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Aracaju,
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Vultos Históricos de Sergipe |
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Augusto
Maynard
CANHÕES E TRINCHEIRAS NA PRAIA
FORMOSA
José Anderson Nascimento
*
Na madrugada de 13 de julho de 1924, a cidade
do Aracaju era sacudida por cruento tiroteio, alimentado pelo matraquear
das metralhadoras do 28º Batalhão de Caçadores,
cuja corporação havia sido sublevada pelo capitão
Eurípedes Esteves de Lima e tenentes Augusto Maynard Gomes,
João Soarino de Melo e Manuel Messias de Mendonça,
para apoiar a Revolução Paulista de 1924, que havia
estourado na cidade de São Paulo, a 5 de julho, sob a liderança
do general Isidoro Dias Lopes, major Miguel Costa, João Cabanas
e Joaquim Távora, contra o Presidente da República,
Artur da Silva Bernardes. O objetivo desse movimento de oposição
a Bernardes, era pôr fim à oligarquia do Partido Republicano
Paulista e Partido Republicano Mineiro, que impunham sempre em seus
conchavos os presidentes, impedindo assim que se manifestasse livremente
o desejo do povo na escolha do Chefe da Nação.
Crises militares foram uma constante na primeira fase da República,
mas, a partir de 1922, elas ganhariam um novo protagonista: a oficialidade
de baixa patente, de que decorreu a denominação "Tenentismo".
Encarnando as aspirações da classe média urbana,
esses revolucionários pugnavam pela adoção
do voto livre e secreto e pela moralização dos costumes
políticos.
O primeiro levante tenentista teve lugar no final do governo do
Presidente Epitácio Pessoa, com a Revolta do Forte de Copacabana.
Enfrentando uma grave crise militar, provocada pela publicação
na imprensa de cartas ofensivas às Forças Armadas,
atribuídas ao candidato Artur Bernardes, Epitácio
Pessoa determinou o fechamento do Clube Militar e a prisão
do seu presidente, Hermes da Fonseca. Dois meses depois, a 5 de
julho de 1922, revoltaram-se as guarnições dos fortes
do Vigia e de Copacabana, neste último sob o comando do capitão
Euclides Hermes da Fonseca, filho do ex-presidente. A revolta, contornada
em dois dias, não teria maiores conseqüências,
não fosse o episódio dos Dezoito do Forte de Copacabana,
quando o tenente Antônio Siqueira Campos e dezesseis companheiros
negaram-se a capitular e marcharam para a praia, onde receberam
a adesão do civil Otávio Correia. Ali, enfrentaram
sozinhos as tropas do governo. No combate, morreram os tenentes
Nilton Prado e Mário Carpenter e o civil Otávio Correia.
A Revolta de 13 de Julho, associada ao 5 de Julho, marca o inicio
do movimento tenentista em Sergipe. Os revoltosos atacaram o Palácio
do Governo, que foi defendido pelo tenente Stanley Fernandes da
Silveira. Na luta, morreu o soldado José Martins de Castro
e saíram feridos o cabo Marcílio Cordeiro Santa Bárbara
e o soldado Manuel Inácio Teles. No ataque ao Quartel da
Policia Militar, situado na antiga Rua da Frente, hoje Ivo do Prado,
onde funciona a Secretaria da Educação, morreu o soldado
José Rodrigues de Oliveira e muitos ficaram feridos. O Telégrafo
Nacional e a Estação Ferroviária, esta última,
localizada nas proximidades do Mercado Thales Ferraz, foram ocupados
simultaneamente. Recolhiam-se presos ao Quartel do 28º Batalhão
de Caçadores, então, localizado na atual Praça
General Valadão, onde, hoje, está edificado o antigo
Hotel Pálace de Aracaju, os oficiais que não aderiram
ao movimento, a começar pelo seu Comandante, Major Jacinto
Dias Ribeiro, capitães Augusto Pereira, Misael Mendonça
e Galdino Ferreira Martins e os tenentes Heráclito d'Ávila
Garcez, Antenor Cabral, João Batista de Matos e José
Figueiredo Lobo, filho do ex-Presidente do Estado de Sergipe, José
Joaquim Pereira Lobo.
