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Raio X para novas práticas

27/10/2009

Especialistas refletem sobre cursos de pedagogia e licenciaturas e propõem os princípios para atualizar a formação docente. Entre as sugestões, um consenso: é preciso aumentar o contato direto entre o futuro professor, as escolas em que atuará e os conteúdos a serem ministrados

A formação de professores é o tema da vez. À medida que o problema da qualidade da educação ganha centralidade - seja nas políticas, seja no debate público - fica evidente que, sem um investimento forte e consistente na formação dos profissionais que assumirão as salas de aula, especialmente a inicial, não se conseguirá produzir avanços na aprendizagem nem melhorar a qualidade da educação.

O poder público, em várias instâncias e partes do país, vem tomando iniciativas nessa área. Em maio último, o Ministério da Educação (MEC), lançou o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, um esforço inédito no Brasil, que envolve governo e 90 instituições públicas de ensino superior em 21 estados com o objetivo de formar, até 2014, 330 mil professores que estão na ativa, mas que não contam com formação de nível superior adequada. A falta de formação ou a formação inadequada dos professores é apontada como um problema central, capaz de impedir os avanços na qualidade do ensino.

Além do governo federal, estados e municípios estão tomando suas providências. Em algumas localidades, como o Estado de São Paulo, o governo anunciou a intenção de criar a Escola de Formação de Professores, com a finalidade de estreitar a distância entre os cursos de pedagogia e licenciatura e a sala de aula. A partir do momento que a Escola começar a funcionar, os ingressantes no magistério na rede estadual terão de frequentar, durante quatro meses, 360 horas de cursos para complementar e aprimorar sua formação.

As iniciativas, enfim, surgem aqui e ali, alimentando a esperança de que, talvez desta vez, se consiga sanar mazelas e modificar culturas e práticas cristalizadas há décadas e que vêm se mostrando ineficazes no sentido de formar profissionais capazes de promover uma aprendizagem significativa e em sintonia com as demandas da sociedade do século 21. Mas, para além dessas iniciativas pontuais, o desafio central que se coloca é renovar os cursos de pedagogia e licenciatura.
Basta uma rápida consulta aos percentuais das avaliações oficiais, cujos resultados chegam a ser lamentáveis, para se perceber que há um longo caminho a percorrer a fim de que a Educação Básica cumpra seu papel estabelecido legalmente: promover o desenvolvimento da criança e do jovem, de modo a assegurar uma formação para o exercício da cidadania, que forneça meios para progredir no trabalho e para prosseguir nos estudos. E a mudança deste cenário perpassa, necessariamente, pela renovação da formação inicial docente.

Apesar de essa consciência estar aumentando e as políticas nessa área estarem saindo do papel, um aspecto fundamental ainda não veio à tona: o debate sobre o perfil do professor que se espera que seja formado nas instituições de ensino superior. Nesse contexto, e com o objetivo de aquecer as discussões, a revista Educação solicitou que um grupo de especialistas, de várias regiões do país, se pronunciassem sobre as características que os cursos de formação de professores deveriam ter.

Antes de tudo, contextualizar
A primeira questão que se coloca é ter clareza quanto ao perfil do professor que se deseja. Ela não diz respeito somente a uma projeção de um modelo que deseja atingir. Diferentemente, está relacionada à compreensão do contexto no qual o profissional vai exercer o seu ofício.

Ou, nos termos da coordenadora das Licenciaturas Diversas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Fátima Cruz, a construção do "professor ideal" está intimamente relacionada ao seu tempo histórico, ao contexto geopolítico, às verdades e questionamentos dos achados científicos de uma época e à conjuntura socioeducacional. Não bastassem esses elementos de ordem macrossocial, há que se considerar ainda, segundo Fátima, os aspectos de natureza microssocial do plano da subjetividade - ou seja, "dos autores, atores e agentes". "Qual a formação docente e qual a estrutura política e social que, na prática pedagógica, explicitaria o tipo de ser humano e de sociedade que queremos?", questiona a pesquisadora.

