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Fitoterápicos: instituições científicas de ponta estudam plantas

18/10/2009

RIO DE JANEIRO - A apropriação de plantas e ervas para fins medicinais remete aos primórdios da humanidade. E, até hoje, tomamos chás e extratos cujos poderes foram descobertos há séculos por nossos antepassados. Os medicamentos vegetais, no entanto, há muito ultrapassaram a condição de “chazinhos” e, cada vez mais, o conhecimento tradicional vem sendo aliado à pesquisa científica por pesquisadores que compreendem que ciência e natureza andam juntas na preservação da saúde.

– Muita gente pensa que fitoterapia é só o “chazinho da vovó”. Também é, mas não é apenas isso – afirma Glauco Villas Bôas, pesquisador e coordenador do Núcleo do Gestão em Biodiversidade e Saúde de Farmanguinhos. – A planta medicinal é remédio mesmo, e químicos, farmacólogos e antropólogos vêm se unindo para buscar conhecimentos tradicionais.

Levando-se em consideração que 80% da população mundial utiliza medicamentos de origem vegetal e que, segundo Villas Bôas, cerca de 3/5 dos produtos medicinais colocados no mercado têm origem biológica, não há mais como duvidar do poder desse tipo de medicamento. Prova disso é o fato de que uma das maiores referências em medicina do país, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um laboratório farmacêutico de renome mundial, vêm realizando diversas iniciativas em pesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos, sendo pioneiro na área de desenvolvimento de produtos naturais.

Da mesma maneira, essa capacidade de gerar riquezas e permitir produtos inovadores não passou desapercebida pelos cientistas e empresas farmacêuticas que, cada vez mais, vêm buscando aliar desenvolvimento científico com conhecimentos tradicionais de povos locais para explorar novas possibilidades:

– O Ministério da Saúde e as grandes corporações já perceberam a potencialidade dos fitomedicamentos em um país com a biodiversidade do Brasil – afirma Valério Morelli, engenheiro agrônomo e pesquisador da Farmanguinhos. – Em lugares como a Amazônia, por exemplo, você vê empresas realizando pesquisas de levantamento de dados entre índios e comunidades locais.

E a ideia de que medicamentos fitoterápicos são menos “científicos” do que os remédios sintéticos – os chamados alopáticos - vem sendo lentamente derrubada pela ciência. Segundo Villas Bôas, produtos de origem vegetal já estão se tornando líderes dentro do mercado, com grande aceitação de uma outrora relutante classe médica:

– Os problemas com os fitomedicamentos eram a credibilidade e o embasamento científico e tecnológico insuficientes – explica Villas Bôas – No entanto, essa relutância some a partir do momento em que produto passa por essas etapas de pesquisa e tem sua eficácia comprovada.

O trabalho científico, aliás, entra em ação logo nas primeiras fases da produção de um fitomedicamento. As plantas passam por um período de estudo e adaptação para obtenção de substâncias necessárias para a produção de um medicamento. Descobertas em seu ambiente natural, essas plantas são levadas para um local mais controlado, no qual os cientistas devem garantir que estejam padronizadas e que ainda sejam capazes de produzir as substâncias desejadas:

– Para estabelecer um padrão químico, pegamos a planta, enviamos para o laboratório e lá é feita sua “impressão digital”, ou seja, descobrimos quais substâncias existem nela e em que concentração – explica o agrônomo Morelli. – Também precisamos garantir que elas continuem produzindo as substâncias depois de retiradas de seu ambiente natural.

Fernanda Prates, Jornal do Brasil


 

Biodiversidade brasileira favorece a produção

 

Fernanda Prates, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Apostar nos fitoterápicos é, segundo os pesquisadores, uma solução eficiente para o Brasil tanto em termos ecológicos, como também econômicos e sociais:

– O desenvolvimento de uma política e tecnologia na parte de medicamentos de origem natural significa um custo de produção bem mais reduzido – explica Valério Morelli, engenheiro agrônomo e pesquisador de Farmanguinhos. – Se é mais barato que os medicamentos alopáticos e possui a mesma eficiência, por que não apostar nisso?

Valério Morelli diz que substâncias com propriedades medicinais só são secretadas a partir de estímulos específicos, que vão desde as condições de luz ao contato com um mosquito, por exemplo.

Depois da extração da substância com potencial medicinal, vem uma outra etapa da produção do fitoterápico: o estudo farmacológico, no qual a substância encontrada é testada em cobaias e, posteriormente, em humanos. Esse tipo de cuidado é essencial porque, assim como quaisquer medicamentos, os de origem vegetal podem causar reações adversas.

– Entre os dez principais remédios, cerca de cinco ou seis deles foram criados a partir de uma substância natural – ressalta Morelli. – O caso da aspirina é um bom exemplo, já que seu princípio ativo foi retirado de uma casca de árvore.

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