dia 21. Diante da proximidade da data, o episódio interfere nas atividades que, acreditamos, estão sendo programadas para o dia?
RS – Episódio igual a este nos dá mais força e mais consciência do ser Negro nesse país. Tenho certeza de que o fato motivará muito mais militantes a participarem dos atos tradicionalmente promovidos por diversos segmentos do Movimento Negro e seus simpatizantes.