Essa é apenas uma das perguntas que se colocam. Há que se ter ainda clareza com relação ao que se compreende socialmente por qualidade de ensino, bem como em relação à lógica e aos valores que se pretende garantir pela via da educação escolar. Em síntese: "O que a sociedade define como valor na base da construção e do desenvolvimento das novas gerações?", reflete Fátima.

É em meio a reflexões dessa natureza que se compreende por que o bom professor de 50 anos atrás não é mais visto com bons olhos. Naquela época, a expectativa era a de que o professor tivesse um "bom manejo da classe" e transmitisse os conteúdos formais aos alunos, uma realidade bem distinta da de hoje.

Educação x pedagogia
Ainda no campo conceitual, o professor do Departamento de Planejamento e Administração da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Rogério Córdova agrega outra problemática relevante: a da identidade da pedagogia.
Na opinião dele, tem prevalecido no Brasil uma sobreposição dos conceitos de educação e pedagogia, na qual a primeira se apresenta como uma "prática social" e a segunda como "a ciência da educação". "Isto me parece um grande equívoco, pois educação e pedagogia não podem ser reduzidas uma à outra, já que são manifestações distintas de um fenômeno", defende Córdova.

Ou seja, em sua acepção, a educação consiste em um fenômeno antropológico e sociológico amplo e difuso, que diz respeito ao processo por meio do qual as sociedades transmitem seus valores, suas leis, suas normas tendo em vista a perpetuação da própria sociedade. Trata-se, então, da educação acontecendo no convívio social, fazendo de todo membro da sociedade um educador (e também um educando).

Já a pedagogia, propõe o professor Córdova, consiste em "uma prática educativa" que se realiza "de maneira sistemática, metódica, planejada, avaliada, numa intencionalidade específica". Ou seja, o que costumamos chamar de educação formal.
"Trata-se de um fenômeno não difuso, mas intencional e sistematizado segundo métodos que orientam essa prática na identificação dos educandos, na definição do que será ensinado a eles, na ordenação desses conteúdos e ensinar, na identificação de seus objetivos - factuais, conceituais, procedimentais e atitudinais", afirma Córdova, citando o educador espanhol Antoni Zabala.

A pedagogia como prática
O fundamental a se compreender, continua o professor da UnB, é que o termo prática não possui necessariamente um sentido depreciativo que remeta a uma atividade de menor valor por não possuir caráter acadêmico ou científico. Diferentemente, prática diz respeito a uma atividade de transformação. "No caso, uma atividade de transformar pessoas. E, como é impossível alguém transformar alguém dotado de autonomia, trata-se de ajudar crianças, adolescentes, jovens ou adultos a se transformar."

De um lado, essa concepção remete ao processo histórico de construção da pedagogia enquanto saber. Nesse sentido, é significativo que na Grécia e na Roma antigas, o termo pedagogia remetesse à atividade de conduzir fisicamente crianças aos locais de aprendizagem. Com o passar do tempo, explica Córdova, assumiu uma conotação simbólica: conduzir os alunos às aprendizagens.

É por isso que, em se tratando de uma atividade que integra o processo de formação - entendida como educação - das futuras gerações, a pedagogia deveria ser mais valorizada por sua relevância, já que desempenha um papel estratégico para a sobrevivência de uma sociedade.

Ser professor hoje
O papel e as expectativas em relação ao professor mudam tanto de uma sociedade para outra, quanto ao longo da história. E na medida em que seu papel social é ressignificado, os processos formativos também o deveriam ser. Mas não é isso que tem ocorrido. O que se constata é a distância entre a estrutura dos cursos de pedagogia, a realidade da sala de aula e as demandas que se colocam para o exercício do magistério.

O professor de hoje precisa estar preparado para atender às exigências de uma realidade cada vez mais complexa, na qual o ensino, desde cedo, tem de estar em consonância com o avanço das novas tecnologias e demandas globais e regionais. "Além disso, a educação deve estar voltada para a prática daquilo que se está aprendendo na teoria", complementa Maria José de Sena, presidente do Fórum de Pró-Reitores de Graduação de Universidades Brasileiras (ForGrad).

