A pesquisa política adquiriu nas modernas campanhas eleitorais uma importância que não deve ser ignorada
Considerando-se a importância que a pesquisa política adquiriu nas modernas campanhas eleitorais, o título desta coluna (Porque pesquisar ?) deve parecer insólito e despropositado. Mas a verdade é que não é. Poucas são as campanhas eleitorais no Brasil que incorporam a pesquisa ao seu núcleo central de estratégia e decisão, e que desenvolvem um programa de pesquisas sistemático e continuado, sob a responsabilidade de profissionais qualificados.
Prevalecem ainda os sentimentos de que o dinheiro que se gastaria em pesquisa poderia ser aplicado, com mais rendimento eleitoral, em outras áreas da campanha; que as pesquisas realizadas por TVs e jornais são suficientes e não custam nada.
Na verdade, nenhuma despesa de campanha é mais estratégica e mais rentável politicamente do que aquela feita na pesquisa.
A pesquisa está para a estratégia e marketing da candidatura como os exames de laboratório que o médico requisita, estão para o diagnóstico e para a terapêutica. Para preencher a sua função de subsidiar a definição da estratégia e a segmentação do eleitorado, ela deve ser feita “sob medida” para a candidatura, por isso também são de pouca utilidade prática o uso dos resultados das pesquisas feitas pelos órgãos da mídia.
Estas pesquisas põem a sua ênfase na mensuração das intenções de voto, o que é importante, mas pouco ajuda na tarefa de definir uma estratégia e segmentar o eleitorado. É importante porém chamar a atenção para o fato de que há pesquisa e “pesquisas” . Ainda dá-se o nome de pesquisa a muitos levantamentos e “enquetes” que não preenchem os requisitos técnicos de uma pesquisa científica.
A pesquisa que interessa ao candidato segue rigorosamente os critérios, universalmente adotados, com relação ao plano amostral, elaboração de questionário e trabalho de campo. Nela, tudo é feito para assegurar que todos os indivíduos, da população pesquisada, tenham iguais chances de “caírem” na amostra, que for extraída daquele universo.
Em pesquisa não se pode fazer nenhuma concessão com os critérios aleatórios e probabilísticos da amostra, nem com os procedimentos padrão de elaboração de questionário e sua aplicação. Não há pois meio termo. Ou é uma pesquisa feito de acordo com o protocolo metodológico padrão, por pessoas qualificadas para tal, ou não serve. É preferível não ter pesquisa a ter uma mal feita.
A pesquisa é imprescindível porque ela produz informações decisivas para o sucesso da campanha, e, que sem ela não seriam conhecidas. Para posicionar uma candidatura é preciso produzir um “ajuste” entre o projeto eleitoral do candidato – foco, imagem e propostas – e as expectativas e prioridades dos eleitores, pelo menos de uma parcela expressiva do eleitorado, suficiente para elegê-lo.
Todos os elementos indispensáveis para o posicionamento da candidatura, por outro lado, dependem de informações que precisam ser produzidas isto é, recolhidas de uma amostra representativa do eleitorado.
Questões como o grau de conhecimento do candidato, opinião sobre ele, sentimentos em relação a ele, atributos pessoais, políticos e administrativos da imagem do candidato e da de seus oponentes, qualificações atribuídas ao cargo em disputa, imagem desejada pelos eleitores, e outras análogas são fundamentais para a fixação da imagem do candidato na campanha.
A identificação dos temas principais da campanha para o eleitor e os sentimentos positivos ou negativos associados com eles; as prioridades que o eleitor estabelece; as expectativas que nutre; sua avaliação dos partidos, administrações e políticos; os valores, idéias, princípios, preconceitos, opiniões que possui; são indispensáveis para a definição da mensagem e propostas da candidatura.
Finalmente, as informações sobre idade, sexo, renda, ocupação, escolaridade, filiação política dos entrevistados vão permitir o entendimento das relações existentes entre sentimentos e opiniões do eleitor e as variáveis sócio-econômicas, políticas e demográficas.
Conhecendo a natureza destas relações, pode-se extrapolá-las, do limitado número de entrevistados, para o conjunto do eleitorado. O candidato pode então planejar sua publicidade sabendo que, ao falar de um determinado assunto, apresentando determinados argumentos e propostas, estará indo ao encontro do que pensam/sentem X% do eleitorado.
Além disso, com estas informações, torna-se possível fazer a segmentação do eleitorado, criando-se agrupamentos de eleitores em função do grau de probabilidade de vir a votar no candidato, dando maior realismo e racionalidade ao uso do tempo do candidato e dos recursos materiais da campanha.
É comum ouvir-se o candidato dizer que “não pode dar-se o luxo de fazer pesquisa “. Na realidade, o candidato não pode é dar-se o luxo de não fazer pesquisa. Além de produzir informações que não seriam conhecidas sem ela, a pesquisa é também uma forma de aplicar racionalmente os sempre escassos recursos de campanha, resultando o gasto feito com ela em economia.
Portanto, se outras razões não existissem, o candidato deve pesquisar, porque é mais prudente pensar que o seu adversário já está pesquisando, e tendo acesso àquelas informações estratégicas.
Francisco Ferraz