No início de 2006, a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e a Penalty apresentaram a "bola inteligente", que, por meio de um chip interno, seria utilizada para acabar com os lances duvidosos do esporte. Na época, o produto foi prometido para o segundo semestre daquele ano, mas a expectativa não se confirmou, e o projeto ficou aparentemente esquecido.
Pois nesta quinta-feira, (14) a entidade e a fornecedora de materiais esportivos apresentaram uma nova versão da bola, agora chamada de "d-Tech". Aprimorada após três anos de pesquisas e testes desenvolvidos pela empresa 3RCorp, ela já conta com mais de 90% de precisão.
Mas apesar de os últimos testes obterem resultados positivos - com direito a um jogo-exibição diante dos jornalistas -, a nova bola ainda não tem data para estrear. A previsão é implementá-la na próxima edição da Superliga, mas um acerto final ainda está longe.
O grande impasse é financeiro. Apesar de a Penalty ter custeado todo o desenvolvimento do novo sistema - pouco mais de US$ 2 milhões -, ainda não se definiu quem pagará para que a tecnologia seja efetivamente utilizada em campeonatos. Estima-se que o kit completo custe R$ 30 mil por competição.
"A estreia depende exclusivamente da Penalty", desconversa Ary Graça, presidente da CBV. "Ainda não temos ideia do custo da operação toda, então ainda não está definido como isso vai ficar organizado", contradiz Roberto Estefano, presidente da Penalty.
Caso já seja implantada na Superliga 2009/2010, a nova bola dificilmente estará em todas as partidas. A prioridade seria dos jogos transmitidos pela televisão. Quanto a isso, Estefano admite que se pode criar um mal-estar entre os clubes. "Por ser tão exato [o sistema], é possível que algumas equipes não gostem de ver que a bola foi usada em outros jogos e não no seu", reconheceu. "Mas quem sabe a gente não possa usar em todas as partidas?".
O sistema
Quando anunciada pela primeira vez, em 2006, a bola tinha como principal problema a durabilidade da bateria que abastece com energia o chip responsável pela detecção do ponto exato em que o solo foi tocado durante uma partida de vôlei. Agora, a bateria será recarregada por um mecanismo semelhante a uma caneta, que toca um ponto da esfera (aquele mesmo orifício por onde ela é enchida de ar) e faz o reabastecimento.
Outro grave problema era a precisão do novo sistema. Da forma como foi inicialmente desenvolvida, a tecnologia alcançava índices de até 9 cm de imprecisão. Para corrigir tal diferença, decidiu-se acoplar uma rede de câmeras ao sistema.
"O juiz vai decidir se quer seguir aquela indicação. Se ele achar que não quer acatar, será uma arbitrariedade, mas ele poderá fazer isso, porque é a autoridade máxima do jogo", explicou Ary Graça.
O dirigente fez questão de explicar que o invento não acabará com a função dos bandeirinhas e do segundo árbitro, já que não identificará, por exemplo, um toque na rede ou um raspão da bola na mão dos jogadores.
Além disso, ele descartou a possibilidade de o voleibol ficar "sem graça" devido aos recursos tecnológicos. "Ninguém está aqui para investir quatro anos em um ciclo olímpico, ou para formar um time forte para um campeonato, e perder por um erro do juiz. Companheiro, isso é dinheiro, é profissional", salientou o dirigente.
A opinião foi endossada pelo ex-jogador Montanaro, gerente esportivo do Santander/São Bernardo. "Essa nova tecnologia vai resolver problemas que eu tive dentro da quadra nos tempos de jogador. Às vezes, um time perde um set ou um jogo em uma bola humanamente impossível de se ver", comentou.
Paula Almeida - Em São Paulo - UOL