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Tarot, do vício à virtude

30/3/2009

 (*) O Lacrau

Minha Menina,
 
Sonho vai, pesadelo vem e vamos ao gosto do vento deixando corações e mentes qual pipa que menino traquina solta escondido dos pais.
Escrevo-te hoje esta carta aqui do mundo de pau e pedra, tão longe mas tão vizinho do nosso mundo de tapetes mágicos, bruxas e duendes. Mundos vizinhos mas, que ainda assim, nos impõe viajem e distância.  
Em tua cartinha que ainda ontem entre um e outro afazer tirei do bolso para ler, me falas de um baralho de tarot que comprastes e me pergunta se posso te ensinar a tirar as cartas.
Ah minha Menina, pra ter teu cheiro perto de mim, pra olhar teus olhos de mel bem de perto, pra me embriagar do teu sorriso meio menina , meio sacana, ah...ensino-te até a voar minha Menina.
Mas falando do tarot minha Menina é história longa que nenhum homem de sabença ou de ciência sabe dizer quando e onde começou.
Mas te conto aqui história que nas minhas caminhadas ouvi dizer e que casa bem com a minha alma quando abro o baralho da Estrada Real pra ajudar algum caminhante na estrada que leva ao fim da Roda da Vida.
Sei que ai tua cabecinha de romances ta se perguntando que negócio de Estrada Real e Roda da Vida é esse. Mas te explico viu minha Menina.
Estrada Real era como os mestres do Egito antigo chamavam o caminho que o ser humano precisa percorrer para encontrar a luz, para ver Deus face a face. Era um caminho cheio de provas, de aprendizados e experiências. E Roda da Vida é para os indianos minha Menina, as encarnações sem fim que temos geração após geração até que consigamos encontrar a luz e a perfeição para não mais precisar viver as dores e sofrimentos tão comuns nessa nossa Terra de Gigantes onde, como diria o poeta, se trocam vidas por diamantes.
A história que quero te contar do tarot minha Menina, é mesmo lá desse tempo dos egípcios.
Conta-se que os mestres espirituais do Egito, prevendo a queda do império por causa da vaidade de seus soberanos que de povos que deveriam ser irmãos fizeram escravos e acumularam assim inimigos por gerações, decidiram que era hora de encontrar uma forma de preservar o conhecimento da Estrada Real para as futuras gerações.
Reuniram então os maiores mestres egípcios e de outras paragens para decidir como fazer essa transmissão de conhecimento.
Após dias de discussão, ficou acertado que escolheriam alguns dos homens mais virtuosos e a eles seria confiado o conhecimento para que o passassem a futura geração e essa a próxima e assim por diante.
Porém, quando já se discutiam os nomes desses virtuosos homens, um mestre antigo fez uma observação. Ele disse:
Irmãos, nada nesse mundo é tão frágil quanto à virtude. E a virtude desses homens um dia se quebrando, os segredos da Estrada Real estarão para sempre perdidos, ou pior, serão entregues a homens e mulheres indignos de tão sagrado saber.
Proponho irmãos, que encerremos nossos segredos, de forma codificada em um jogo de baralho. Para que o vicio, provavelmente a mais forte das criações humanas, leve nossos conhecimentos as gerações futuras. E que aqueles que, de coração puro e de mente iluminada, possam, olhar este baralho com os olhos do espírito, resgatem do meio do vício a virtude da busca pela luz.
E foi assim minha Menina, que nasceu o tarot e chegou aos nossos dias.
Na nossa história humana, muitas vezes mestres espirituais reforçaram a idéia que é justamente dos vícios e das mazelas que pode nascer a luz e a sabedoria.
Os mestres Hindus, escolheram a Flor de Lótus como símbolo disso. A Flor de Lótus nasce branca e pura do meio da lama.
E o que dizer de Jesus? Mestre maior que escolheu viver entre o povo com seus vícios e falhas ao invés de viver entre os anjos e santos?
 
Minha Menina, vou aqui me despedindo e deixando contigo esta história para que tenhas agora outros olhos para este baralho que esta em sua mão.
Olhe não só como um punhado de papéis coloridos. Mas como um retrato da história secular da busca humana pelo divino.
 
Fica aqui meu beijo, pois te beijar tem sido o meu vicio, e minha redenção minha Menina.

 

 
 
 
* Lacrau é o pseudônimo de Davison Viana no grupo Fraternidade Literária Divina Comédia.
   Davison Viana é astrólogo, membro de várias ordens iniciáticas e acredita que um bom bate-papo com Deus resolve qualquer problema.