Na mesma madrugada era também preso o Chefe de Polícia,
Ciro Cordeiro de Farias, e a resistência do governo estadual
ficava fraca e acéfala, tendo os revoltosos ocupado todos
os pontos estratégicos da capital.
No dia seguinte, o Presidente (Governador) do Estado, Dr. Maurício
Graco Cardoso, era preso e recolhido ao Quartel do 28º BC,
juntamente com alguns auxiliares do primeiro escalão, entre
eles o Dr. Hunald Santaflor Cardoso e o Secretário Gera1
do Governo, Dr. Carlos Alberto Rolla. O governante ficou incomunicável
enquanto durou a Revolta.
Formada a Junta Governativa, logo passou-se à convocação
de reservista e de voluntários. Aracaju estava em pé
de guerra. Enorme era o aparato bélico nas suas ruas e areais.
Preocupados com um possível desembarque de tropas contrárias
pelo mar, os revoltosos cuidaram logo de minar a barra do Rio Sergipe
e de estacionar o canhão SERGIPE, nas brancas areias da Praia
Formosa, voltado para o canal. Ali, também, colocaram mais
dois canhões, um denominado de UNIÃO FAZ A FORÇA
e o outro conhecido por 42, mortífera arma alemã da
Guerra de 1914. Na Praia Formosa cavaram várias trincheiras
e levantaram barricadas com sacos de areia.
A resistência à possível reação
dos bernardescos não ficou só em Aracaju. O tenente
Maynard deslocou tropas para a Vila do Carmo, atual Carmopólis,
ao Norte, visando conter o Batalhão Hercilio Brito, que marchava
contra as suas posições com mais de 80 homens em armas
e muitos cangaceiros procedentes do Baixo São Francisco.
Tropas de Maynard foram ainda enviadas para São Cristóvão
e Itaporanga D'Ájuda, ao Sul. Sabia-se, outrossim, que partia
de Simão Dias uma coluna comandada pelo coronel Pedro Freire
de Carvalho, objetivando defender o Presidente c Estado, em poder
dos revoltosos.
Em Salvador, o general Marçal Nonato de Faria era encarregado
pelo Governo Federal de restabelecer a ordem em Sergipe, sufocando
a Revolta e reconduzindo ao Governo o Dr Graco Cardoso. Para essa
tarefa contou com mais de mil homens, procedentes de várias
unidades militares, a começar pelo 20º BC, de Alagoas;
21º BC, de Pernambuco e 22º BC, da Paraíba. Contou,
mais, com soldados das Policias Militares da Bahia e de Alagoas,
além do Batalhão Hercilio Brito.
Na verdade, só os revoltosos do 28º BC cumpriram o articulado
com os seus camaradas paulistas. Em São Paulo, o Governo
Federal reagiu logo, bombardeando a cidade às cegas, atingindo
civis e residências. No final de julho o cornando revolucionário
evacuou a cidade, dirigindo-se parte de suas tropas para o sul onde
se juntou às forças do capitão Luís
Carlos Prestes, e parte para Catanduva, onde ainda houve uma resistência
por alguns meses.
As tropas de Prestes haviam surgido no Rio Grande do Sul, como decorrência
da Revolução de 1924. Quando se uniram à Coluna
Paulista, formaram um novo destacamento revolucionário, a
Coluna Prestes,' que por quase três anos percorreu 36.000
km pelo interior do Brasil, através de quase todos os Estados,
divulgando o programa revolucionário do tenentismo e travando
uma série de combates com as forças do governo.
O restabelecimento da ordem legal em Sergipe tornava-se, contudo,
missão espinhosa para o general Marçal Nonato, desde
quando te ria que cumpri-la sem derramamento de sangue e sem negociar
condições de rendição com os revoltosos.
Por outro lado, o capitão Euripedes Esteves de Lima, em nome
da Junta Governativa, anunciava às autoridades e ao povo
em geral que os revoltosos estavam preparados para reagir a qualquer
provocação ou afronta. Dizia, mesmo, que a deposição
do Dr. Graco Cardoso não se prendia à política
estadual, absolutamente. Atendia, isso sim, a movimento revolucionário.
