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Pequenas na frente

11/11/2009

Indústrias das menores metrópoles do país apresentam desempenho melhor que o das localizadas nas principais cidades, preservando mais postos de trabalho

A crise que tolheu empregos em todo o mundo e afetou dramaticamente o setor produtivo brasileiro preservou o trabalhador de chão de fábrica das indústrias instaladas em estados menos evoluídos tecnologicamente. Diferentemente do que ocorreu em unidades da federação mais industrializadas como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, não houve demissões em massa nos estados distantes do Centro-Sul. Pelo contrário. Em unidades como Rondônia, Acre e Ceará, o emprego industrial ficou positivo.

Levantamento feito pelo Correio com base em números do Ministério do Trabalho mostra que, nos últimos 12 meses terminados em setembro, o emprego na indústria de transformação(1) ficou positivo apenas em estados onde há menos concentração de indústrias, como Roraima, Piauí e Sergipe. A exceção é a Bahia, que registrou pequena alta no emprego industrial em doze meses: 0,07%.

Durante o período de crise, a maior parte dos empregos criados pela indústria se concentrou nos estados das regiões Norte e Nordeste. No Ceará, o saldo ficou positivo em 6,2%. E no Amapá, no extremo norte do país, houve variação positiva entre os desligamentos e as admissões na ordem de 9%, de outubro de 2008 a setembro deste ano.

Nos estados mais industrializados, que concentram a maior parte das fábricas ligadas a setores que sofreram mais com a crise, como o siderúrgico e o de bens de capital, houve queda abrupta das contratações. É o caso de São Paulo, que concentra boa parte de tudo o que é produzido no Brasil. Foi por causa do baque sentido, sobretudo pela indústria automobilística, que o estado registrou perdas no emprego da ordem de 6% até setembro.

Em estados como Rio de Janeiro e Paraná também houve desligamentos, ainda que de maneira menos avassaladora. Nessas unidades da Federação, o emprego industrial variou para baixo em 0,5% e 1,8%, respectivamente. O mesmo não se pode falar do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, que tiveram perdas de 4,3% e de 5,4%, respectivamente.

Demanda
“São Paulo sofreu mais porque, além de concentrar fábricas de automóveis, possui o maior número de empresas exportadoras do país”, disse a economista Luiza Rodrigues, do Banco Santander.

Segundo Luiza, os estados que mais sofreram com a crise foram os que têm maior sensibilidade às variações da demanda externa e do câmbio.Esses tiveram recuo na produção, em virtude da queda das exportações aos principais países compradores de manufaturados brasileiros, como Estados Unidos, Argentina e México.

A economista do Santander também chama a atenção para um outro fato: a redução na produção, independentemente de qualquer estado, foi maior do que a queda do emprego industrial. Em outras palavras, os empresários demitiram pouco, a julgar pelo que deixaram de produzir. “Isso abre espaço, agora, para uma acomodação, uma queima de gordura do emprego industrial. E deverá permanecer assim até, pelo menos, o fim do primeiro trimestre do ano que vem. Não vejo um futuro exuberante para o emprego industrial nos próximos meses”, projeta a economista.

1 - Grandeza
A indústria de transformação produz tudo o que é consumido da forma em que é entregue, como um aparelho de DVD ou um trator. Em geral, corresponde a mais de 90% de tudo o que o setor produz. As variações que a indústria de transformação podem ter são inúmeras. As mais comuns são da área mineral: metalúrgica, siderúrgica e petroquímica. Essas empresas se localizam, em sua maioria, no centro-sul do Brasil, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. A menor distância dos portos diminui os custos de se transportarem mercadorias para outros países, o que faz com que esses estados sejam responsáveis por quase todo o Produto Interno Bruto (PIB) industrial.

Deco Bancillon
Correio Braziliense