No livro "Open", autobiografia que está sendo publicada em capítulos pelo jornal britânico "The Times", o ex-tenista André Agassi, um dos maiores nomes da história do esporte, confessa ter usado drogas quando ainda competia profissionalmente. Ele conta que em 1997 consumiu uma droga conhecida como cristal (metanfetamina).
Saiba mais sobre a metanfetamina
Agassi, vencedor dos quatro Grand Slams (Australian Open, Aberto dos EUA, Roland Garros e Wimbledon, os principais torneios do mundo, que conquistou oito vezes), também admite que mentiu ao ser apanhado num exame antidoping. Agassi, na época, chegou a enviar uma carta à ATP, a Associação dos Tenistas Profissionais, dizendo que consumira a droga "acidentalmente", atribuindo a um assistente a culpa por ter colocado metanfetamina em um refrigerante que ele bebera.
O cristal é uma droga sintética poderosa, dez vezes mais potente do que a cocaína, e tem outros apelidos, como MD cristal, crystal meth ou ice. A aparência é similar à de pequenos cristais de gelo. Por ser uma metanfetamina, desperta sensação de euforia, mas também de pânico, e leva facilmente ao vício. "Nunca me senti tão vivo, tão cheio de esperança, e nunca senti tal energia", descreve Agassi.
Como Agassi se livrou da suspensão
André Agassi em foto de setembro de 1997, após jogo em que perdeu para o australiano Patrick Rafter no US Open, em Nova York. AP
Na sua autobriografia o ex-tenista, hoje com 39 anos, narra: "Slim (seu assistente) despeja um montinho de pó na mesa de centro. Ele o divide, inala uma parte. Ele divide novamente. Eu inalo." Agassi prossegue no relato: "Tem um momento de arrependimento, seguido de uma tristeza vasta. Depois vem uma onda de euforia que leva embora todos os pensamentos negativos em minha cabeça."
Agassi conta também como precisou mentir para se livrar da suspensão que seria imposta pela ATP por doping. Ele relata ter escrito uma carta à entidade misturando verdades e mentiras. "Digo que Slim, que demitira desde então, é sabidamente um usuário de drogas que frequentemente batiza refrigerantes com cristal - o que é verdade", escreve o ex-tenista. Para prosseguir: "Daí vem a mentira central da carta. Digo que recentemente bebi acidentalmente um dos refrigerantes batizados de Slim, ingerindo sua droga sem me dar conta. Peço compreensão e boa vontade, e me apresso para assinar: Com os sinceros votos", conta.
Agassi conta também que temeu por seu futuro no esporte. "Meu nome, minha carreira, tudo agora está em jogo. Tudo que conquistei, tudo pelo o que trabalhei, pode não representar mais nada. Dias depois eu sentei numa cadeira dura e escrevi para a ATP. Estava cheio de mentiras com pedaços de verdade". Em seguida, Agassi confessa: "Sinto-me envergonhado, claro. Prometo a mim mesmo que esta mentira é o fim de tudo."
Drogas num período de declínio profissional
Segundo o relato do próprio Agassi, ele foi apresentado à droga em 1997, período conturbado de sua vida profissional. No fim daquele ano, prejudicado em grande parte por uma lesão no pulso, despencou no ranking mundial e foi parar no 141º lugar, já tendo no currículo três títulos de Grand Slam (Wimbledon 92, US Open 94 e Australian Open 95). Na época, estava casado com a atriz Brooke Shields.
Agassi com o último troféu de Grnd Slam conquistado na carreira, o do Australian Open. Foto Reuters - 26/01/2003
A recuperação no tênis ocorreu no ano seguinte, em 1998. Ele saltou 122 posições e atingiu o 6º lugar no circuito mundial, na maior progressão de um tenista no período de um ano já registrada desde a criação do ranking da ATP, em 1973. Nesse tempo Agassi ganhou cinco finais em dez que disputou. Em 1999, fez mais história: terminou o ano como número 1 do ranking pela primeira vez na carreira, após ganhar cinco títulos, inclusive Roland Garros e US Open. Com a vitória no torneio de Paris, tornou-se o quinto tenista da história a conquistar todos os quatro Grand Slams. Apenas Don Budge, Rod Laver, Fred Perry e Roy Emerson tinham obtido tal façanha. O suíço Roger Federer, atual líder do ranking, juntou-se ao grupo em junho de 2009, ao vencer em Roland Garros e conquistar o recorde absoluto de 15 Grand Slams na carreira.
Agassi, que conquistou 60 títulos de simples na carreira, nasceu em 1970, em Las Vegas. Aposentou-se do tênis em 2006, ao perder para o jovem alemão Benjamin Becker, que vinha do qualifying, na terceira rodada do Aberto dos EUA (US Open). Na ocasião, foi aplaudido em quadra por vários minutos, num reconhecimento do público ao que construíra no tênis. Ele se casou com a atriz Brooke Shields em abril de 1997 e o relacionamento durou dois anos. Em outubro de 2001, casou-se novamente. A ex-tenista alemã e também ex-número 1 do mundo Steffi Graf foi a escolhida. Os dois estão juntos até hoje e têm dois filhos: o menino Jaden Gil, de 8 anos, e a menina Jaz Elle, de 6.
Os títulos de Grand Slam:
1992 - Wimbledon - vitória sobre Goran Ivanisevic (6-7, 6-4, 6-4, 1-6, 6-4)
1994 - US Open - vitória sobre Michael Stich (6-1, 7-6, 7-5)
1995 - Australian Open - vitória sobre Pete Sampras (4-6, 6-1, 7-6, 6-4)
1999 - Roland-Garros - vitória sobre Andrei Medvedev (1-6, 2-6, 6-4, 6-3, 6-4)
1999 - US Open - vitória sobre Todd Martin (6-4, 6-7, 6-7, 6-3, 6-2)
2000 - Australian Open - vitória sobre Yevgeny Kafelnikov (3-6, 6-3, 6-2, 6-4)
2001 - Australian Open - vitória sobre Arnaud Clement (6-4, 6-2, 6-2)
2003 - Australian Open - vitória sobre Rainer Schuettler (6-2, 6-2, 6-1).
Agassi ainda disputou e perdeu outras sete finais de Grand Slam. Em 1990, Roland-Garros (perdeu para Andres Gomez) e US Open (Pete Sampras); em 91, Roland-Garros (Jim Courier); em 95, US Open (Pete Sampras); em 99, Wimbledon (Pete Sampras); em 2002, US Open (Pete Sampras); e em 2005, US Open (Roger Federer).
Fonte : O Globo
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