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Aracaju,
 
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Aracaju ganha uma invasão por bairro

17/5/2009

Há uma invasão para cada bairro de Aracaju. Elas não estão espalhadas em todos os bairros, mas escondidas na periferia da capital. São pouco mais de 30 ocupações, todas com problemas típicos de uma ocupação sub-normal. Nesses locais, a água suja escorre para dentro de barracos de madeira ou de barro e as crianças convivem em meio ao lixo. Nas semanas de chuva intensa, quando o problema se agrava nesses aglomerados urbanos, colocando em risco a vida de milhares de pessoas, as invasões ganham visibilidade.

O bairro Santa Maria é o campeão de invasões. Nesse que é o segundo bairro mais populoso de Aracaju, com 30 mil habitantes, existem nove ocupações pontuadas pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Semasc). Em todas elas, além das condições insalubres de sobrevivência, a maioria dos moradores vive sob ameaça de desabamento dos barracos. Com o período chuvoso o risco aumenta. Esta semana, quatro barracos desabaram e 40 estão sob risco iminente de desmoronamento. É por isso que o bairro Santa Maria é considerado, ao lado do Coqueiral, uma das áreas mais críticas da capital.

Uma das ocupações desse bairro que fica na zona de expansão de Aracaju é o Morro do Avião. Segundo levantamento da Semasc datado do final de 2007, no local havia 500 famílias. Em números sempre ascendentes, essa invasão deve estar com um número superior a esse, segundo estimativas da Semasc.

A ocupação começou no início de 2000 pela encosta do morro, beirando o conjunto Padre Pedro. Hoje, os barracos subiram o morro e estão espalhados por vários locais. A maioria das famílias vive da catação de recicláveis e guarda o material que traz das ruas dentro dos barracos ou em frente a eles. Os cavalos também são guardados ao lado dos casebres o que aumenta a sujeira. Sem saneamento, uma água imunda escorre e entra pelos barracos por onde crianças caminham descalças.

A expectativa das famílias é receber uma das 2.300 casas que a Prefeitura de Aracaju está construindo nos arredores do bairro e que, por enquanto, é conhecido como bairro Novo. A moradora de um barraco na encosta do morro, Roseane Matos de Oliveira, comprou o casebre onde mora por R$ 700, há dois meses, com essa esperança. “Morava na casa da filha dela de favor”, disse, ao apontar para a sogra, Maria Francisca Santos, que também mora no conjunto Padre Pedro, em um casa defronte ao Morro do Avião. “Eles precisam de uma casinha só para eles”, complementou a sogra.

O Sovaco da Gata é outra ocupação próxima ao Morro do Avião, mas que surgiu antes dele. Nesse local há casas de alvenaria ao lado de barracos de madeira. Descendo o morro, no acesso ao bairro, a invasão da Prainha reúne mais de 200 famílias em barracos que margeiam o canal Santa Maria. “Quando chove a água sobe pra dentro dos barracos e a gente dorme ouvindo o barulho como se fosse um bicho dentro da água. Acho que é jacaré”, disse José Bispo, morador de um casebre onde a cama, um armário e uma mesa velhos, os únicos móveis que tem, estão sobre tijolos para evitar que sejam atingidos pela água do canal.

Do outro lado da cidade, no bairro Coqueiral (oficialmente Sagrada Família), outra ocupação vem crescendo às margens da avenida Euclides Figueiredo. É quase um quilômetro de barracos erguidos em área de preservação ambiental (ver boxe), dando seguimento a casas de alvenaria que originaram a invasão.

Antônio Carlos dos Santos ergueu o barraco com a ajuda da mulher há três anos. Disse estar cadastrado na prefeitura para ganhar uma casa e vive na expectativa de se mudar. No casebre de madeira de um cômodo vive o casal e os dois filhos pequenos. Não há banheiro e as necessidades fisiológicas são feitas no terreno do fundo da casa. “A gente espera que um dia melhore”, disse o catador de recicláveis. Ele e outras dezenas de famílias esperam pela entrega de uma das 600 casas que governo federal, estadual e municipal vem construindo em parceria.