O primeiro choque das revoltosos com o Batalhão Hercilio
Brito aconteceu nos arredores de Carmopolis e os ribeirinhos fugiram
desesperados ao primeiro tiro de um velho canhão.
No Rio de janeiro o Congresso Nacional decretava no dia 14 de julho
o estado de sitio sobre São Paulo, que se estendia aos Estados
de Sergipe e Bahia.
Respaldado com instrumentos legais, o general Marçal
nato montou a operação para restabelecer a legalidade
em Sergipe. Seria uma campanha conjunta de mar e terra. Para isso
contou com navios da Marinha de Guerra e locomotivas da Ferrovia
Leste Brasileiro.
Devido às dificuldades ao desembarque que teriam as tropas
legalistas na Praia Formosa, o executor do sitio em Sergipe preferiu
desembarcá-las nas praias da Estancia.
Com efeito, no dia 24 de julho, por cerca das 10 horas, os navios
Comandante Miranda, Iris, Maraú e Canavieiras singravam as
águas do Rio Real e Piauí, desembarcando as tropas
e os equipamentos no Crasto, em Santa Luzia do Itanhy. Defronte
da praia do Mangue Seco, ficando ao largo o contra-torpedeiro Alagoas.
O cerco aos revoltosos apertava. O general Nonato proclamava a 25
de julho, na Estancia, que todos os atos praticados pela Junta Governativa
estavam nulos. Adiantava que até o momento do restabelecimento
da ordem constitucional, todas as autoridades deviam-lhe obediência,
situação que somente cessaria com a reposição
do Dr. Graco Cardoso no Governo do Estado.
Ajustados os primeiros preparativos, a tropa da Policia da Bahia
foi unir-se a segmento do Exército em Salgado. Daí
partiram para Itaporanga D'Ájuda, onde os revoltosos recuaram
para São Cristóvão e, de São Cristóvão
recuaram ainda mais para Aracaju, em que a resistência foi
efêmera fazendo-os capitular. Em Carmópolis a resistência
foi maior, em que pese o porfiado tiroteio que abafou a retaguarda
dos tenentes.
A calma somente voltou a reinar em Aracaju a 3 de agosto. Revoltosos
eram capturados e levados ao Quartel do 28º Batalhão
de Caçadores, outros entregavam-se voluntariamente. O tenente
Augusto Maynard, auxiliado pelo amigo Brasiliano de Jesus, conseguiu
fugir ao cerco e bateu-se em São Paulo, sendo preso e conduzido
à ilha da Trindade, localizada a 1.150 Km a leste do Estado
do Espirito Santo, que se havia transformado em prisão militar.
Mais de 500 pessoas foram indiciadas em processos criminais, porém
os ideais de liberdade permaneceram vivos entre os sergipanos.
Com Maynard, nascia em Sergipe a liderança na luta contra
a casagrande e a cana-de-açúcar, na expressão
do Professor Artur Fortes.
O coroamento, porém, do movimento tenentista em Sergipe,
deu-se com a Revolução de 30 e, principalmente com
a nomeação do capitão Augusto Maynard para
Interventor Federal no Estado.
E, em sua homenagem, a Praia Formosa transformava-se em "Praia
13 de Julho", pelo Ato nº 11, do Intendente Municipal
Camilo Calazans, publicado no Diário Oficial de 28 de novembro
de 1930, em que Augusto Maynard Gomes foi reconhecido como o grande
líder militar do levante de 13 de Julho de 1924.
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Fonte:
JOSÉ ANDERSON NASCIMENTO é ocupante da Cadeira nº
20
da Academia Sergipana de Letras.s
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Gilberto
Amado
Gilberto Amado, jornalista, político,
diplomata, poeta, ensaísta, cronista, romancista e memorialista,
nasceu em Estância, SE, em 7 de maio de 1887, e faleceu no
Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 1969. Eleito em 3 de outubro
de 1963 para a Cadeira n. 26, na sucessão de Ribeiro Couto,
foi recebido em 29 de agosto de 1964, pelo acadêmico Alceu
Amoroso Lima.
