Existirá, até mesmo no Iraque ou na Coréia do Norte, sujeito mais aporrinhador do que Ronaldo Ramos, agora metido a ser o Berlusconi das comunicações sergipanas, com o seu clicksergipe? Eu, hein? Ele botou na cabeça que o meu compadre Peixotinho deve virar articulista. Tudo por causa das cartas que eu sugeri que ele internetalizasse (êta neologismo danado!). Comuniquei ao meu compadre essa ideia ronaldiana (descabida, é bem verdade) e ele me perguntou: - Ô compadre, articulista num é o cabra que vive articulando maracutaias? Ao passo que lhe respondi: - Não, meu compadre, não é isto não. Ou seja, compadre, parece que não... O outro é articulador, que tem os do tipo bom e os do tipo cachorro gué do rabo fino. Naçãozinha de gente pereba, esta!
Agora, tudo que acontece deve merecer um comentário do meu compadre, na visão brioseira do Ronaldo. É no que dá ser descendente do Brioso, do Pé do Banco e dos Enforcados, ao mesmo tempo. O sujeito tem tudo para nascer e viver meio esquipado da bola. A mistura é pesada demais para um cristão. Acho que o Ronaldo não esquipa. Embora não seja este o pensamento de dois amigos dele, o chamado par de pôneis, tal é o tamanho da dupla. Deixe pra lá. Para a sorte dele, recebi uma carta do meu compadre, na qual ele deixa rolar a sua preocupação com as aves catartídeas, que se alimentam de carne em decomposição, isto é, a urubuzada (nada a ver com a urubuzada rubro-negra no 2x1 diante do São Paulo, no sábado, dia 10). E por falar na urubuzada (agora, sim, a flamenguista, claro), ela anda batendo asas à toa. Coithada! O timeco lá deles não passará do 6º lugar. Um amigo meu, vascaíno (21º colocado no ranking nacional), raivoso como todo “bacalhau” sabe ser, disse-me que quer ver o time da urubuzada ficar mesmo é no 5º lugar, no fim da competição nacional (o Corinthians abaixo, para não abrir vaga justamente para o 5º), perdendo para o 4º colocado no saldo de gols, por um golzinho de diferença apenas. Ai, sim, “bacalhau” goza. E como goza! Que o diga certo refrão cantado, no Maraca, pela urubuzada: “Bacalhau, bacalhau...”. O resto, claro, é indizível. Palavreado chulo de torcida, que, aqui, não vem ao caso. Mas, vascaínos são assim: mesmo no 21º lugar geral, eles gozam...
Chega de gozada ou de gozação. Vamos à carta do meu compadre Peixotinho:
Meu compadre, Dr. Zé Lima,
O meu Padim Padre Ciço lhe proteja e guarde. Ele que seja o seu guia, noite e dia sem cessar. Meu compadre, a coisa tá ficando mais preta do que o breu de noite sem lua e sem estrelas. O senhor que é um sujeito instruído, com a graça do Nosso Senhor, sabe das coisas mais do que eu. Mas eu, aqui no sertão ainda verde, por enquanto, nestas bandas da Rota do Sertão (antiga...!), também faço figura, né não? A televisão tá aí, mostrando de um-tudo. E eu botando as coisas na cachola, ruminando os assuntos do jeito que boi de carro velho rumina de noite, sem pensar no outro dia. O bicho fica perdido na ruminação. Ô compadre, boi pensa, é? O que tem de gente neste mundo que se parece com boi (e num falo dos chifres, não), num tá no gibi. Ora se tem. Né não? Massa de manobra...
O senhor viu que coisa tremenda, o caso do urubu branco? O senhor diz que o bicho é albino... Vôte! Imagine se seu Albino Curador fosse vivo e soubesse que deram o nome dele a um urubu. Iria ficar azedo, do jeito que ele era mais arranhento do que espinha de peixe, atravessada na garganta. Sujeito de trato difícil. Contudo, porém e todavia, era um curador de primeira. Não tinha rês ou gente mordida de cobra que ele não curasse. Na batata. Um cabra daquele calibre, hoje por aqui, num tem mais. Faz falta. E o urubu branco? E eu que pensei que cearense só gostasse mesmo do meu Padim, de farinha e de rapadura? Dei com os burros n’água. Atolei-me. Também pudera: o inverno despejou água com fartura. Foi embrejamento e atoleiro em tudo que era canto. Os sujeitinhos (uns bandidos, né não?) sumiram no oco do pau com o urubu e, ainda por cima, mataram o coitado e as outras aves que eles surrupiaram. Como é que se faz uma coisa dessas? Uns bichinhos inocentes de Jesus. Que trapo de homem faz uma desgraceira desse tipo, compadre? Isto é coisa de herege. Cadeia neles. Cadeia pra ver se se emendam. Tem cabra por aí que num se emenda, nem com cadeia, né não?
Tem outra, compadre. O senhor viu? O caso de outro urubu (este é dos pretos mesmo), lá de Tobias Barreto, que sumiu também? O danado tem (ou tinha) até nome: Conradinho. Oia! Igual ao meu primo Conradinho Leseira, comedor de tanajura. Sujeito mais seboso. Andou por uns tempos lá pras bandas de Pernambuco e voltou comendo bunda de tanajura frita no óleo. É, tem gosto pra tudo, né não? Pra esta e pra outras. Mas num faz mal. Cada um come o que gosta. Ou o que pode comer. Arre égua! A verdade é que urubu virou profissão de risco, aqui na terra das mudanças, compadre. Num é que a coisa tá mesmo mudando?É, tá... Ai, Jesus!