Cabe, então, ao professor desempenhar uma multiplicidade de papéis que levem em consideração as mudanças que vêm se operando no cotidiano e abrangem desde a lógica do mercado de trabalho, o avanço da tecnologia, a velocidade dos processos de comunicação, a ampliação do conhecimento, até transformações de ordem cultural - a mudança da organização familiar e a violência, por exemplo. Somam-se a isso, na opinião de Fátima Cruz, a fragilização dos sistemas públicos de ensino, da precarização das condições de trabalho, a ausência de tempo para a reflexão e os questionamentos em relação às práticas dos professores tanto por parte das famílias quanto por parte da sociedade.

Para dar conta da complexidade desse cenário, espera-se, então, ideal­mente falando, que o professor seja um profissional dotado de autonomia intelectual, tenha uma visão crítica da sociedade, seja capaz de estabelecer um diálogo crítico com o mundo, facilite a aprendizagem crítica, interaja com o contexto social e cultural dos alunos. Como sintetiza a coordenadora de Licenciaturas Diversas da UFPE, "o professor é um profissional do desenvolvimento da dimensão humana, da cultura e das interações sociais".

A centralidade do currículo
Nesse contexto, o currículo dos cursos de formação desempenha um papel central, pois uma estrutura e uma organização adequada dos componentes que compõem a formação inicial do docente são a base para que o profissional possa desempenhar as tarefas que se espera dele.

E esse é justamente o elo frágil da cadeia. A pesquisa Formação de professores para o ensino fundamental: instituições formadoras e seus currículos, da Fundação Carlos Chagas, demonstra que predomina a formação teórica, especialmente nas disciplinas de fundamentos gerais da educação. Isso não significa que as disciplinas de formação profissional estejam totalmente ausentes, mas mesmo nestas prevalecem os referenciais teóricos.

A prática - que poderia ser a chave para possibilitar uma maior aproximação com as demandas da sociedade e da escola - está ausente de boa parte dos cursos de formação inicial de professores. Nas licenciaturas, somente 10% dos currículos são dedicados à didática e 95% não têm especificações para seus programas de estágio, o que remete a um questionamento se eles estão cumprindo sua função: efetuar a integração dos profissionais que estão sendo formados pelas universidades e faculdades com as escolas.

No que diz respeito aos anos iniciais e à educação infantil, os conteúdos a serem desenvolvidos nessas etapas quase não estão presentes nos currículos: a educação infantil é contemplada por menos de 5% dos conteúdos dos cursos de pedagogia, boa parte dedicada a fundamentos e informações gerais sobre essa etapa.

"Como esperar que as creches e pré-escolas desenvolvam um trabalho significativo, se seus professores quase nada aprendem sobre desenvolvimento infantil, sobre formas de trabalhar com crianças bem pequenas, sobre como associar a educação e o cuidado, sobre como organizar um ambiente estimulante para crianças que permanecem longas horas diárias nas instituições?", questiona Maria Malta Campos, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.

Diante dessa realidade, Magda Soares, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), conclui: "Os cursos de pedagogia não vêm atendendo ao objetivo de formar adequadamente professores para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental".
O cenário não é o ideal, mas, ao mesmo tempo, propício a mudanças, impulsionadas pela necessidade de melhorar a qualidade da formação dos professores. Em muitas das instituições de ensino superior envolvidas no Plano Nacional de Formação de Professores para a Educação Básica estão sendo discutidas e implementadas mudanças nos currículos, conta Maria José, a coordenadora do ForGrad.

"O currículo é o ponto de partida para que a Educação Básica promova uma melhor articulação entre teoria e prática." Nesse sentido, diz Maria José, cada instituição de ensino está realizando suas próprias discussões, com vistas a formatar um curso capaz de formar professores mais aptos a trabalhar dessa maneira. Uma das discussões no âmbito do ForGrad, por exemplo, diz respeito a um novo formato para o ensino de ciências, com uma carga horária maior, incorporando novos temas de estudo e pesquisa relacionados aos jogos, à informática e à robótica.