Era o primeiro dos 14 filhos do casal Melchisedech
Amado e Ana Amado. Fez os estudos primários em Itaporanga,
também no interior do Sergipe. Depois estudou Farmácia
na Bahia e diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife, da qual
se tornou, ainda muito moço, catedrático de Direito
Penal.
Em 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro,
iniciando a sua colaboração na imprensa, no Jornal
do Commercio com um estudo sobre Luís Delfino. Passou depois
a ocupar uma coluna semanal, em O País. Em 1912, realizou
sua primeira viagem à Europa assunto de um de seus livros
de memórias e em 1913, como era então a moda, pronunciou,
no salão nobre do Jornal do Commercio, a convite da Sociedade
dos Homens de Letras, uma conferência em que fez o elogio
do espírito contemplativo A chave de Salomão, que
no ano seguinte, juntamente com outros escritos, seria publicada
em livro.
Em 1915, foi eleito deputado federal por Sergipe.
Sua atuação na Câmara se fez sentir, sobretudo,
através de discursos que se tornaram famosos, como o que
pronunciou na sessão de 11 de dezembro de 1916 sobre "As
instituições políticas e o meio social no Brasil".
Nos últimos anos da República Velha, exerceu mandato
no Senado, até encerrar-se a sua carreira política,
com a Revolução de 1930. Em 1931, chamou a atenção
do país, e especialmente dos revolucionários de 30,
vitoriosos mas indecisos, para problemas de direito político,
como os sistemas representativos, a representação
proporcional, o sufrágio universal. Depois de um curso de
conferências sobre esses temas, publicou Eleição
e representação (1932), de viva atualidade ainda hoje.
Por essa época, voltou ao magistério superior, na
Faculdade de Direito do Distrito Federal, iniciando um novo e fecundo
período em sua vida, de estudos e trabalhos.
Em 1934, deu início ao que foi, desde então,
a sua atividade permanente: a diplomacia. Foi nomeado consultor
jurídico do Ministério das Relações
Exteriores, sucedendo a Clóvis Beviláqua. Desse posto
passou ao de embaixador, sendo a sua primeira missão junto
ao governo do Chile (1936). De 1939 a 1947, foi ministro na Finlândia.
A partir de 1948, tornou-se membro da Comissão de Direito
Internacional da ONU, sediada em Genebra. Os arquivos do Itamarati
guardam os numerosos relatórios, pareceres e teses de Gilberto
Amado, documentos da sua contribuição ao estudo do
Direito Internacional, durante o período de 28 anos em que
integrou essa Comissão. Foi também delegado do Brasil
a todas as sessões ordinárias da Assembléia
Geral da ONU, desde as primeiras, realizadas ainda em Lake Success,
logo depois da assinatura da Carta de São Francisco, até
à última a que pôde comparecer, reunida em Nova
York em 1968. São de sua autoria publicações
que se encontram no Anuário das Nações Unidas,
tais como: "Direitos e deveres dos Estados", "Definição
da agressão", "Processo arbitral", "Reservas
às Convenções multilaterais", e outras.
Afastado do Brasil em missões oficiais
no exterior, Gilberto Amado aos poucos foi se tornando, entre nós,
figura mítica. Periodicamente vinha ao Brasil, fazendo quase
sempre coincidir sua permanência no Rio com o lançamento
de um novo livro. Como toda figura mítica, tornou-se conhecido,
sobretudo, pelas lendas e anedotas que circulavam a seu respeito,
reproduzindo ditos espirituosos e atitudes inusitadas. A carreira
de escritor seguiu sempre paralela à do político e
do diplomata. Em 1917 publicou os versos de Suave ascensão,
lírico intermezzo numa fase de intensas preocupações
críticas, filosóficas, jurídicas e sociológicas,
que se exprimem em sucessivos ensaios sobre problemas brasileiros.
Em 1932, publicou Dança sobre o abismo, em que retorna ao
ensaio literário, e, no ano seguinte, Dias e horas de vibração,
crônicas de Paris. Surgiu como romancista, em 1941, com Inocentes
e culpados e, no ano seguinte, com Os interesses da companhia. Em
1954 iniciou a publicação de sua memórias,
com História da minha infância, a que se seguiram mais
quatro volumes.
