Aves de rapina são vistas de perto no Parque dos Falcões, em Sergipe
Ele vive quase recluso numa serra de Sergipe, mas sua popularidade chegou a vários estados e países, entre eles o Japão. O criador do Parque dos Falcões, José Percílio Mendonça Costa, se tornou referência em treinar aves de rapina, mesmo sem nunca ter estudado formalmente sobre elas. "Foi Tito que me ensinou tudo", diz, referindo-se ao seu primeiro pássaro, um falcão que hoje tem 25 anos.
A amizade entre ambos começou quando Percílio tinha sete anos e ganhou um ovo de um amigo em Areia Branca, cidade onde vivia com a família. A partir de então, a convivência intensa e a observação da ave na natureza foram, segundo ele, o ponto de partida para o ofício ao qual se dedica. "Eu costumava ir com o Tito para a mata e observava a relação dele com os outros pássaros", conta.
O resultado, anos depois, pode ser visto no trabalho do centro de conservação (legalizado pelo Ibama) e atração turística Parque dos Falcões, que cria mais de 300 aves de rapina, com atividades como reprodução em cativeiro, treinamento de aves para amizade e para defesa pessoal (no caso, a de Percílio). O local fica na Serra de Itabaiana, a cerca de 56 quilômetros da capital Aracaju, e recebe visitas agendadas a um preço de R$10 por pessoa. Com mais R$15, o visitante pode fazer um passeio pela mata da serra e visitar uma cachoeira.
No parque, as aves também recebem cuidados de um veterinário e de um biólogo, seguindo as exigências do Ibama, e de um grupo de voluntários locais, que aprendem a manejar as aves com a ajuda de Percílio, um professor exigente segundo eles. "Tem que ter um bom punho para saber conquistar a confiança dela", diz o criador do Parque, apontando os requisitos para um bom "aprendiz". Além disso, afirma que é preciso paciência e dedicação, coisas mais difíceis de ensinar. "Tem que entender o comportamento animal e ter amor à ave".
Aves pelo Parque
O Parque é também a casa de Percílio, que fica quase isolada do povoado da serra, por onde se tem acesso por uma estrada de terra. Logo na entrada, patos e gansos soltos parecem recepcionar os visitantes e já é possível avistar alguns dos cativeiros de aves como falcões, abutres, corujas e gaviões que têm nomes próprios como Tito, Jurubeba e Dedé.
Muitas são "defeituosas" por problemas de maus-tratos e chegaram até o parque através do Ibama, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos para que recebessem cuidados, como é o caso de Olímpia, que teve os dedos de uma das patas mutilados por pessoas. Tratada no parque, a ave que chegou arisca já recebe tranqüilamente carícias e se mostra habituada às visitas e aos flashes das câmeras fotográficas. Muitas destas aves maltratadas passam por trabalho de reprodução no cativeiro e, segundo o criador, já chegaram a superar expectativas com a quantidade de filhotes que geraram.
Atualmente, com o aumento do turismo e limitação na estrutura do parque, o trabalho de reprodução tem diminuído. Como nenhuma das aves é vendida no local, Percílio diz que falta tempo para fazer o trabalho de adaptação dos filhotes na natureza, que inclui acampamento e alguns dias numa área para observar se é segura para o pássaro.
Aproximação com os pássaros
O trabalho para que se tornem amistosas exige dedicação, como conta Antônio Novaes, de 18 anos, voluntário no parque há dois. "É preciso ir alimentando no punho e acarinhando a ave. Quando ela aceita e gosta da sua presença você começa a chamá-la através do apito ou pelo nome", diz. O tempo de aprendizado varia não só entre espécies, mas entre cada ave. "Cada uma tem um temperamento diferente da outra", afirma.
No local, as pessoas podem ter uma idéia do resultado ao verem Percílio brincar e acariciar as aves. Algumas, entre elas a coruja Jurubeba, chegam a ficar no colo dos visitantes como um bicho de estimação comum, ao lado do treinador. Outro atrativo é passear entre os tocos de madeira onde as aves passam algumas horas do dia presas por uma cordinha, se preparando para o banho numa bacia de água e para os vôos individuais, que acontecem em horários determinados e sob a orientação de Percílio.
Além do treinamento para amizade, Percílio trabalha o de defesa pessoal. "O treinamento para defesa tem que ser você e o falcão. Vocês dois tem que ser um só", diz sobre o processo que torna o pássaro extremamente fiel ao treinador.
Assim como no caso de Tito, diz que aprendeu a treinar aves de rapina para defesa pessoal com Dedé, outro falcão. Certo dia, conta, estava na mata com a ave quando notou que várias abelhas estavam prontas para atacar e Dedé entrou na frente para defendê-lo. "Se ela me salvou de abelhas me salva de gente, pensei". Foi assim que percebeu que poderia desenvolver, sozinho, a atividade com as aves.
Também aprendeu a treinar pombos-correio (há cerca de 150 no parque) para tarefas como ir até a casa de sua mãe em Areia Branca para buscar recados, remédios e até dinheiro, como conta, entre sorrisos.
É na casa da mãe, que visita com freqüência, que criou Tito e começou o trabalho de conservação de pássaros. Tentando fugir do assédio de jornalistas e em busca de um lugar maior, conseguiu comprar as terras na serra, com a ajuda da família, e deu início ao Parque dos Falcões, oficialmente inaugurado em 2000.
Requisitado
Ele garante que é avesso a badalações, apesar de ter sido procurado por jornais renomados e de ter participado de programas famosos na TV. Também fez parte de uma produção em vídeo para o Japão e recebe convites para participar de projetos em países como Espanha e em regiões do Brasil, como a Amazônia.
O interesse existe, mas a dificuldade em ficar longe dos pássaros acaba falando mais alto. Também há outro agravante: a proximidade com a mãe, muito "agarrada" com os filhos. Depois de ter cancelado algumas propostas já aceitas, ele garante que tem se preparado para uma viagem de um ano para breve. Para isso, toma precauções para deixar as aves em segurança em cativeiro com os voluntários e que já recebeu consentimento da família. "Dessa vez minha mãe deixou", diz sorrindo.
Por ora, Percílio continua acompanhando as visitações, que acontecem por agendamento pelo telefone (ver o número abaixo). Mesmo sem ter muito contato com a internet, o site oficial do parque está sendo produzido por uma voluntário e deve entrar em breve no ar (www.parquedosfalcoes.com.br).
PARQUE DOS FALCÕES
Quando: aberto a visitação de quarta a domingo, das 9h às 16h, apenas com horários agendados
Onde: Partindo de Aracaju são 56 km, via BR-235, sentido Areia Branca em direção a Itabaiana, onde é possível ver uma placa do Parque dos Falcões. Após entrar no caminho do povoado Rio das Pedras, é preciso seguir cerca de três quilômetros em estrada de pedra para chegar ao local, última casa da Serra
Quanto: R$10 por pessoa; mais R$15 para um passeio pela serra
Informações: (79) 9131 3496 ou (79) 9962 5457