Nessa perspectiva, Maria Malta Campos, da Fundação Carlos Chagas, considera que o ponto de partida é distinguir o perfil dos professores de acordo com a organização da Educação Básica no país. Como se sabe, a educação infantil e os primeiros cinco anos do ensino fundamental preveem um professor polivalente, formado preferencialmente em pedagogia. Para o segundo segmento do ensino fundamental e o ensino médio, são necessários professores especializados.

"Portanto, para que estejam bem preparados para trabalhar nessas diferentes etapas da Educação Básica, os professores precisam principalmente de dois tipos de conhecimento: dominar os conteúdos que irão desenvolver com as crianças e conhecer os métodos de trabalhar esses conteúdos mais adequados a cada faixa etária e a cada etapa da educação", propõe Maria Malta Campos.

Exemplificando: um professor pode trabalhar noções de matemática com alunos de 4 anos em uma pré-escola (aprender a contar até 10 ou até 100, por exemplo), com alunos de 7 anos de idade em uma 2ª série do fundamental ou conceitos e operações mais complexas com alunos adolescentes do ensino médio. "Em cada caso, ele precisará conhecer bem os conteúdos de matemática previstos para aquela faixa etária e também precisará saber como trabalhar com crianças pequenas que ainda não sabem ler, com crianças que ainda estão se alfabetizando no 2º ano, e com adolescentes, ou até mesmo jovens, que ingressaram no ensino médio."

Ou seja, para desempenhar bem sua tarefa, o docente necessita de uma formação que lhe garanta instrumentos para lidar com as especificidades de cada faixa etária, bem como com a diversidade de situações que se apresentam em sala de aula. Daí a importância de os cursos de pedagogia e licenciatura darem mais ênfase aos conteúdos a serem trabalhados com os alunos nas escolas, bem como aos métodos para trabalhar esses conteúdos.

"Tanto o aluno de pedagogia como o de licenciatura precisam aprender as duas coisas, sendo que o aluno da licenciatura necessita de uma base maior nessa área de conhecimento, pois irá trabalhar com conteúdos mais complexos a partir do 6º ano do ensino fundamental."

A professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG Magda Soares segue a mesma linha de raciocínio, ao enfocar a formação de professores para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. Para ela, as disciplinas de conteúdos relativas a essas etapas devem "predominar nitidamente nos currículos" ao lado das disciplinas de formação pedagógica.

"O conteúdo a ser ensinado é tão importante na formação destes professores quanto na formação de docentes para os anos finais e o ensino médio. Talvez até mais importante, já que são docentes que devem cumprir a difícil tarefa de 'simplificar sem falsear', o que só é capaz de fazer quem tem conhecimento amplo e seguro do conteúdo", analisa Magda.
Mas, nessas etapas, não basta dominar os conteúdos, agrega a professora da UFMG, os cursos de pedagogia também devem contemplar metodologias de integração de conteúdos, a fim de dotar os futuros professores de instrumentos que os tornem capazes de articular e integrar os vários conteúdos ministrados.

Ainda no campo dos conteúdos que os cursos de pedagogia e as licenciaturas devem contemplar, Maria Malta enfatiza a necessidade de incluir temas como diversidade cultural, meio ambiente, novas tecnologias, os quais ganham cada vez mais relevância no contexto da sociedade contemporânea.

Atenção à alfabetização
Cada área do conhecimento e segmento da Educação Básica possui suas especificidades. Dentre elas, uma merece especial atenção no caso do Brasil: a leitura e escrita. Para fortalecer a formação dos docentes que vão lidar com as crianças na fase da alfabetização, a professora Magda Soares propõe a inclusão de disciplinas de linguística e psicologia cognitiva nos cursos de pedagogia (a fim de fortalecer a fundamentação sobre o processo de alfabetização) e de disciplinas relativas às metodologias de alfabetização.

No campo da leitura, seria importante que os cursos de pedagogia contemplassem disciplinas  que permitam aos futuros professores exercitar a leitura e a produção de textos, além daquelas relacionadas às metodologias da leitura e da produção textual. Finalmente, para formar professores em condições de inserir as crianças no mundo da literatura, os cursos de pedagogia devem ter disciplinas de literatura infantil e de metodologia de trabalho com textos literários.
Em síntese, Magda propõe uma estrutura na qual os estudantes de pedagogias e licenciaturas tenham acesso aos conteúdos com os quais vão lidar quando chegarem às salas de aula. Nesse sentido, a especialista enfatiza a necessidade de tais disciplinas serem ministradas por professores formados nas licenciaturas correspondentes aos conteúdos, com especialização ou pós-graduação em Educação ou vice-versa.