Obras: A chave de Salomão e outros escritos,
ensaios (1914); A suave ascensão, poesia (1917); Grão
de areia, ensaio (1919); Aparências e realidades, ensaio (1922);
Eleição e representação, conferências
(1932); Dança sobre o abismo, ensaio (1932); Espírito
do nosso tempo, ensaio (1933); Dias e horas de vibração,
crônicas (1933); Inocentes e culpados, romance (1941); Os
interesses da companhia, romance (1942); Poesias (1954); Assis Chateaubriand,
ensaio (1953).
MEMÓRIAS: História da minha
infância (1954); Minha formação no Recife (1955);
Mocidade no Rio e primeira viagem à Europa (1956); Presença
na política (1958); Depois da política (1960).
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Fonte: Academia Brasileira de Letras
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Sílvio
Romero
Sílvio Romero (S. Vasconcelos da Silveira
Ramos R.), crítico, ensaísta, folclorista, polemista,
professor e historiador da literatura brasileira, nasceu em Lagarto,
SE, em 21 de abril de 1851, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em
18 de julho de 1914. Convidado a comparecer à sessão
de instalação da Academia Brasileira de Letras, em
28 de janeiro de 1827, fundou a Cadeira n. 17, escolhendo como patrono
Hipólito da Costa.
Foram seus pais o comerciante português André Ramos
Romero e sua mulher Maria Joaquina Vasconcelos da Silveira. Na cidade
natal iniciou os estudos primários, cursando a escola mista
do professor Badu. Em 1863, partiu para a corte, a fim de fazer
os preparatórios no Ateneu Fluminense. Em 68, regressou ao
Norte e matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife. Formou,
ao lado de Tobias Barreto (que cursava o 4o ano quando Sílvio
se matriculou no primeiro) e junto com outros moços de então,
a Escola do Recife, em que se buscava uma renovação
da mentalidade brasileira. Sílvio Romero foi, no início,
positivista. Distinguiu-se, porém, dos que formavam o grupo
do Rio, onde Miguel Lemos levava o comtismo para o terreno religioso.
Espírito mais crítico, Sílvio Romero se afastaria
das idéias de Comte para se aproximar da filosofia evolucionista
de Herbert Spencer, na busca de métodos objetivos de análise
crítica e apreciação do texto literário.
Estava no 2o ano de Direito quando começou
a sua atuação jornalística na imprensa pernambucana,
publicando a monografia A poesia contemporânea e a sua intuição
naturalista. Desde então, manteve a colaboração,
ora como ensaísta e crítico, ora como poeta, nas folhas
recifenses, entre elas A Crença, que ele próprio dirigia
juntamente com Celso de Magalhães, o Americano, o Correio
de Pernambucano, o Diário de Pernambuco, o Movimento, o Jornal
do Recife, a República e o Liberal.
Assim que se formou, exerceu a promotoria em Estância.
Atraído pela política, elegeu-se deputado à
Assembléia provincial de Sergipe, em 1874, mas renunciou,
logo depois, à cadeira. Regressou a Recife para tentar fazer-se
professor de Filosofia no Colégio das Artes. Realizou-se
o concurso no ano seguinte e ele foi classificado em primeiro lugar,
mas a Congregação resolveu anular o concurso. A seguir,
defendeu tese para conquistar o grau de doutor. Nesse concurso Sílvio
Romero se ergueu contra a Congregação da Faculdade
de Direito do Recife, afirmando que “a metafísica estava
morta” e discutindo, com grande vantagem, com professores
como Tavares Belfort e Coelho Rodrigues. Abandonou a sala da Faculdade;
foi então submetido a processo pela Congregação,
atraindo para si a atenção dos intelectuais da época.
Em fins de 1875, transferiu-se para o Rio de Janeiro.
Foi para Parati, como juiz municipal, e ali demorou-se dois anos
e meio. Em 1878, publicou o livro de versos Cantos do fim do século,
mal recebido pela crítica da corte. Depois de publicar Últimos
harpejos, em 1883, abandonou as tentativas poéticas. Já
fixado no Rio de Janeiro, começou a colaborar em O Repórter,
de Lopes Trovão. Ali publicou a sua famosa série de
perfis políticos. Em 1880 prestou concurso para a cadeira
de Filosofia no Colégio Pedro II, conseguindo-a com a tese
Interpretação filosófica dos fatos históricos.
