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O Senador diz que não vai deixar o Orçamento ser administrado como uma “Cosa Nostra”.

5/4/2009

O Globo - ENTREVISTA  - Almeida Lima
 
O novo presidente da poderosa Comissão Mista de Orçamento, o senador sergipano Almeida Lima (PMDB), reconhece que teria dificuldades de ser escolhido para o cargo sem a força dos padrinhos: o líder Renan Calheiros (PMDB-AL) e o presidente do Senado, José Sarney. Fora do plenário, onde faz discursos empolados que lhe renderam o apelido de “Microfone”, Almeida se diz “chicleteiro”, gíria dos fãs da banda de axé Chiclete com Banana, e “orkuteiro”. Afirma que defenderá os interesses de Sergipe e receberá empresários, pois considera legítimo que defendam seus interesses no Congresso.
 
O senador, que já deixou a Comissão de Orçamento duas vezes, diz que não gostava das coisas que via lá. Mas agora diz que não vai deixar o Orçamento ser administrado como uma “Cosa Nostra”.
 
Maria Lima e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA
 
O GLOBO: Incomoda dizerem que foi contemplado com o cargo pela defesa que fez contra a cassação de Renan Calheiros?
 
Almeida Lima: Não. O líder Renan queria que eu fosse indicado pela bancada, e fui. Se isso aconteceu, é porque devo ter qualidades. O que me deixa mais confortável é que no final de 12 meses posso ter um trabalho que será bem visto. Colocarei por terra toda a ideia de que essa indicação foi um prêmio.
 
Seria escolhido não fosse a amizade com Renan e Sarney?
 
ALMEIDA: Até poderia ter dificuldades.
 
Quando falam que há um grupo Renan/Sarney, vejo isso como legítimo. Ninguém pode desconhecer a liderança dos dois na bancada.
 
Renan poderá usar seu peso na comissão para se cacifar, barganhar junto a Lula?
 
ALMEIDA: As pretensões políticas de Renan são, sim, legítimas.
 
Mas não fazendo uso de uma peça orçamentária de forma indevida.
 
O Orçamento e meu trabalho serão pautados pelos critérios republicanos. Nossa visão é de que estaremos elaborando um plano de receitas e despesas tratando da coisa pública, do dinheiro do povo, e não dos interesses da “ Cosa Nostra” (máfia italiana). Fui indicado por Renan, mas com apoio de toda a bancada do PMDB.
 
Quando fala em “Cosa Nostra”, o que quer dizer?
 
ALMEIDA: Que não podemos fazer da coisa pública uma coisa pessoal, individual , privada.
 
Interesses, ali, precisam ser os públicos e coletivos.
 
Já foi indicado outras vezes para membro da Comissão e não quis. Por que agora?
 
ALMEIDA: Quando cheguei ao Senado, em 2003, no PDT, fui indicado e lá estive uns três ou quatro meses, e pedi para sair.
 
Não gostei do que vi na Comissão de Orçamento. Isto é, tudo que a imprensa publica de tratativas não republicanas. Como presidente é outra coisa. Terei a condução dos trabalhos.
 
A Comissão ficou com imagem ruim após o escândalo dos anões (1993). Lá há um forte lobby, principalmente das empreiteiras.
 
Já é assediado?
 
ALMEIDA: Não fui procurado.
 
Mas quero dizer o seguinte: no dia em que for, atenderei a todos.
 
Não discrimino empresários.
 
Todos têm legitimidade de procurar as instituições para defender seus interesses. Cabe a nós tratar o Orçamento como peça de interesse público.
 
E em Sergipe, tem recebido pedidos dos prefeitos?
 
ALMEIDA: Tenho sido visitado por inúmeros prefeitos. Coitados, têm uma batata quente nas mãos. Sou de um estado pequeno do Nordeste, onde os pequenos municípios tiveram um corte exagerado no FPE e no FPM.
 
O que o senhor puder fazer por Sergipe...
 
ALMEIDA: Eu irei poder fazer.
 
Não vou permitir que outros estados também sejam discriminados.
 
Estará na mira da fiscalização por ser amigo de Renan?
 
ALMEIDA: Desejo que os holofotes estejam presentes não por gostar de mídia. Já dei demonstrações de que não trabalho a mídia. Do contrário não teria defendido Renan. Desejo ser extremamente fiscalizado. Acho que todos vão pegar no meu pé.
 
Muitos colegas seus criticaram sua indicação. É inveja?
 
ALMEIDA: Exatamente. Mas isso é normal na política, sempre há os adversários. Por outro lado, vejo que se trata de muita ignorância.
 
Vi uma frase de meu queridíssimo amigo Sergio Guerra infeliz, impensada, que denota ignorância: ele disse que conhece tanto de astronomia como eu de Orçamento. Tenho como formação o Direito, de ciências jurídicas e sociais, que é também abrangido na feitura do Orçamento. Não tenha a menor dúvida que é (dor de cotovelo) ou falta de informação.
 
O fortalecimento do PMDB causou ciúmes ao PT?
 
ALMEIDA: O PMDB voltou este ano com poder revigorado pela vontade do povo. As mudanças já estão acontecendo, com a eleição dos presidentes da Câmara e Senado. Só quem não teve ciúmes foi o governo, o presidente Lula. Não vejo o governo como PT. Mas cada partido quer ser forte e fica incomodado com o fortalecimento do outro. Não vamos é pedir desculpas porque estamos fortes. Estamos prontos para exercer o poder e vamos exercer.
 
Acha que o PT está por trás da onda de denúncias que atinge a administração Sarney?
 
ALMEIDA: Não vejo o PT por trás de nada disso. Mas concordo que o Senado precisa de um faxina, sim, e Sarney, com a Mesa, está promovendo.
 
O GLOBO: Porque o apelido “Microfone”? Dizem que o senhor é uma voz à procura de uma ideia.
 
ALMEIDA: Isso é hipocrisia que vem lá de Sergipe. Nunca tive apelido lá ou aqui. Nenhum parlamentar me chamou disso (microfone).
 
Não há político sem adversário. Então, radiola de feira, microfone, tudo é palhaçada de meus adversários de lá.
 
O que faz para se divertir?
 
ALMEIDA: Adoro dançar.
 
Odeio não ter ainda aprendido a dançar tango. Gosto de internet.
 
MSN, Orkut...
 
Qual banda gosta mais?
 
ALMEIDA: Chiclete com Banana, axé. Sou chicleteiro.
 
O senhor tem Orkut?
 
ALMEIDA: Lógico que tenho Orkut! Estou fazendo o segundo profile. O primeiro já tem 994 amigos e outros 20 pedidos para eu adicionar.
 
‘Adoro dançar. Sou chicleteiro’