Mais espaço para a prática
Se o território de atuação do professor é a escola, é imprescindível que a formação deste profissional esteja voltada para a prática educativa e a prática social, defende Rogério Córdova, da UnB. "A formação tem de dar conta da preparação para o exercício competente dessa prática."

Isso se traduz numa mudança da estrutura dos cursos de pedagogia e licenciaturas, de modo a colocar os alunos em contato com os "contextos reais" - ou seja, as escolas nas suas variadas formas de organização (escolas públicas e privadas, infantis, de ensino fundamental e médio, educação profissionalizante, especial etc.) - desde o início do curso e segundo as opções e interesses dos alunos.

"Essa dimensão da formação para a prática é uma reivindicação dos estudantes e costuma ser a parte frágil da formação pedagógica", analisa Córdova. "Existem relatos de ex-alunos que foram aprovados em concurso público, por exemplo, e abandonam a sala de aula nos primeiros meses, ou até semanas, por não se sentirem capazes de dirigir o trabalho de aprendizagem com um grupo de crianças."

Em contrapartida, continua ele, os estudantes que passam por cursos em que há articulação entre teoria e prática relatam o contrário. "Esses últimos apontam o rumo a ser seguido na formação pedagógica", defende.

O lugar da teoria
Ao enfatizar a necessidade de disciplinas práticas nos cursos de pedagogia e licenciatura o que está em questão não é a abolição da teoria, mas, sim, o estabelecimento de outro tipo de relação entre essas duas dimensões, distinta da que se vê atual­mente - o predomínio absoluto da teoria dissociada do exercício efetivo da docência.

"A aprendizagem dos fundamentos da educação, em áreas como história, psicologia, sociologia, entre outras, permite a construção de uma visão mais abrangente e crítica do significado da educação no mundo de hoje", analisa Maria Malta.
A coordenadora das Licenciaturas Distintas da UFPE, Fátima Cruz, segue a mesma direção ao defender que os cursos de formação inicial de professores tenham uma base teórico-metodológica de história e política local e global. Isto para permitir "ao professor dialogar com a realidade e desvelar suas contradições", condição para que ele seja capaz de compreender as relações entre a educação e os projetos de sociedade.

Ainda nesse sentido, a formação do futuro docente deve ser ampla, contemplando as dimensões das interações humanas, a estética, a ética, a comunicação, assim como conteúdos que permitam a eles compreender as diferenças, habilitando-os a estabelecer um diálogo com a diversidade. Isto para que, ao chegarem às salas de aula, os professores sejam capazes de realizar um trabalho que favoreça a autonomia de seus alunos.

Produção de conhecimento
Os cursos de pedagogia e licenciatura precisam, ainda, favorecer a atuação dos professores da Educação Básica enquanto produtores de conhecimento. Também nessa dimensão a teoria desempenha um papel central, na medida em que fundamenta e orienta a atuação do docente enquanto produtor de conhecimentos.

Essa dimensão é uma característica que se torna particularmente relevante no contexto atual, de franco desenvolvimento das tecnologias da informação. Nessa medida, um desafio que se coloca é como tirar proveito delas enquanto instrumentos capazes de suscitar o desejo de aprender e, ao mesmo tempo, favorecer uma aprendizagem eficaz, vinculada às necessidades e demandas dos indivíduos e da sociedade.

Para o professor Rogério Córdova, trata-se de um "novo capítulo no desenvolvimento da pedagogia" e um processo "incontornável nesta era digital", no qual se coloca a necessidade de configurar ambientes de aprendizagem metódica, sistemática, planejada. Nesse contexto, o professor se torna agente de produção do próprio conhecimento, bem como assume o papel de articulador e organizador da aprendizagem, tanto na escola regular como em outros ambientes de aprendizagem.

Fonte: Revista Educação - Marta Avancini


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