Jubilou-se como professor do Internato em 2 de junho de 1910. Fez
parte também do corpo docente da Faculdade Livre de Direito
e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio
de Janeiro.
No governo de Campos Sales, foi deputado provincial
e depois federal pelo Estado de Sergipe. Nesse último mandato,
foi escolhido relator da Comissão dos 21 do Código
Civil e defendeu, então, muitas de suas idéias filosóficas.
Na imprensa do Rio de Janeiro Sílvio Romero
tornou-se literariamente poderoso. Admirador incondicional de Tobias
Barreto, nunca deixou de colocá-lo acima de Castro Alves;
além disso, manteve, durante algum tempo, uma certa má
vontade para com a obra de Machado de Assis. Sua crítica
injusta motivou Lafayette Rodrigues Pereira a escrever a defesa
de Machado de Assis, sob o título Vindiciae. O Sr. Sílvio
Romero crítico e filósofo. Como polemista deve-se
mencionar ainda a sua permanente luta com José Veríssimo,
de quem o separavam fortes divergências de doutrina, método,
temperamento, e com quem discutiu violentamente. Nesse âmbito,
reuniu as suas polêmicas na obra Zeverissimações
ineptas da crítica (1909).
Sílvio Romero foi um pesquisador bibliográfico
sério e minucioso. Preocupou-se sobretudo com o levantamento
sociológico em torno de autor e obra. Sua força estava
nas idéias de âmbito geral e no profundo sentido de
brasilidade que imprimia em tudo que escrevia. A sua contribuição
à historiografia literária brasileira é uma
das mais importantes de seu tempo.
Era membro do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, sócio correspondente da Academia das Ciências
de Lisboa e de diversas outras associações literárias.
Obras: Cantos do fim do século, poesia
(1878); A filosofia no Brasil, ensaio (1878); Interpretação
filosófica dos fatos históricos, tese (1880); Introdução
à história da literatura brasileira (1882); O naturalismo
em literatura (1882); Últimos harpejos, poesia (1883); Estudos
de literatura contemporânea (1885); Contos populares do Brasil
(1885); Estudos sobre a poesia popular do Brasil (1888); Etnografia
brasileira (1888); História da literatura brasileira, 2 vols.
(1888; 2a ed. 1902; 3a ed. 1943, organização e prefácio
de Nélson Romero, 5 vols.); A filosofia e o ensino secundário
(1889); A história do Brasil ensinada pela biografia de seus
heróis, didática (1890); Parlamentarismo e presidencialismo
na República Cartas ao conselheiro Rui Barbosa (1893); Ensaios
de Filosofia do Direito (1895); Machado de Assis (1897); Novos estudos
de literatura contemporânea (1898); Ensaios de sociologia
e literatura (1901); Martins Pena (1901); Parnaso sergipano, 2 vols.:
1500-1900 e 1899-1904 (1904); Evolução do lirismo
brasileiro (1905); Evolução da literatura brasileira
(1905); Compêndio de história da literatura brasileira,
em colaboração com João Ribeiro (1906); Discurso
recebendo Euclides da Cunha na ABL (1907); Zeverissimações
ineptas da crítica (1909); Da crítica e sua exata
definição (1909); Provocações e debates
(1910); Quadro sintético da evolução dos gêneros
na literatura brasileira (1911); Minhas contradições,
com prefácio de Almáquio Dinis (1914); Trechos escolhidos,
seleção e prefácio de Nelson Romero (Nossos
clássicos, 25; 1959); Sílvio Romero: teoria, crítica
e história literária, com introdução
de Antônio Cândido (1978).
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Fonte: Academia Brasileira
de Letras |
Tobias
Barreto
Tobias Barreto de Meneses nasceu na vila sergipana de Campos, a
7 de junho de 1839, sendo filho de Pedro Barreto de Meneses, escrivão
de órfãos e ausentas da localidade. É o patrono
da Cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Letras.