Mas, compadre, bandido num mata polícia? Devia ser sempre o contrário, no confronto direto, é só no confronto direto, fique bem entendido. Nada de abuso. Pois tem gente agora que deu pra matar urubu. Num deixa também de ser um tipo de bandido, né não? Pura perversidade. Nos tempos pra trás, se dizia que tinha gente matando cachorro a grito. Pois agora, mata-se urubu a tapa. Branco ou preto. Se continuar assim, dando sumiço na urubuzada (menos na rubro-negra; e que golaços, aqueles três contra o Coritiba, lembra, compadre?), quem é que vai fazer a limpeza das carniças do mundo? Meu compadre, tem é carniça no mundo, né não? Carniça em tudo que é canto. Carniça de tudo que é jeito. Na política? Tem carniça. Ih, como tem! E das bem pestilentas. No futebol? Tem cada carniça... Neste particular, tem carniça que desceu pra série D, tem carniça que se afundou na série D e vai acabar ficando sem série. Ah, futebolzinho da gota serena! Futebol nanico, coisa parecida com catação de sururu. É uma carniçada das seiscentas! Mas, onde num tem carniça, compadre?
O mundo tá perdido, compadre. Quem vai dar valia à gente? Dilma, Marina, Serra, Ciro? Ou será aquele cabra, lá do estrangeiro, que botaram pra fora do governo lá deles, e agora tá amoitado na Embaixada do Brasil? Ora, num já tá na nossa Embaixada? Num se diz que a Embaixada (vi isto na televisão) é território do Brasil? Traz ele pra cá, pra ficar no lugar do Lula, em 2011. Num pode? Dá-se um jeito. Hum... O certo é que o negócio num é fácil. Num vou dizer que num tem um magote de gente batendo palmas pro barbudo. Tem, tem sim. E depois dessa bolsa-família, compadre, só vendo o alvoroço do povo miúdo, como eu. Menos eu, que num vivo com estes vinténs do governo, não. Ele foi sabido por demais. Falam dele? Por que num fizeram o mesmo? Agora, quem é contra ele fica chorando o leite derramado. É tarde. Mas, uma coisa é certa: a candidata dele num decola, compadre. Até parece avião de asa avariada. Num sobe nem com reza e promessa pro meu Padim, que é santo de valimento. Tonho de Zefa de Chiquinha de Valdemar, que anda metido com o prefeitinho daqui, parecendo até um cheira fundilhos, vive arrotando que vem coisa pesada por aí. Será, compadre? E o que será, compadre? Num custa aguardar. Por ora, vou cuidando das minhas cabrinhas, que o senhor, pela misericórdia divina, salvou, e vou aguardando a hora de quebrar o milho, que é já, já.. Ah, compadre, Deus, Nosso Pai, me ajudou acima dos meus merecimentos. Vou colher e bater um bocado de milho, sim senhor. Uma fartura, uma fartura, uma fartura, como dizia o finado Zé do Vascore. Lembra dele, compadre, lá na Glória? Grande sujeito! Será que algum filho dele puxou ao pai? Sei não... Pena, que ele se foi muito cedo. Mas é isto mesmo. Tudo passa. E todos passam, mais hoje, mais amanhã. Pensando bem, até as carniças hão de passar, compadre, com ou sem urubu. Hão de passar, compadre, hão de passar...
A sua comadre, que hoje foi bater três ramos de vassourinha (e nisto ela é boa, compadre) na testa da filha de uma vizinha, ali embaixo, na ladeira do Grotão, pois a bichinha tá com a coisa do mau-olhado, manda lembrança. A sua comadre é boa mesmo neste negócio de reza. É da natureza dela. Pena que ela é acanhada, num se solta na reza. Ah, compadre, a Belinha, sua afilhada, tá trabalhando numa firma de computador. Ela disse que ainda vai trazer um bicho desse, portátil, para me ensinar a traquejar. E papagaio velho aprende nada? Ela trabalha pelo dia e estuda pela noite. Tá se virando. Assim é a vida: cada um tem que se virar como pode. Até urubu-rei, aquele que tem uma bolota amarelo-alaranjada na cabeça, e um pescoço vermelho, tem que se virar. Ou o senhor pensa que urubu-rei, só por que se acha rei, num se vira? Se vira, compadre, se vira, sim. E outra: é carniceiro do mesmo jeito. Urubu é urubu. Branco ou encarvoado, rei ou sem qualificação, tudo tem o mesmo formato de pé e o mesmo andar banzeiro. Só num merecem ser mortos, os bichinhos. Eles até tem uns ares com a politicalha toda que calça 44. É o povo quem diz. Eu cá num sei de nada.
Fico por aqui. É noite, o sono tá chegando de mansinho, como um ladrão... Ah, compadre, parece que aproveitaram o inverno pra plantar um pé de ladrão por aqui. Tem é ladrão, compadre. Deram pra roubar até esterco de cabrito. Que coisa! Cadê a polícia, compadre?
Até a próxima, compadre.
José Parente Peixoto, seu compadre Peixotinho do Umbuzeiro.
Pelo visto, o compadre não vai querer dar uma de articulista, não. Nesta, o Ronaldo Ramos vai sobrar. Mas, enquanto as cartas continuarem vindo, e quando vierem, eu as remeterei ao clicksergipe. Fazer o quê? Uma coisa fique clara: o compadre só me envia cartas quando quer e sobre o que quer. Assim é o meu compadre Peixotinho, devoto do seu Padim Ciço, que, como ele apregoa, é “santo de valimento”. Valha-nos Deus!
(*) Advogado, Mestre em Direito, Professor da UFS, Membro da ASL e do IHGSE.