O Brasil é um país no qual fazer parte das camadas mais humildes, dos setores mais pobres da sociedade, é viver em riscos dobrados ou triplicados. Para com estas ‘castas’, o Estado costuma ser mais perverso do que o que o é para com as demais, e lhes nega tudo. Ou quase tudo. Da educação à segurança; da moradia ao saneamento. E em assim sendo, não poderia ser diferente com a saúde.
E é justamente neste setor, que tem evoluído bastante e do qual se exige cada dia mais aplicações de recursos redobrados, que as pessoas das esferas humildes e pobres mais padecem. E é um padecer crônico e nacional. Aplica-se em cada canto deste país e se faz presente em Sergipe, com a saúde da esfera pública estadual, em Aracaju e em cada um dos 74 demais municípios, de uma maneira vergonhosa.
Durante uma semana o CINFORM se debruçou sobre os problemas desta área em hospitais e postos de saúde da rede pública de Aracaju e do Estado, e faz um retrato contundente na reportagem ‘Pobres são agredidos e desrespeitados pelos serviços de saúde pública de Sergipe’. Nesta matéria, o leitor vai ficar sabendo que os caminhões de recursos públicos despejados na saúde pública não são suficientes para fazer com que os seus usuários tenham tratamento nem dentro das condições mínimas. Nela, vai se ver o absurdo de pessoas jogadas em macas – espaços de luxo – pelos corredores do maior hospital do Estado, o HUSE; outras varando madrugada para marcar uma consulta e, mais do que isso, se vendo numa fila de espera de até oito meses para um atendimento em áreas mais cobiçadas.
Tudo isso quando Estados são obrigados a investir 12% e municípios 15% de suas receitas financeiras na atividade de saúde pública. Do alto de suas visões burocráticas, pouco práticas e pouco sociais, os gestores mais diretos do Estado e do município de Aracaju, Rogério Carvalho e Marcos Ramos, veem as coisas às mil maravilhas. “Sergipe é um dos Estados que mais investe nesta área. Aracaju é uma das cidades que tem maior capacidade de resolução de seus problemas de saúde”, gaba-se o Marcos.
Marcos e Rogério parece que se esqueceram de combinar com as comunidades esta partilha de bom conceito da saúde pública. “Dizem que somos modelo. Só se for modelo de miséria. Tudo é fachada. O atendimento que recebemos é uma cachorrada”, brada Gilvan de Jesus, presidente da Federação das Associações de Moradores de Aracaju, que não hesita em meter o dedo na ferida da saúde que os pobres recebem. Na prática, ele sabe do que está falando bem mais do que os burocratas do Estado.