Aprendeu as primeiras letras com o professor Manuel
Joaquim de Oliveira Campos. Estudou latim com o padre Domingos Quirino,
dedicando-se com tal aproveitamento que, em breve, iria ensinar
a matéria em Itabaiana.
Em 1861 seguiu para a Bahia com a intenção
de freqüentar um seminário mas, sem vocação
firme, desistiu de imediato. Sem ter prestado exames preparatórios
voltou à sua vila donde sairá com destino a Pernambuco.
Em 1854 e 1865 o jovem Tobias, para sobreviver, deu aulas particulares
de diversas matérias. Na ocasião prestou concurso
para a cadeira de latim no Ginásio Pernambucano, sem conseguir,
contudo, a desejada nomeação.
Em 1867 disputou a vaga de Filosofia no referido
estabelecimento. Venceu o prélio em primeiro lugar, mas é
preterido mais uma vez por outro candidato.
Para ocupar o tempo entrega-se com afinco à
leitura dos evolucionistas estrangeiros, sobretudo o alemão
Ernest Haeckel que se tornaria um dos mais famosos cientistas da
época com seus livros "Os Enigmas do Universo"
e "As Maravilhas da Vida".
No campo das produções poéticas
passou Tobias a competir com o poeta baiano Antônio de Castro
Alves, a quem superava, contudo, no lastro cultural.
O fato de ser mestiço prejudicou-lhe a
vida amorosa numa época cheia de preconceitos, conforme testemunho
de Sílvio Romero.
Na oratória Tobias se revelava um mestre,
qualquer que fosse o tema escolhido para debate. O estudo da Filosofia
empolgava o sergipano que nos jornais universitários publicou
"Tomás de Aquino", "Teologia e Teodicéia
não são ciências", "Jules Simon",
etc.
Ainda antes de concluir o curso de Direito casou-se
com a filha de um coronel do interior, proprietário de engenhos
no município de Escada.
Eleito para a Assembléia Provincial não
conseguiu progredir na política local.
Dedicou vários anos a aprofundar-se no
estudo do alemão, para poder ler no original alguns dos ensaístas
germânicos, à frente deles Ernest Haeckel e Ludwig
Büchner". Conta Hermes Lima, em sua magnífica biografia
de Tobias, que ele "para irritar o burguês, com uma nota
mais ostensiva de superioridade, abria freqüentemente seu luminoso
leque de pavão: o germanismo". Foi em alemão
que Tobias redigiu o "Deutscher Kampfer" (O lutador alemão).
Mais tarde sairiam de sua pena os "Estudos Alemães".
A residência em Escada durou cerca de dez
anos. Ao voltar ao Recife, aos escassos proventos que recebia juntaram-se
os problemas de saúde que acabaram por impedí-lo de
sair de casa.
Tentou uma viagem à Europa para restabelecer-se
fisicamente. Faltavam-lhe os recursos financeiros para isso. Em
Recife abriram-se subscrições para ajudá-lo
a custear-lhe as despesas.
Em 1889 estava praticamente desesperado. Uma semana
antes de morrer enviou uma carta a Sílvio Romero solicitando,
angustiosamente, que lhe enviasse o dinheiro das contribuições
que haviam sido feitas até 19 de junho daquele ano. Sete
dias mais tarde falecia, hospedado na casa de um amigo.
A obra de Tobias é de significativo valor,
levando em conta que o professor sergipano não chegou a conhecer
a capital do Império.
Suas "Obras Completas", editadas pelo
Instituto Nacional do Livro, incluem os seguintes títulos:
"Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica", 1875.
"Brasilien, wie es ist", 1876. "Ensaio de pré-história
da literatura alemã". "Filosofia e Crítica".
"Estudos Alemães", 1879. "Dias e Noites",
1881. "Polêmicas", 1901. "Discursos",
1887. "Menores e Loucos", 1884.
Hermes Lima, ao comentar o refúgio
de Tobias Barreto em Escada, esclareceu: "Em Escada, além
de publicar o "Fundamento do Direito de Punir", erige
o germanismo em caminho de cultura. É onde aprofunda seu
Haeckel, onde elabora sua posição filosófica,
onde traça as coordenadas da revolução espiritual
que viria a deflagrar-se no país".
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Fonte: Academia Brasileira
de Letras |
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