Pesquisa da UFS aponta fatores que desestimulam adolescentes de Aracaju a continuarem a prática esportiva iniciada na escola
Não é difícil fazer uma lista de atividades consideradas como lazer. Em tempos de internet, principalmente, o número de tarefas que se pode fazer nas horas vagas certamente chega a ultrapassar as habilidades humanas. Somando-se a esses fatores a violência urbana e as exigências do vestibular, tem-se um concorrente de peso às praticas esportivas, que são abandonadas pelos jovens aracajuanos aos 15 anos.
Conforme explica Afrânio Bastos, professor do curso de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a evasão nos esportes é uma realidade cada vez mais recorrente. “A queda de organizações como a Associação Atlética e o Iate Clube resultou na restrição da prática esportiva às escolas. Ao sair desse ambiente, o leque de possibilidades para que o atleta siga competindo é muito pequeno”, destaca.
Sete principais motivos que caracterizam a questão aqui na cidade estão contidos no estudo “Análise do Abandono Esportivo em Aracaju”, realizado pelo professor Afrânio e sua aluna Maria Cleziana Farias, através do Programa de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), da UFS. O trabalho está inserido em uma das cinco linhas de pesquisa do Núcleo de Pesquisa em Aptidão Física de Sergipe (Nupafise), que existe na universidade desde 2002.
O interesse em realizar a pesquisa surgiu da escassez de trabalhos sobre o tema e objetiva lançar um alerta para profissionais da área. “A gente quer chamar à atenção principalmente para a formação de professores, mostrando que o sucesso do jovem depende muito do quanto ele se sente motivado, dando assim ferramentas que auxiliem a diminuir ou evitar essa situação”, explica o professor.
“Perdendo esse hábito, o jovem diminui demais as possibilidades de ter uma vida mais saudável. No futuro, isso pode levá-lo ao sedentarismo”, completa Afrânio.
Motivos do abandono
Iniciada no final de 2008 e finalizada em abril deste ano, a pesquisa entrevistou 89 atletas de ambos os sexos, com idade entre 10 e 22 anos, ex-praticantes de oito modalidades esportivas, em vários colégios e clubes da capital. A partir da aplicação de um questionário, onde o participante assinalava as causas que o fizeram se afastar da atividade, os pesquisadores chegaram, primeiro, à média de idade em que o abandono acontece: quinze anos.
É nessa fase que normalmente o jovem ingressa no ensino médio, começando a se preocupar com o vestibular, ou é, em alguns casos, quando se começa a trabalhar. Além desses, outros fatores externos - categoria estudada que gerou o maior índice de abandono - foram a preocupação com os rendimentos no esporte e a falta de apoio da família.
Em segundo lugar, o que mais afastou os jovens do esporte foi a falta de competição, seguido por problemas de equipe, baixa autoestima, monotonia, desmotivação e, por último, condição física.
“Muitas vezes os pais, ao quererem punir o filho por uma nota baixa, ou qualquer outra malcriação, acabam tirando o atleta do esporte. Isso contribui para que ele se desmotive”, explica o professor. Outro aspecto que pode explicar a falta de estímulo é a inexistência de meta para o esportista. “Se ele não estabelece um objetivo, ou se isto está distante da sua capacidade, também temos aí um perigo”, alerta Afrânio.
Atletas que ganham grande exposição na mídia costumam servir de espelho e incitam o desenvolvimento de novos talentos. Mas também é preciso verificar até onde essa influência pode ser benéfica. “Nomes como César Cielo, Guga, etre outros, tem muito tempo de carreira e são uma prova de que a persistência decorre em sucesso. Mas é preciso que o jovem entenda, também, que os frutos das competições só vêm com a prática, nada é de imediato”, aconselha.
Por Diógenes de Souza
Estudante da UFS/Estagiário do Portal Infonet
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