O veículo, ligado a um computador, é capaz de memorizar o caminho e repeti-lo, depois, sem ninguém na direção.
A coluna de ciência e tecnologia do Bom Dia Brasil mostra hoje uma novidade. Ainda está em fase de testes. Mas, se der certo, vai ser um alívio para muita gente. Gente que não aguenta mais dirigir, que sofre para estacionar e que precisa de um carro que ande sozinho.
Nossa equipe foi até o sul de Minas Gerais conhecer um projeto que começou agora a ser testado há dois, três meses. Mas parece ter futuro. O carro anda mesmo sozinho.
Cada um tem o seu carro ideal, de sonho.
“O meu sonho é ter um carro que corra muito”, diz uma motorista.
“Um carro prático, que não seja tão grande, fácil de estacionar”, completa um jovem.
“Um carro que não gaste combustível. Já vem de fábrica para usar direto sem gastar nada. Isso é o sonho de todo o mundo”, brinca um motorista.
Jovens universitários resolveram fazer diferente. Estão construindo o carro dos sonhos. No Instituto de Engenharia de Sistemas e Tecnologia da Informação da Universidade Federal de Itajubá, o motor não é a preocupação principal. Nem se abre o capô. Agora, com os acessórios é um mimo só.
Também pudera: o carro é todo tecnologia: olhos eletrônicos no teto, modernos sensores espalhados por todo o carro, o porta-malas está cheio de equipamento. Dez pessoas tocam os estudos do "Driving 4 you", "dirigindo para você", em português.
O carro é bastante diferente. Tem câmeras no teto. Mas acredite se quiser, isso não foi tudo. Olha o que eles fizeram com o interior do veículo. Todo painel teve que ser retirado para facilitar a instalação dos equipamentos que vão realmente fazer o carro andar sozinho, como o volante, por exemplo.
Um motor teve que ser instalado para fazer com que o carro vire para esquerda ou para direita. Os pedais continuam os mesmos: acelerador e freio. Não tem embreagem porque ele é um carro hidramático, automático, passa as marchas sozinho. Os equipamentos são ligados a um computador pessoal.
Aliás, toda concepção começou virtualmente. Cálculos, estudos do movimento. Simulações de como o carro iria se comportar.
"Isso não é um jogo. Parece um jogo mas é uma simulação usando a matemática e cinemática do próprio veículo e depois a gente faz a implementação. Essa implementação usou todos os algorítimos na situação real. Se o pneu, na vida real, estiver arreado, o carro não vai saber reagir a essas diferenças impossíveis de serem previstas na tela do computador. Realmente, precisamos fazer esses ajustes na prática”, explica o professor de engenharia/Unifei Leonardo de Mello Honório.
Esse é o momento tão esperado. O carro é levado para um pátio. O computador de bordo vai registrar um circuito feito pelo motorista em um gramado de 600 metros quadrados. O carro vai ser capaz de memorizar o caminho. E repeti-lo sem ninguém na direção. Ou quase.
“Eu vou ficar dentro do carro. Posso ficar tanto no banco do motorista como do passageiro. Não tem problema. Se acontecer alguma emergência e alguns dos circuitos falharem, eu tenho acesso ao menos ao freio de mão e eu consigo parar o carro”, diz o pesquisador.
O carro sai devagar, seguindo a velocidade e a direção programadas. O professor coloca as mãos para fora, para provar que não está controlando o veículo. Depois de um certo tempo, foi impossível não querer participar.
O professor sai bem na hora do carro fazer uma curva à esquerda. É nessa hora que o imprevisto acontece. E o carro não fez.
O que será que aconteceu, professor? “Acabou a bateria, que controla o dispositivo de direção. É uma bateria improvisada ainda, então corremos esse risco de acabar a bateria".
Solucionado o problema, lá vai o carro de novo. Sem professor ou repórter. Na frente de nossa câmera, ele deu mais de dez voltas. É possível perceber que o volante não vira aleatoriamente, simplesmente obedecendo a uma ordem: mas busca a rota definida pelo computador.
Por isso, o pessoal diz que o carro "aprende" o caminho.
"Em um ano, acho que será possível andar pelas ruas de Itajubá ou quem sabe Rio, São Paulo, Belo Horizonte. Ele vai conseguir parar na frente de uma pessoa, parar no sinal de trânsito, dobrar a esquerda na Avenida Atlântica, na Avenida Paulista, na Afonso Pena. O grande desafio é ter um veículo que seja inteligente, que ele não apenas consiga fazer isso, mas que consiga aprender com o ser humano o que ele tem que fazer", calcula.
Existe uma resistência. Pessoas que desconfiam das máquinas e a gente sabe que os computadores às vezes congelam, dão problema. Ao mesmo tempo, o prazo de um ano dado pelo professor para o carro andar sozinho no meio da rua parece muito otimismo. Mas ele garante que ainda vai ser preciso ter alguém dentro: o carro pode confundir uma sombra com uma pessoa, ficar desorientado com sinalizações diferentes.
Esse não é sequer o objetivo da equipe num primeiro momento. Uma ideia é adaptar essa tecnologia para agricultura, onde a plantação, os canteiros, não são retinhos, são estreitos. Ou em mineração, em ações repetitivas de carga e descarga.
Para esse carro existir como todos sonhamos, muito do que se tem hoje precisa ser aprimorado e barateado. Os sensores dispostos na lateral do carro já existem, facilitam a manobra em muitos desses carros.
Estes carros inicialmente só andarão nas vias expressas, porque são mais retas e desimpedidas. Os motoristas, durante uma viagem, ficarão livres para fazer outras atividades, como ler, assistir a um filme ou até dormir e serão mais seguros. Isso não tem preço.
Fonte: Bom Dia Brasil
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