Vila Socó

Socó é uma armadilha em forma de cone usada para apanhar peixes em águas rasas. No bairro Jetimana, na vila que leva esse nome, ninguém sabe por que o lugar ganhou essa denominação, mas um morador antigo (a vila tem quase 20 anos) lembrou que antigamente os primeiros ocupantes dos barracos pescavam no mangue que passa aos fundos dos casebres. “Quando eu vim pra cá pescava muito e usava uma coifa. Pegava muito peixe”, disse João Antônio Santos.

A vila tem 20 barracos, todos de tábua ou madeirit. A primeira moradora, Geni dos Santos, disse que o marido recebeu o terreno de uma herança e vendeu os lotes. O lugar não tem saneamento básico e enche de água na chuva. “Nós aqui somos esquecidos. Ninguém olha por nós, só nas eleições”, disse Adriano de Jesus, que foi para a vila aos 10 anos e hoje tem 18. Maria José, a segunda moradora mais antiga da vila, também lamenta as condições do lugar. Quando ela chegou à vila, construiu um barraco de tábua que continua do mesmo jeito, passada uma década e meia. “É difícil morar assim”, lamentou.

Uma outra ocupação em zona sul é a invasão das Malvinas, no aeroporto. Há pouco mais de três anos, um grupo de pessoas invadiu uma área próxima a outra invasão e construiu barracos com folhas de madeirite. Na época, o local era totalmente alagado, mas passado o tempo as águas já não entram mais e grande parte das casas toscas deu lugar a construções de alvenaria. A invasão do Pantanal, do São Conrado e do Lamarão somam-se a tantas outras ocupações de Aracaju.

Problema antes de ser ambiental é social

“É mais um problema social que ambiental”, disse o superintendente do Ibama em Sergipe, Manoel Rezende, ao se referir às ocupações existentes em áreas de preservação ambiental. Ele falou que o Ibama tem feito ações reiteradamente, mas as famílias voltam a ocupar muitas vezes as mesmas áreas. “É preciso que uma ação de caráter social definitiva seja tomada”, complementou.

Ele disse ainda que a maioria dos ocupantes é de pessoas sem recursos financeiros que convive ao lado de outros invasores profissionais. Para esses, que fazem das invasões um meio de vida, o Ibama está tentando identificar através de um grupo de inteligência a ser formado dentro do Ibama. “Todas essas abordagens necessitam de ações conjuntas para realocar essas pessoas. Temos que trabalhar em harmonia para atender os dois aspectos, o ambiental e o social”, falou.

O secretário de Planejamento da Prefeitura de Aracaju, Sílvio Santos, disse que a prefeitura está fazendo um mapeamento de todas as áreas de risco da capital para fazer um acompanhamento mais rigoroso. Ele disse que até o ano que vem 2.900 casas estarão sendo entregues pela PMA para a população que mora em duas das três áreas consideradas mais críticas da capital: o Santa Maria e o Coqueiral. Segundo ele, as obras estão bastante avançadas. Só no Santa Maria serão construídas 2.300 casas. No Coqueiral outras 600.

Mudanças previstas

As três áreas consideradas mais problemáticas de Aracaju (por concentrarem o maior número de ocupações) estão em processo de urbanização (Santa Maria, Coqueiral e Coroa do Meio). Segundo a Semasc, a PMA, urbanizando essas três áreas, consegue resolver 55% dos problemas existentes na capital.

Dessas três áreas, em uma já foi sanado o problema das invasões. Entre 2002 e 2006 foram construídas 600 casas para moradores das palafitas e invasão do Apicum. O lugar ganhou praça e áreas de lazer, que, inclusive, já apresentam sinais de depredação, como as quadras que margeiam o mangue.

Já o Coqueiral está com obras para abrir ruas planejadas e construir 600 casas. Os trabalhos foram iniciados no ano passado e devem estar concluídos no ano que vem segundo estimativa da Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan).


Fonte: Jornal da Cidade - Texto: Célia Silva

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