A decisão sobre a localização das usinas centrais nucleares que devem ser instaladas no Nordeste deve sair em cerca de dois meses. Os empreendimentos vêm sendo disputados pelos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco mas, de acordo com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, quase todos os estados da região cobiçam o empreendimento, incluindo o Rio Grande do Norte. "Vamos construir duas usinas nucleares no Nordeste. Em que estados não sabemos ainda. Deve sair essa decisão dentro de dois meses", afirmou o ministro, durante o seminário Brasil na Era do Pré-Sal, na última semana.
Ministério das Minas e Energia defende ampliação de matriz energética com usina nuclear, como em Angra. Foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 1/11/06
O que os estados disputam, na verdade, são investimentos diretos de R$ 7 bilhões em cada usina, com potencial de gerar aproximadamente seis mil empregos. "Quase todos os estados do Nordeste querem a instalação dessas usinas porque são geradoras de riqueza, de mão de obra e não causam nenhum malefício", defendeu o ministro. Segundo ele, o petróleo está em decadência no mundo e é preciso investir em outras fontes de geração de energia.
"São 441 usinas nucleares no mundo. Vários países estão ampliando suas matrizes com usinas nucleares porque é uma energia firme, limpa e sem riscos de natureza nenhuma", argumentou, tentando afastar os fantasmas de uma "ameaça atômica" que paira no imaginário popular desde o acidente de Chernobyl (1986), na Ucrânia, e o vazamento de Cesio-137 em Goiânia (GO), em 1987, elemento radioativo que contaminou centenas de pessoas.
As usinas devem começar a ser construídas em 2012, com capacidade individual de produzir 1.000 megawatts (MW). Pernambuco e Bahia chegaram a propor o conceito de central nuclear, envolvendo a construção de duas usinas nas margens do Rio São Francisco, uma ao lado da outra, como ocorre em Angra (RJ), com Angra I e Angra II. Os governadores Eduardo Campos e Jaques Wagner estariam dispostos, até mesmo, a mudar a legislação que delimita a divisa entre os dois estados, uma vez que dessa forma as usinas não podem ser construídas em margens distintas.
Entretanto, a lista inicial da Eletronuclear, estatal responsável pela construção das usinas e detentora do monopólio sobre esse tipo de energia, deve conter entre 15 e 20 locais candidatos. Os técnicos já andaram anunciando que a localização ideal seria algum ponto no litoral, entre Salvador e Recife. É que as usinas nucleares precisam de um grande volume de água para resfriamento do reator. Além do projeto de Angra 3, que foi retomado, a intenção do governo é construir mais seis usinas nucleares até 2025. O objetivo é chegar até lá com uma participação de 5,6% de energia nuclear na matriz energética brasileira, contra os atuais 2,5%.