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Serviço de Pediatria está na 'UTI'

25/5/2009



O serviço de pediatria em Sergipe está na UTI e sem previsão de melhora.
Este é o diagnóstico feito pela médica pediatra Glória Tereza Lopes, membro da direção da Sociedade Sergipana de Pediatria e do sindicato dos médicos no Estado, além de emergencista infantil do Hospital de Urgência e Emergência Governador João Alves Filho. O pouco número de profissionais e de unidades de saúde que prestam atendimento a essa clientela voltou à cena mais uma vez por conta do fechamento do setor pediátrico de um hospital da rede particular. Por conta disso, os sergipanos, de acordo com Glória Tereza, passam a contar apenas com os hospitais públicos João Alves e Nestor Piva (municipal), que estão sempre superlotados, e com os da rede particular São Lucas e Renascença, este último, segundo ela, sempre apresentando problemas na escala.

“Infelizmente, o fechamento de mais uma unidade de pediatria aconteceu por problemas administrativos, porque o dirigente entendeu que dois médicos por plantão era muito, o que na verdade não é, pois a demanda nessa área é sempre crescente e os cuidados com uma criança são vários. O fato de um pequeno estar em observação tomando soro significa dizer que ele vai ser reavaliado pelo menos outras duas vezes, o que requer tempo e dedicação por parte do médico. Como a decisão foi tomada de uma maneira inadequada e o profissional que ficaria sozinho sabia dos problemas que teria de enfrentar, todos decidiram sair”, comentou Glória Tereza.

Com essa “baixa”, o que já era ruim vai ficar pior, ou seja, o atendimento das crianças no Huse e no Nestor Piva vai ficar ainda mais complicado. “Sinceramente e infelizmente não dá para atender direito não!”, confessou a médica. Ela lembra que a cada surgimento de virose o setor de pediatria do João Alves fica irreconhecível. Disse que há 15 dias o local estava caótico, sem a menor estrutura para atender os pequenos doentes.

Jeitinho brasileiro

“Até as cadeiras da recepção foram colocadas na urgência para que as crianças pudessem aguardar o atendimento”, relembrou. Por conta da falta de leitos, uma menina com crise de apendicite aguda teve que esperar 12 horas, sentada numa cadeira de rodas, para ser submetida a uma cirurgia. Glória Tereza não soube informar a quantidade de atendimentos pediátricos por dia ou mês que o Huse realiza, mas disse, com certeza, que o Nestor Piva atende a cem pequenos por dia.

“Só temos problemas para administrar. No Huse deve ter uma escala de plantão com quatro pediatras, mas na prática só vai a metade porque existem os contratempos, como doença e licença. Isso sem falar que essas duas unidades atendem não só a população local, mas também a de cidades vizinhas. O Nestor Piva, por exemplo, presta assistência a quem vem de Socorro, Maruim, São Cristóvão e Itaporanga. Já o Huse, além de todos esses pontos e mais os outros municípios sergipanos, também recebe pacientes da Bahia e de Alagoas. Ou seja, estamos sempre sobrecarregados”, declarou a médica.

Essa sobrecarga aliada a um salário baixo – R$ 400 para um plantão de 12 horas na rede particular e uma remuneração mensal de aproximadamente R$ 2 mil para o setor público – está fazendo com que muitos pediatras mudem de ramo. Glória Tereza não sabe dizer quantos dos 200 médicos pediatras que existiam em Sergipe continuam exercendo a profissão. “Muitos foram ser auditores, fecharam os consultórios, foram para o Programa de Saúde da Família e outros tantos ramos. Embora não saiba te dizer quantos restaram, posso afirmar que é um número bem pequeno para a nossa necessidade”, ressaltou.

Ela fez questão de dizer que o caos no setor não foi causado pelos médicos pediatras, mas sim pelos gestores públicos, que fecharam três grandes e importantes unidades de atendimento pediátrico: o hospital da zona sul, o Santa Izabel e o Cirurgia. “A solução de toda essa situação depende, principalmente, da priorização da saúde, o que não está acontecendo. Mas ninguém se engane: hoje o atendimento a crianças não está ruim só para o filho do pobre não, está ruim também para o filho do rico, do secretário da Saúde e até mesmo do governador”, finalizou Glória Tereza Lopes.

Texto: Andréa Moura - 17/05/2009


Fonte: Jornal da Cidade

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