Incrustado no centro do poder da República, numa das extremidades da Esplanada dos Ministérios, o Teatro Nacional Claudio Santoro é referência arquitetônica e cultural de Brasília. Em suas salas já se apresentaram os balés Bolshoi, Kirov e da Ópera de Paris, para ficar apenas em exemplos da dança. Nesta mesma ribalta, na noite de quinta, 14, na Villa-Lobos, a mais requintada das três salas do teatro, a Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) sacramentou sua estreia na capital do país.
Foi a quarta e penúltima apresentação da Turnê Brasil, a primeira excursão de uma orquestra nordestina a se exibir nos principais centros musicais do Sul e Sudeste do Brasil. Depois de Aracaju, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília, a ORSSE segue para São Paulo, onde, no próximo domingo, 17, encerra sua peregrinação cultural.
Embora em andamento e sem uma aferição rematada de suas consequências para a trajetória futura da orquestra, a Turnê Brasil despertou a curiosidade daqueles que apreciam a música erudita. Como, num estado tão pequeno do ainda desigual Nordeste brasileiro, prospera uma orquestra sinfônica? E, agradável surpresa, de qualidade, suficiente para ensejar pedidos de bis e prolongados aplausos em pé?
Repertório eclético
Paulista, de família de músicos e jurisconsultos, o ministro do TST (Tribunal Superior do Trabalho) Ives Gandra da Silva Martins Filho, logo após o espetáculo, em meio às coxias, externou sua surpresa pela qualidade do que acabara de ouvir e ver. Impressiona também a qualidade do repertório, eclético e de difícil execução, atentou Martins Filho, referindo-se sobretudo ao Concerto para Piano e Orquestra Nº 3, do russo Sergei Rachmaninoff, cujo solista, Álvaro Siviero, já se apresentou em Zurique, Nova Iorque, Washington, Boston e Córdoba, entre outros espaços de consagração à cultura.
Ao lado do colega paulista, a quem convidara, o sergipano José Simpliciano Fontes de Faria Fernandes, também detentor de um assento no TST, lisonjeava-se com as referências nativas. Sinto muito orgulho, pontificou. Para o ministro, esse tipo de iniciativa contribui simultaneamente para a projeção da música erudita e do estado de Sergipe.
Patrocínio estatal
No mesmo grupo que discorria sobre o espetáculo que se encerrara, o regente da ORSSE, Guilherme Mannis, lembrava que, entre os músicos, havia muitos sergipanos. Concluíram todos que é possível, sim, produzir música de qualidade fora dos centros culturais do Sul e Sudeste brasileiros. Para isso, no entanto, é necessário o patrocínio estatal, como acontece em Sergipe, onde o Governo do Estado e o Instituto Banese bancam a iniciativa.
Desde 2007, com os investimentos oficiais, a Orquestra Sinfônica de Sergipe renovou-se, ganhando em qualidade, ampliando o acesso à música erudita à população que normalmente não a consome por falta de oportunidade ou de recursos e, ao mesmo tempo, valorizando a produção nacional, como se viu na noite de quinta. Afora Rachmaninoff, o repertório incluiu a brasileiríssima Suíte Nº 1 para Orquestra de Câmara, do carioca Heitor Villa-Lobos, e a indígena Toronubá, do gaúcho Dimitri Cervo.
Prestigiaram igualmente o evento Antonio José de Souza Neto, ou Tonho Grampão, diretor administrativo da ORSSE, e Pedro Lopes, representante do governo de Sergipe em Brasília.
FONTE: JUSBRASILPOLÍTICA